
Vivo há décadas fora da minha terra natal, a nossa Arroio do Meio. A mudança, feita por volta dos 17 anos, teve forte impacto na minha vida. De uma casa cheia de mordomias, passei a viver em uma “república”. Era um velho apartamento, cheio de cupins, dotado de dois dormitórios e compartilhado com sete amigos, todos conterrâneos e conhecidos. Cada quarto era equipado com dois beliches de madeira.
Na casa paterna usufruía de refeições servidas sempre na hora certa, além de roupa lavada e cuidada, bem como um quarto arrumado. Sem falar de contar com o incomparável aconchego da família a cada percalço da vida. Era uma verdadeira “dolce vita”, praticamente sem sobressaltos e onde o único compromisso era obter boas notas e passar de ano. De resto, não havia preocupações mais graves.
Ao mudar para Porto Alegre, as coisas mudaram radicalmente, ao ponto de quase desistir várias vezes. Descobri que morar sozinho significava muito mais que arrumar o próprio quarto, se virar na hora das refeições, batalhar por emprego e cuidar das roupas para trabalhar no dia seguinte.
A liberdade que busquei fora de casa – sonho típico do período de pós-adolescência e início da idade adulta – cobrava um preço muito mais alto. O novo cotidiano exigia disciplina, além do que hoje chamamos de resiliência. Sem falar da atenção permanente para sobreviver aos perigos inerentes da “selva de pedra”.
Equilíbrio e o tempo, sempre, são os melhores
conselheiros em qualquer situação da vida
Hoje volto à terrinha com frequência para rever amigos, antigos afetos e tomar pé da situação do nosso município atingido pelas três enchentes de 2023 e 2024. Fora isso, é uma realidade bastante diferente daquela que deixei para trás na adolescência. A cidade cresceu e a zona urbana já não carece de vários confortos que eram sonhos dos jovens agricultores e familiares.
A tecnologia, fenômeno onipresente nos mais diversos segmentos do dia a dia, levou desenvolvimento e maiores facilidades às populações rurais e das cidades do interior. Sinto saudades de muitas coisas “dos bons tempos”, mas confesso que dificilmente me adaptaria a voltar a viver em uma cidade do interior.
Morar em Porto Alegre cobra um preço significativo. O custo de vida é alto e, como costumo dizer, “botou o pé fora da casa… é gasto garantido”. As recordações da infância somadas às boas experiências da cidade grande me satisfazem. Posso rever velhos parceiros a qualquer momento e usufruir das facilidades de um centro urbano. O equilíbrio, sempre, é o melhor conselheiro.

