
Em uma rápida conversa de boteco com amigos, percebi o esgotamento típico de fim de ano — aquele cansaço que não é só do corpo, mas também da alma. E mais: a tensão pelos momentos duros vividos no planeta. Do morticínio nas favelas cariocas às rusgas diárias do cotidiano. O trânsito agressivo, a intolerância travestida de opinião, os gestos que poderiam pacificar e apenas alimentam os conflitos.
“Perdi o ânimo para celebrar o Natal. E eu gostava muito dessa data”, confessou um dos meus parceiros de happy hour. Outro retrucou: “Mas foi nessa época que fiz as pazes com meu cunhado.” Foi aí que me permiti encarnar o Velho Ari Conselheiro.
Celebrar o Natal em família fortalece os laços afetivos, cria memórias que resistem ao tempo. Queira ou não, é um convite à união, à reflexão — e, principalmente, ao perdão. É a pausa da rotina para reconectar-se com quem importa, resgatar tradições simples como montar a árvore, preparar a ceia, trocar sorrisos e histórias.
Sempre vi o Natal como uma chance de deixar mágoas de lado, de buscar soluções para pequenos conflitos e restaurar a harmonia — seja em casa, seja no trabalho. Mesmo entre não cristãos, há algo universal nesse gesto: o respeito às crenças e o desejo de convivência.
E se nada disso resolver, ainda resta o panetone. Porque ninguém briga comendo esse pão aromático inventado pelos italianos — no máximo discute se o de frutas é melhor que o de chocolate. Mas de boca cheia, espumante servido, o tema é muito bem digerido.

