
Final de ano é tempo de balanço. E um dos piores é o fatídico ajuste de contas que fazemos conosco. Metas esquecidas ou superadas depois de muito sacrifício. Ausência daqueles que não estarão na ceia de Natal. Por doença, falecimento ou outras rupturas que sempre deixam marcas.
Mas é também um tempo de paz, de esperança. O presente ideal, o movimento frenético no comércio, nada disso é pior do que o júri malfeito dos enganos cometidos. Porque, sejamos sinceros, somos juízes severos de nossas próprias mancadas. E sem direito a advogado de defesa.
A verdade é que, lá pelas tantas, percebo que Papai Noel não liga muito para essas nossas planilhas emocionais. Ele aparece de vermelho berrante, risonho, distribuindo HO-HO-HOs como quem diz: “Relaxa, meu filho, ninguém aqui é perfeito”. E talvez esteja aí a única anistia realmente garantida nesta época.
No fim das contas, a gente sobrevive ao caos das compras, ao amigo secreto constrangedor, ao peru seco e até ao calor que insiste em deixar a gente suando na foto da família. O difícil mesmo é sobreviver ao próprio pensamento — esse Papai Noel interno que insiste em descer pela chaminé das culpas.
Mas quer saber? Neste ano, decidi me absolver por antecipação. Papai Noel que me perdoe, mas não vou preencher nenhum relatório existencial. Se ele quiser me trazer alguma coisa, que traga leveza. E, se puder, uma paciência nova em folha. O resto eu resolvo no improviso — como sempre fiz.
Porque, entrando dezembro, a gente entende que o melhor presente é a chance de tentar de novo… mesmo sem garantir que dessa vez vai dar certo.
E está tudo bem!

