Há algumas décadas quem mora na área central ou, onde a vista alcança a torre da igreja de Marques de Souza, anda sempre no horário certo.
Sinos e relógios de torres e edifícios públicos são sistemas complexos que marcam a passagem do tempo, importantes para a comunicação da comunidade, combinam tradição, tecnologia e arquitetura, anunciando horas, eventos religiosos, fúnebres e cívicos. Talvez poucos saibam que muitos dos relógios instalados em torres de igrejas pelo Brasil foram fabricados por uma empresa que existiu no Vale do Taquari, na década de 1920.
Empresa SCHWERTNER, localizada na cidade de Estrela, única fábrica de relógios públicos e de igrejas da América Latina, especializada em relógios monumentais para igrejas e praças. Fundada em 1924, por Bruno Schwertner e filhos (teve 14 filhos) focada em relógios de torre, a produção cessou em 1952 após a morte do seu fundador, quando findou também a empresa familiar. Porém seus trabalhos continuam marcando o tempo em várias cidades, com o legado deixado pela família.
No município de Marques de Souza, o relógio instalado na torre da Igreja IECLB, na área central, foi fabricado por esta indústria e hoje, a pontualidade “britânica” tem um responsável, Dauri Dilso Klein, 70 anos.
Empresário do ramo moveleiro e proprietário da Ótica e Joalheria Libra, Klein há anos, cumpre a missão voluntária de manter o relógio da torre, sempre “certo”. É chamado para prestar os mesmos serviços em relógios instalados nas torres de mais de 100 igrejas espalhadas pelos estados do RS, SC, PR e arredores.
Guido Schwertner, filho mais novo de Bruno, foi o único técnico remanescente da família estrelense fabricante de relógios e era o único técnico em âmbito sul brasileiro. Quase não existiam técnicos. Após o fechamento da empresa familiar, continuou dando assistência aos relógios.
Segundo Dauri Klein, Guido Schwertner trabalhou até os 78 anos, já não subia nas torres para regular ou consertar, e nem dirigia automóvel, não podia continuar, muitos destes relógios tem seu mecanismo no lado externo da torre, necessitando de rapel e até guindaste para realizar o conserto, geralmente nas alturas. Logo, muitas igrejas passaram a ficar com os relógios parados por anos, quando apresentavam problemas.
Sem técnico para consertar o relógio da igreja, Marques de Souza ficou aproximadamente cinco anos com o relógio parado no tempo… quando então Dauri, que consertava relógios de pulso, bolso e alguns de parede, examinou-o.
Assim, desde 1998, o relógio da torre segue contando com exatidão os minutos e horas da localidade onde Dauri nasceu, Marques de Souza, localizada as margens da BR-386. O sino com suas badaladas de trinta em trinta minutos, ecoam longe. Daiane Wenz, recepcionista do hospital de Marques, reside na Linha Atálio, de onde não é possível ouvir os sinos “mas aqui do hospital ouço ele, é muito legal”, afirmou a jovem de 18 anos.
Ao tomar conhecimento que o relógio de Marques havia sido consertado, o próprio Guido Schwertner que ainda atendia ligações telefônicas com pedidos insistentes de várias cidades brasileiras… passou a indicá-lo.
Dauri vem realizando este trabalho e está ciente de que não existem outras pessoas que façam tal serviço, consertem e regulem estes mecanismos gigantescos. Não quer que na medida que os relógios apresentem problemas virem um adorno no alto das torres, deteriorando-se pela ação do tempo e vem há algum tempo preparando um profissional, engenheiro elétrico, que já cuida de alguns relógios próximos da cidade na qual reside.
Dauri Klein lembra que poucos relógios são iguais. Os mecanismos mudavam de acordo com o fabricante e algumas igrejas têm inclusive duas torres, às vezes, dois, quatro e até oito relógios, muitos destes vem sendo automatizados, o que torna mais fácil a manutenção e conserto dos mesmos.



