Uma missão brasileira está desde segunda-feira na Rússia, para tentar derrubar a barreira comercial imposta pelo país e em vigor desde o dia 15 de junho. O embargo à carne suína já provocou um rebuliço na produção, fazendo os preços despencarem de R$ 2,50, preço que já era considerado baixo porque não representa 10% do preço da saca de milho – considerado preço ideal, para ínfimos R$ 1,70 o quilo da carne. A Rússia é o principal cliente brasileiro, responsável por 39,23% das exportações de carne suína. Nos cinco primeiros meses deste ano, o Brasil vendeu 84 mil toneladas para os russos.
O embargo atingiu 85 frigoríficos localizados no Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, sob a alegação de que o Brasil não estaria inspecionando os abates como deveria. Como reação positiva, a presidente Dilma Rousseff já divulgou a liberação de R$ 50 milhões para um plano de atualização dos laboratórios de exames de qualidade da carne exportada.
A expectativa é de que aconteça a retomada das exportações e que os preços se normalizem. Uma reação em cadeia está fazendo alguns suinocultores optarem novamente pelo fim da produção com o abate de matrizes, a exemplo do que já ocorreu em épocas passadas.
Suíno: histórico de preços nada compensadores
Em Arroio do Meio, ainda resistem pouco mais de meia dúzia de suinocultores não integrados e que trabalham por conta. Eles, que são indiretamente os mais afetados pelo embargo russo, possuem entre 50 a 170 suínos na engorda e adquirem os leitões de um número de fornecedores ainda menor. Para baratear custos, alguns adquirem os insumos básicos e fazem a própria ração. Os galpões não recebem os investimentos exigidos pelas integradoras, mas seus suínos sempre tiveram boa saída entre os frigoríficos inspecionados.
Em momento algum da história destes suinocultores, o preço da carne atingiu um valor tão irrisório. Mas como têm compromisso com os produtores de leitões, que também dependem da atividade, estão resistindo. Um deles é Valmir Roveda, 41 anos, morador da localidade de São José, Palmas. Há oito anos no ramo de produzir o ciclo completo de suínos, diz que o momento é crucial. Ele mantém em média 160 animais na engorda. Esta semana ainda mantinha mais de 50 animais prontos para o abate, pesando 100 quilos, em média. Outro produtor é Marino Rohr, de São Caetano, que enfrenta as mesmas dificuldades de comercialização dos suínos, alguns pesando mais de 150 quilos. “Jamais na história aconteceu de ter que oferecer os suínos a um valor tão abaixo da média, cerca de R$ 1,70 o quilo vivo e ainda dar prazo para pagamento, para se ver livre dos animais”, diz Marino. “Se parar, acaba com a atividade da família e quebra a cadeia de produção e, continuar pelos próximos quatro meses é um tiro no pé”, avalia Valmir. A engorda de suínos leva, em média, cinco meses de trabalho e o custo de produção não baixa de R$ 2,50 o quilo.
Valmir é um produtor que mantém distância de empréstimos e chama atenção para a crise que novamente se instalou no setor suinícola: “quem tem financiamentos com galpões novos ou fez adaptações vai sofrer para pagar os investimentos porque as empresas não dão garantia do negócio. Produzir neste país é correr um risco que, às vezes, não tem volta. Ainda não existe um mecanismo que protege os produtores na hora do financiamento”, lamenta Roveda.
Com o mercado interno abastecido de carne suína e a um preço bem abaixo para desovar os estoques, o setor deve demorar para se regularizar, mesmo vencendo o embargo e voltando a exportar para a Rússia. Os produtores mantêm esperanças de que o aumento do consumo nos dois últimos meses do ano possa equilibrar e normalizar a situação.
Rússia: 70% dos embarques de carne suína são do RS
Os diretores da Cooperativa dos Suinocultores de Encantado (Cosuel), que completou 64 anos de existência no último dia 15 de junho, estão confiantes no encaminhamento para a solução do impasse com as exportações para a Rússia, que é o principal importador de carne suína (70% dos embarques brasileiros são oriundos do RS). O diretor-superintendente Carlos Alberto Freitas Figueiredo afirmou em recente entrevista que quando isso ocorre é preciso dispor de uma estratégia de redirecionamento da produção e isto envolve outros mercados internacionais, mesmo que em volumes menores, como também o mercado interno. A Cosuel exporta para a Rússia , que sempre foi um grande mercado de exportação, também para Hong Kong, África do Sul, Angola, países do Leste Europeu, Argentina e Uruguai.
O embargo atinge 35 frigoríficos em 25 municípios do RS. A perda mensal chega a R$ 72,6 milhões. O Brasil exporta muito para a Ucrânia e Hong Kong. Para não ficar refém destes mercados, líderes cobram do governo federal uma política de estoque de carne e milho e que principalmente fomente o consumo interno.