Ao final do ano letivo, alguns alunos estão tranquilos, pois aproveitaram bem os conteúdos ensinados, outros correm atrás para recuperar as notas baixas e evitar a reprovação. A concepção do termo reprovação está associada à rejeição e incapacidade, tema delicado que angustia alunos, professores e familiares.
Mas, na opinião da psicóloga Maria Angélica Hartmann Gräff, poderia ser entendida de outra maneira: como forma de reaproveitamento, reaproximação de si mesmo para reaprender ou aprender melhor, reflexão sobre as causas dessa reprovação, reforço positivo para repensar e tomar melhores decisões para o outro ano.
Preferindo não entrar no mérito dos problemas e dificuldades de aprendizagens, déficits de atenção, hiperatividade, retardos mentais, que realmente necessitam de atendimento especializado por parte das escolas, educadores, famílias, medicina e psicologia, mas sim dos alunos considerados “aptos” para aprender, ela afirma que a reprovação deve ser entendida sob um olhar mais amplo no que se refere aos fatores que geraram a necessidade de repetir o ano. Muitas mudanças nas legislações escolares aconteceram e ainda estão em processo de implantação como a inclusão escolar e a não reprovação de alunos até o terceiro ano do Ensino Fundamental. Temas bastante discutidos por diversos profissionais ligados à área do ensino. Alguns discordam, sob o argumento de que é necessário ter um mínimo de aprendizado para seguir adiante, outros concordam com a aprovação automática, argumentando que a reprovação é um estímulo para a evasão escolar.
Divergências à parte, a profissional destaca que se deve pensar que o processo de ensino “não é apenas decorar os conteúdos aplicados em aula e, sim, realmente aprender o significados dos conteúdos dentro da realidade, o que isso significa para o futuro das crianças e do mundo, ou seja, dar significado aos conteúdos de maneira prática. O aprendizado está diretamente relacionado ao afeto e ao estímulo.” O primeiro lugar que a criança percebe e sente isso é em casa, com as figuras que representam essa segurança, sejam pais ou responsáveis. A escola é o lugar onde se aplica isso, ou seja, o lugar que a criança leva o desejo de aprender, de respeitar limites e regras, de pensar, descobrir, interagir, dividir, se socializar. Os professores (aqueles que conseguem resistir às pressões políticas, salariais e culturais) são os “guias”, representam essa continuidade de crescimento.
Mas quando nada disso funciona e a reprovação é necessária, é hora de todos envolvidos neste processo ( uma vez que educação é um conceito muito amplo e extenso) permitir um momento de reflexão com alunos, pais e escola: “Aprovar apenas para não ouvir desaforos descabidos de pais e alunos e reprimendas de suas secretarias não é ser mestre, ser exemplo de perseverança e de educador, é ser um ‘alguém’ que não vai fazer diferença na vida de ninguém, nem dele mesmo enquanto mestre e profissional da educação! Não basta apenas frequentar a escola para receber benefícios do governo (famílias e escolas), é preciso gostar de estar na escola, de aprender, de ensinar, de vibrar com as conquistas e de acolher as derrotas, afinal, elas fazem parte da vida. Ensinar é também aprender que nem tudo podemos, e nem tudo sabemos fazer, é aprender a lidar com as frustrações e nelas buscar estímulo para recomeçar. Ser apenas aprovado, penso que é de certa forma um desestímulo à perseverança, ao recomeçar para fazer melhor. Lidar com as frustrações faz parte do processo de aprendizagem.”
Como ver a reprovação
A reprovação deve ser um momento de reflexão, das atitudes da família e da escola como coparticipantes desse processo, fazendo com que a família reflita quantas vezes acompanhou seu filho na realização das tarefas escolares, conferiu cadernos e agenda, foi à escola conversar com os professores e realmente os ouviu com atenção e não somente com o pensamento de crítica negativa.
Em alguns casos, a criança pode estar vivenciando um momento de baixa autoestima, separação dos pais, troca de escola com “perda” de colegas ou de professores que serviam de referência ou algum luto. Esses fatores precisam ser avaliados e compreendidos pelos pais, educadores, escola e alunos. Por isso o diálogo com seu filho vai ajudá-lo a encarar a reprovação como uma superação, fazer do próximo ano um ano diferente, com regras mais claras, horários para estudar, maior participação dos pais no ensino.
Aprovação x presentes
Jamais ofereça presentes em troca da aprovação! Maria Angélica argumenta, que estudar deve ser visto como um ato de prazer, de vitória, de alegria, de poder fazer mais, de estar melhor preparado para o futuro. O presente é ser aprovado, pois mereceu, é o resultado de esforço pessoal. Castigos também não são adequados, pois podem representar no entendimento do aluno que a escola é ruim, punitiva. Diálogo, muito diálogo e mudanças verdadeiras na família, no fazer, na organização com certeza farão a diferença no próximo ano. E, por fim, sempre ter em mente que a escola ensina, quem educa são os pais ou responsáveis por esta tarefa importantíssima. Que pais e escola devem ser parceiros no processo de aprendizagem e não opositores, ou um delegando funções suas ao outro.
