O resultado surpreendeu e preocupou a nutricionista Carla Holz, da Prefeitura de Travesseiro, que afirmou: “Apesar de sabermos que no Brasil a maior parte dos alimentos produzidos recebem agrotóxicos, nunca pensamos que poderia ser tanto, os dados são, realmente, alarmantes. Principalmente porque sabemos que o consumo de agrotóxicos provoca várias doenças crônicas não transmissíveis, pois são ingredientes com um elevado grau de toxicidade comprovada e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação endócrina e até câncer, por isso, também é considerado um problema de saúde pública”, adverte.
Segundo os dados da Anvisa, o problema maior não está na fiscalização e, sim, na falta de informação dos produtores, pois eles estão usando os produtos agrotóxicos não autorizados para a cultura e em desacordo com as informações presentes nos rótulos e bulas dos produtos. Esses alimentos podem ser encontrados facilmente no prato do brasileiro e muitas vezes são consumidos com o objetivo de ganhar saúde, alerta a nutricionista: “ Muitas vezes pensamos que estamos nos alimentando de uma forma mais saudável comendo bastantes frutas e verduras, mas devemos estar conscientes que isso nem sempre é uma verdade, principalmente se desconhecemos a origem destes alimentos.”
Para evitar a contaminação por agrotóxicos, Carla afirma que o ideal é consumir produtos orgânicos. Mas como isso nem sempre é possível, ela aconselha os seguintes procedimentos:
– Optar por produtos de origem identificada, de preferência orgânica (que não utilizam produtos químicos para serem produzidos). Essa identificação aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com adoção de boas práticas agrícolas
– Escolher sempre alimentos da época ou produzidos por métodos de produção integrada (que a princípio recebem carga menor de agrotóxico)
– Os supermercados também têm um papel fundamental nesse processo, no sentido de rastrear, identificar e só comprar produtos de fornecedores que efetivamente adotem boas práticas agrícolas na produção de alimentos
– Em casa, primeiro colocar tudo em sacos plásticos e levar para resfriar na geladeira por duas horas, para evitar o fenômeno up take (se colocar as frutas e hortaliças na água na mesma temperatura, o fenômeno possibilita que o produto absorva água, com isso, os agrotóxicos que estão na sua superfície passarão a contaminar também o interior do produto). Retirar da geladeira, lavar em água corrente, depois colocar de molho em uma solução com 1 colher de sopa de água sanitária para cada litro de água, deixar de molho por 5 minutos e enxaguar novamente. Assim está pronto para o consumo. Após esse processo, o produto pode, sim, ser armazenado para consumo posterior ou ser consumido imediatamente, conforme a situação.
Alguns índices apontados pela pesquisa:
* Pimentão, morango e pepino lideram o ranking dos alimentos com o maior número de amostras contaminadas por agrotóxico. Mais de 90% das amostras de pimentão analisadas pelo apresentaram problemas. No caso do morango e do pepino, o percentual de amostras irregulares foi de 63% e 58%, respectivamente. Os dois problemas detectados na análise das amostras foram: teores de resíduos de agrotóxicos acima do permitido e o uso de agrotóxicos não autorizados para estas culturas.
* Alface e cenoura também apresentaram elevados índices de contaminação por agrotóxicos. Em 55% das amostras de alface foram encontradas irregularidades. Já na cenoura, o índice foi de 50%. Na beterraba, no abacaxi, na couve e no mamão foram verificadas irregularidades em cerca de 30% das amostras analisadas.