Do diagnóstico correto ao tratamento, conheça um pouco mais sobre a acupuntura com Anderson Weber Bocca, acupunturista com consultório em Arroio do Meio.
AT – No seu entendimento, o que ainda é preciso dizer sobre a acupuntura no sentido de esclarecer seus reais benefícios no tratamento de doenças?
Acupunturista Anderson Weber Bocca – Apesar de a acupuntura ter mais de 5000 anos, ela ainda é vista com alguma desconfiança, sem falar no medo das agulhas. Este ponto está muito ligado ao nosso meio cultural, que vê a agulha como motivo de sofrimento devido às vacinas que fazemos na infância e que alguns adultos usam para tentar controlar seus filhos. Isso leva a uma situação traumatizante, pois acham que o uso das agulhas trará a mesma sensação de múltiplas injeções, o que não tem nenhuma relação. As agulhas da acupuntura têm a espessura de um fio de cabelo e as principais sensações são de aperto ou até um leve choque, ou somente uma leve fincada, semelhante a uma picada de mosquito.
Além disso, ainda há muito a desvendar nesta técnica. Atualmente ainda vemos acupunturistas falarem na manipulação da energia que corre nos meridianos e nos seus respectivos pontos, o que na realidade não ocorre. Estes termos foram usados pelos primeiros autores que estavam tentando dar uma explicação para algo que ainda não se entendia muito bem. Desta forma, este e outros termos inadequados acabaram por se disseminar como uma verdade. No início eles foram aceitos, mas os estudos mostraram que a “energia” em questão é, na realidade, os nossos próprios hormônios, anti-inflamatórios, antidepressivos naturais como a serotonina, que são liberados quando estimulamos determinados pontos do corpo, que são os pontos de acupuntura. Seria como uma tomada de luz, que acende a lâmpada quando é ligado o interruptor. Quando está ligada, a luz aparece devido a um estímulo, que é o que as agulhas fazem. Portanto nos nossos dias não se admite mais que alguém use termos de 100 anos atrás.
Para complementar a acupuntura, existem outras técnicas que podem ser associadas como a moxabustão (bastão de uma erva chamada artemísia) que ao ser queimada é aplicada no local do ponto, apenas aproximando-o da pele; a eletroacupuntura que é uma técnica em que se usam eletrodos (semelhantes aos usados no eletrocardiograma) que aperfeiçoou e ampliou os efeitos da acupuntura através de estímulos elétricos indolores; ventosas; o uso de técnicas especiais em microáreas como a cabeça e a orelha, sendo esta a mais conhecida, e assim por diante.
AT – Em que medida é importante que o profissional esteja habilitado e não só saiba como fazer a acupuntura de maneira correta e segura, mas também seja capaz de diagnosticar o problema do paciente e só então indicar o tratamento adequado?
Anderson – Esta situação é fundamental para o sucesso de qualquer tratamento. Mesmo em outras áreas, se não for feito um diagnóstico adequado por um médico, não há como alcançar os resultados desejados. A acupuntura tem uma característica própria que é o diagnóstico chamado de sindrômico. Nesta avaliação é feito um diagnóstico sobre as alterações que são passíveis de tratamento pela acupuntura. Apesar desta avaliação ser importante e ainda ser utilizada, não devemos nos ater somente a esta forma. Na época em que este modelo foi desenvolvido, era o mais avançado que existia. Ainda não existiam sequer exames laboratoriais. Portanto, quem realmente pretende alcançar bons resultados e até conseguir a cura para o seu problema deve pensar bem em primeiro ter uma avaliação médica tradicional ocidental, ou seja, exames laboratoriais (sangue, urina,…) ou de imagem (RX, ecografia…), prévia para se obter a segurança de um trabalho bem feito. Não se descarta o diagnóstico sindrômico, mas, isoladamente, não é suficiente para o tratamento correto das doenças em questão.
AT – Quais as implicações/consequências de um tratamento que apenas trate dos sintomas, sem investigar a doença em si? Quanto em média dura um tratamento?
Anderson – Como já comentado brevemente acima, qualquer tratamento sem uma investigação adequada pode trazer prejuízos irreversíveis ao paciente. Por exemplo: a acupuntura é uma técnica muito boa para o tratamento de dor em geral. A dor é somente um sintoma e, portanto, deve ser muito bem investigada. Esta pode ser a manifestação inicial de um câncer. Desta forma, se for iniciado o tratamento para dor sem uma investigação, poderemos estar escondendo uma doença grave, o que seria um erro inadmissível por parte do acupunturista, sem falar que esta forma de abordagem não é mais admitida nos nossos dias.
O tratamento é individualizado. Cada pessoa vai ser tratada conforme a sua doença, mas o tempo das sessões pode variar de 20 minutos a 1 hora, mas sempre avaliando a situação individual.
AT – De uma maneira geral, a acupuntura pode tratar desde doenças de ordem fisiológica como psicológica, correto? Cite algumas de cada área?
Anderson – Correto, mas sempre devemos lembrar que temos doenças que podemos tratar somente com a acupuntura e outras não. Atualmente, a melhor indicação é fazer uma associação entre as técnicas, pois o resultado geralmente é melhor. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem diversas patologias que podem ser tratadas pela acupuntura, porém, a escola oriental relata que já existem mais de 300 doenças que podem ser tratadas.
Lista de indicações da acupuntura pela OMS publicada pela revista A saúde do mundo, em dezembro de 1979:
Doenças do trato respiratório: sinusite aguda, rinite aguda, resfriado comum, amigdalite aguda.
Afecções broncopulmonares: bronquite aguda, asma brônquica.
Doenças oftalmológicas: conjuntivite aguda, retinite central, miopia (em crianças), catarata (sem complicações).
Distúrbios da cavidade bucal: odontalgia, dor pós-extração dental, gengivites, faringites agudas e crônicas.
Distúrbios gastrointestinais: espasmos do esôfago e cárdia, soluços, gastroptose, gastrite aguda e crônica, hiperacidez gástrica, úlcera duodenal crônica, colites agudas e crônicas, disenteria bacteriana aguda, constipação, diarreia, íleo paralítico.
Distúrbios ortopédicos e neurológicos: cefaleias, enxaqueca, neuralgia do trigêmeo, paralisia facial, paralisia pós-AVC, neuropatia periférica, paralisia causada por poliomielite, síndrome de Menière (vertigem), disfunção neurogênica da bexiga urinária, enurese noturna, neuralgia intercostal, periartrite escapulo-umeral, epicondilite lateral (tennis elbow), ciática, lombalgia (dor na coluna lombar), artrite reumatoide.
Vale ressaltar que nesta lista estão distúrbios e enfermidades para as quais se tem comprovação científica da eficácia do tratamento pelo método, mas não são necessariamente as únicas doenças tratáveis pela acupuntura, como no uso para estética.
AT – Que cuidados devem ser observados pelo paciente que procura por um acupunturista? Quais os principais aspectos que denotam a seriedade e competência desse profissional?
Anderson – Em primeiro lugar é importante saber onde este profissional fez a sua formação e saber sobre o reconhecimento deste curso nos meios profissionais e de ensino. Verificar se usa agulhas descartáveis, pois atualmente não se reutilizam agulhas devido ao risco de transmissão de doenças como AIDS e hepatite. Mesmo que o próprio paciente as reutilize, a qualidade do material vai se deteriorando, pois ele foi feito para ser usado somente uma vez. Então esta é uma prática que não se usa mais.
Observar se o profissional faz uma avaliação completa com história, exame físico, exames, se for o caso, se explica o tratamento e sua duração, se as instalações são adequadas, se o profissional possui registro no conselho profissional e assim por diante. Também é muito importante observar a melhora que está ocorrendo e se o tratamento não é demasiadamente longo, pois às vezes alguns profissionais, se não fizerem a abordagem adequada, não terão bons resultados. Certamente existem doenças crônicas, incuráveis, mas pode-se melhorar a qualidade de vida destas pessoas. Neste ponto sempre é importante termos cuidado em relação ao diagnóstico bem feito. Às vezes precisamos de uma segunda opinião.
AT – Qual o real trabalho desenvolvido pelas agulhas durante a prática da acupuntura?
Anderson – Este ponto é muito interessante. Muitas pessoas quando começam a melhorar, acham que se usa remédio nas agulhas. Com certeza isto nunca irá ocorrer. Como citei na primeira pergunta, o estímulo nos pontos de acupuntura, que são os locais da pele com maior quantidade de terminações nervosas, acabam por provocar um estímulo local que será conduzido até o cérebro. Este estímulo será interpretado e dará uma resposta compatível com o local que foi estimulado. Conforme a combinação dos pontos, o corpo libera uma série de substâncias da nossa “farmácia” interna, por assim dizer, que passam para a circulação sanguínea, fazendo não só o tratamento esperado, como uma regulação geral do corpo. Desta forma, o paciente se sente relaxado, com uma certa sonolência após alguns minutos de tratamento, sem falar na melhora progressiva, que irá ser acentuada à medida que o tratamento for sendo repetido. Dependendo da qualidade e da frequência com que a terapêutica é realizada, a duração do efeito terapêutico poderá durar vários meses, devendo então ser repetido regularmente para manter a resposta obtida no tratamento inicial.