A precipitação pluviométrica acumulada em março e nos primeiros 17 dias de abril é considerada menos da metade do necessário para esse período. El Niña, fenômeno responsável pela irregularidade das chuvas na região, deve neutralizar-se até junho
A falta de chuvas registrada na região atinge novamente a produção rural arroio-meense. Segundo estimativas da secretaria de Agricultura do município, a colheita de milho está sendo a cultura mais afetada pela irregularidade das precipitações, seguida pela soja e cadeia leiteira. “Não é só o colono que perde, todo mundo perde, pois os produtos ficarão mais caros no supermercado,” destaca o secretário da Agricultura de Arroio do Meio, Valmir Antônio Rauber.
No final de dezembro de 2011, Arroio do Meio decretou situação de emergência, devido às perdas na produção rural e escassez de água superficial. Os recursos ainda não foram recebidos, informa o secretário da Agricultura, mas a Administração Municipal os aguarda para investi-los em programas voltados ao setor rural.
Prejuízos na agricultura
Na cultura de milho, houve quebra de cerca de 70% da produção, de acordo com levantamento realizado no começo do ano. O produtor rural do bairro Rui Barbosa, Ivo Hammes, foi um dos agricultores mais afetados. Ele plantou cerca de 40 hectares de milho, sendo que sua produtividade foi de apenas 15%. “Tive que fazer silagem para conseguir vender e recuperar um pouco dos gastos,” relata. Os prejuízos na propriedade só não se tornaram impagáveis graças ao seguro do Proagro. “A esperança é que ano que vem a colheita seja melhor,” espera o agricultor.
Outra quebra significativa foi registrada nas lavouras de soja. De acordo com a secretaria da Agricultura, em média, os produtores arroio-meenses colheram 30 sacas por hectare, quando a expectativa seria produzir mais de 50. “Há casos de pelo menos três colonos que colheram menos de 10 sacas por hectare,” acrescenta Rauber. Vale destacar que para se quitar as dívidas com a plantação é necessário colher 14 sacas de soja por hectare.
Na cadeia leiteira, a produção diminuiu cerca de 30% nos mêses de março e abril, afirma o leiteiro Valdir Petry. Na propriedade da família Hüther, a situação era crítica. De acordo com Cristiano, foram produzidos cerca de 100 litros de leite diários a menos nos primeiros meses de 2012. “A pastagem virou inço,” diz o produtor Etholdo. “Sem o pasto bom, precisamos pôr mais ração e daí o lucro vai lá para baixo,” conclui. Com tantas perdas na agricultura, há a necessidade de se pensar alternativas para enfrentar as secas futuras. Uma delas, segundo o secretário Rauber, seria a utilização da irrigação, porém os custos de instalação são altos, além de haver a necessidade do aval da secretaria do Meio Ambiente. Outra medida que pode ser adotada é o uso de cisternas, reservatórios utilizados para recolher a água da chuva em períodos de precipitações abundantes.
Prejuízos no Estado chegam a R$ cinco bilhões – Em março, a Federação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul divulgou um estudo revelando os impactos da estiagem na economia estadual. De acordo com a pesquisa, a baixa produção de grãos resultará em queda do Produto Interno Bruto (PIB). O percentual de 2012 deve ficar abaixo do indicador nacional. Segundo levantamento feito pela Emater do Rio Grande do Sul, as perdas no Estado chegam a R$ 5,1 bilhões em abril. Os prejuízos maiores foram registrados nas culturas de arroz, milho, soja e feijão.
Fenômeno El Niña é responsável pela irregularidade das chuvas – Os dados do Centro de Informações Hidrometeorológicas da Univates (CIH) confirmam o que pode ser percebido na prática. As chuvas registradas nos últimos meses não foram suficientes para as produções rurais e para os leitos dos rios.
De acordo com as medições da estação localizada no campus da Univates, a precipitação pluviométrica acumulada de março e dos primeiros 17 dias de abril alcançou apenas 119,4 milímetros. O ideal para esse período seria 230 milímetros, quase o dobro.
Em comparação com a precipitação pluviométrica acumulada registrada em 2011, a diferença é ainda maior. Em março e abril do ano passado, choveu 487,1 milímetros, quatro vezes mais que neste ano.
O fenômeno La Niña é apontado pelo CIH como causador das irregularidades das precipitações na região. Ele interfere no regime de chuvas, por isso há períodos com carência – caso de março e abril – e meses onde há precipitações acima do normal, como em fevereiro, quando choveu 165,4 milímetros – o esperado era 130 milímetros.
A coordenação do CIH avalia que o fenômeno está em fase de enfraquecimento e a tendência é de um período de neutralidade nos próximos meses, sendo que até junho a média de chuvas deverá ficar próxima ou dentro da normalidade.