Reproduzimos para reflexão e debate o artigo de opinião publicado na Zero Hora de domingo. Trata-se de um alerta sobre a situação da leitura em nosso país. No momento em que se chega a conclusão que mudanças no Brasil passam necessariamente pela educação, vale a pena conferir.
“Quando classificou o Brasil de país de não leitores, o articulista do Le Monde Diplomatique Lucas Murtinho sequer conhecia o resultado da terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência e divulgada quarta-feira. O estudo, feito com 5 mil pessoas em 315 municípios do país, confirma os piores vaticínios: de 2007 para cá, o índice de leitura caiu de 4,7 livros por pessoa para quatro títulos. O número de leitores caiu de 95,6 milhões há cinco anos para 88,2 milhões no ano passado – uma queda de 9,1% no universo de leitores ao mesmo tempo em que a população cresceu 2,9% no período. Se o analfabetismo diminuiu, o acesso à escola se tornou universal e o governo investe cada vez mais na compra e na distribuição de livros para escolas e bibliotecas, por que estamos lendo tão pouco? Talvez não exista uma resposta simples para esta questão, mas a comparação com outros países, inclusive sul-americanos, evidencia o desapreço cultural dos brasileiros pela leitura. E não há dúvida de que a leitura transforma. O ato de ler é um processo de entendimento do mundo por meio da palavra, que é o instrumento de interação entre os homens. A leitura do mundo precede a leitura das palavras, mas é a conjugação de letras que dá significado às coisas. Por isso, é decisiva a leitura crítica, que percebe a relação entre texto e contexto. Um leitor crítico é mais do que um decifrador de signos – é alguém capaz de captar sentidos e utilizá-los em seu próprio benefício e da sociedade. Não nos faltam livros, nem oportunidade para lê-los. Falta-nos o interesse pela leitura. Falta-nos a visão de que ler é importante, falta-nos a convicção de que ler transforma as pessoas em seres humanos melhores e capacitados para entender o mundo.”