Nesta semana publicamos neste espaço o editorial da Zero Hora de segunda-feira. Acreditamos ser oportuno em razão de estarmos às vésperas de mais uma eleição. Serve para reflexão.
“A reafirmação, por diferentes pesquisas, de que eleitores pouco conhecem e confiam nos partidos em atividade chama a atenção para a falta de consistência da prática política e da democracia. A questão é agravada pelo fato de que, em vez de significar uma saudável diversidade, o excesso de agremiações deve ser explicado, na maioria das vezes, por interesses particulares. Por isso, os resultados das enquetes deveriam motivar a cobrança por uma reforma política ampla e decidida a imprimir mais seriedade no cotidiano da política. Recém divulgado, o levantamento da Fundação Getúlio Vargas demonstra que nada menos de 94% dos entrevistados encaram os partidos com desconfiança. Estudo publicado pelo Vox Populi revela que 60% dos entrevistados não têm simpatia por alguma legenda. Os percentuais são previsíveis para uma democracia recente e num cenário marcado por sucessivas rupturas. O resultado é que, além das quase três dezenas de legendas existentes hoje, há uma fila à espera da concessão de registro pela Justiça Eleitoral. No papel, quase todas têm por objetivo defender causas específicas. E, entre esses, estão quase sempre as verbas dos fundos partidários, além do direito de conquistar espaço de propaganda partidária. Não raramente, os próximos passos são negociações oportunistas em alianças de ocasião. Tudo isso contribui para mercantilizar a política e se constitui numa porta aberta para deformações de todo tipo. Obviamente, o que está em questão não é o direito de os partidos existirem. Todas as legendas hoje consolidadas surgiram de forma incipiente, embora algumas tenham se consolidado com base em conteúdos programáticos definidos. Até mesmo para preservar os partidos sérios, os eleitores deveriam pressionar mais para a aprovação de uma reforma que redirecione a política para os interesses do bem comum, com ênfase em legendas programáticas e representativas.”