Travesseiro – Os resultados do primeiro ano do programa Produção Integrada de Sistemas Agropecuários (Pisa) motivaram a Administração Municipal em aderir a iniciativa por mais três anos. Focado na cadeia leiteira, a média de produção anual aumentou cerca de 21%.
São 20 propriedades rurais que integram o grupo travesseirense, formatado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e realizado por diversas entidades, como Emater, Sebrae, Serviço de Inteligência ao Agronegócio (SAI), e o programa Juntos para Competir.
O programa foi implantado há um ano no município e os índices são comemorados pelos produtores. Alexandre Becker, 42, foi o anfitrião do evento que selou a continuidade para os próximos três anos. Morador de Picada Felipe Essig, viu a média subir de 22 litros para 25 litros diários por animal, 13,6% em 12 meses.
Para ele, o índice só foi atingido devido ao acompanhamento técnico promovido pelo Pisa, por meio do SAI, que executa o programa no Estado. “Eles nos ensinaram a mudar o manejo do solo para fazer uma boa pastagem e mudamos os horários das ordenhas”, conta, orgulhoso.
Com as alterações no modelo, a redução dos custos foi de quase 31%. Ele diminuiu a produção de silagem e a mistura de ração no alimento do rebanho. Rogério Meyer, da localidade de Três Saltos, também comemora. Cada vaca produz, hoje, uma média de 20,5 litros diários, ante 16 litros registrados em 2011 – incremento de 28,1%.
Meyer aponta um melhor aproveitamento das pastagens como um fator para a economia dos produtores. “Antes eu tinha cinco hectares de silagem plantados e me faltava. Nesse ano, plantei os mesmos cinco hectares, mas tenho quatro sobrando.”
Conforme o gerente de projetos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Lajeado, Valmor Mantelli, este é o propósito do programa. Outro fator importante é a redução do gás carbônico – que provoca o efeito estufa e amplia os efeitos da estiagem. Com a pastagem melhor usada, os nutrientes são devolvidos ao solo e contribuem com o ambiente.
Resultados melhores em quatro anos
O professor de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Carvalho, que dá suporte técnico ao Pisa, afirma que os resultados serão mais promissores entre dois e três anos. Lembra do caso da Granja Ortiz, de São Nicolau (nas Missões), onde o programa fez o primeiro teste.
“Quando o proprietário veio comemorar o aumento da produção, nós dissemos para ele esperar mais um pouco para ver que seria muito melhor.” O reflexo ao trabalho feito pelos componentes da iniciativa – Ufrgs, UFPR, Sebrae, Emater, SIA e Mapa – foram vistos durante a estiagem.
Enquanto os vizinhos da Granja Ortiz sofriam com a seca, a propriedade era a única em que as pastagens continuavam verdes, sem prejuízos à produção leiteira. Proprietário da SIA, Davi Teixeira reforça a informação de Carvalho. “Este é só o início do nosso trabalho, porque a intervenção técnica tem um período para realmente começar a dar resultados.”
Entre os desafios a serem superados, está a melhora da gestão das propriedades, da higiene dos estábulos e implantar sistemas de irrigação nas pastagens. Recorda que esse tipo de trabalho gera um investimento alto. As visitas às propriedades são mensais e duram, em média, quatro horas.
São tratados temas como sanidade animal, melhor forma de manejar o solo, como trabalharem as pastagens e planejamento produtivo. “Temos que pensar que as dietas elaboradas hoje são projetadas para os próximos dois, três meses.”
Ampliação regional
Travesseiro foi o primeiro município a aderir ao Pisa no Vale do Taquari. As conversações se iniciaram no fim de 2010, quando o prefeito Ricardo Rockenbach entrou em contato com o Sebrae para pedir mais informações. A produção leiteira é a maior atividade econômica rural, com quase 70% do total.
Mais de um ano se passou até que o programa fosse adotado. O vice-prefeito e também produtor, Sérgio Odilo Nied, conta que foi difícil conseguir a adesão. Com uma ideia de integrar 40 famílias, só 12 aceitaram o desafio de imediato – após ver os resultados da Granja Ortiz.
“A gente tem que mudar a mentalidade do nosso produtor, que tem o que eu chamo de Síndrome do Não (sic)”, referindo-se à resistência de muitos agricultores em mudar o sistema de produção, com receio de resultados negativos. Hoje, é diferente. “Os que não fazem parte do grupo copiam o modelo e porque viram como deu certo.”
O Pisa no Vale conta com três municípios: Anta Gorda e Arvorezinha também fazem parte. O quarto pode ser Arroio do Meio, que teve a participação do secretário de Agricultura, Valmir Rauber.
Para o próximo ano, está programado um investimento de R$ 542 mil nos quatro municípios integrantes. Cada Executivo grupo municipal receberá R$ 135 mil, a serem aplicados na melhoria do programa.
Êxodo rural
A proposta também contribui para evitar o êxodo rural. É o caso de Matheus Zanatta, 22, da Sede de Travesseiro. Depois de trabalhar como servente de pedreiro em Santa Cruz do Sul, voltou à propriedade gerida pelo pai e, em junho, entrou no Pisa.
“Para mim, o principal problema é mudar o pensamento do meu pai”, lamenta. O pai de Zanatta desistiu das ordenhas por considerar um gasto muito alto para pouco retorno financeiro. Hoje, ele trabalha só com porcos.
A produção leiteira ficou dois anos desativada até a retomada por parte de Zanatta. “O meu pai precisa levantar às 7h e fica o dia inteiro tratando o animal, eu levanto mais cedo, mas depois é só deixar as vacas no pasto para eu poder descansar.”
Devido ao ingresso tardio, a melhora só será vista nos próximos meses.