Para tratar acerca do assunto, a psicóloga Maria Angélica Hartmann Gräff remete inicialmente ao pensamento do psicoterapeuta Marco Antônio de Tommaso (do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da USP e credenciado
pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade em entrevista à revista Psiquê número 81).
Conforme Maria Angélica, Tommaso refuta as pressões pelo chamado corpo perfeito. Dizendo que a imagem estética propagada pela mídia pertence a uma parcela da população que vai de meio a 1% das pessoas em todo o mundo, ressaltando que beleza é muito mais que medida da cintura ou do quadril, da cor dos olhos, que está indissociada de saúde e de autoestima.
Acompanhe o artigo da psicóloga Maria Angélica: “Na entrevista de Tommaso ele trata também sobre dois transtornos
alimentares, a anorexia e a bulimia que são expressões da distorção da autoimagem. Ou seja, a pessoa se olha no espelho e não consegue se ver como realmente está ou não encontra satisfação na imagem que vê refletida no espelho, então se abstêm de comida ou, como no caso da bulimia, ingere alimentos em grande quantidade e depois provoca vômitos para se livrar da culpa e dos alimentos. Os dois transtornos podem levar à morte se não tratados, como já vimos publicado pela própria mídia que cobra a perfeição, a morte de modelos anoréxicas, ou a internação compulsória para tratamento em decorrência de subnutrição.
Triste realidade! Mas as pessoas cada vez mais focam sua vida em estar de acordo com os padrões da mídia e não com seus padrões, ou seja, uma pessoa que possui geneticamente tendência a engordar, passa sua vida evitando que isso aconteça. Se optar por acompanhamento com nutricionista, buscando a reeducação alimentar para se manter saudável e se necessário, acompanhamento psicológico para aprender a se aceitar como é e não aceitar o que os outros impõem, está no
melhor caminho.
Porém o caminho das dietas milagrosas, da abstenção de alimentos indispensáveis ao bom funcionamento do organismo, de gastos energéticos exagerados em academias, do uso de medicações como as anfetaminas para não sentir fome ou controlar o impulso de comer, parece mais cômodo, tudo para se manter dentro dos padrões do outro, do que está fora. Muitas
vezes a obsessão é tamanha, que a pessoa sequer consegue manter uma conversa agradável, seus pensamentos giram em torno da dieta, de novidades em remédios, tratamentos, academias.
Ajuda que vem da psicoterapia
Parece que a felicidade está lá fora, não pertence à pessoa e sim as suas medidas, peso, altura, etc. A autoestima e a autoimagem estão absolutamente ‘coladas’, ou seja, somente se sente bem e se percebe como uma pessoa boa se estiver dentro dos padrões estéticos externos.
A psicoterapia vem justamente resgatar esse ‘eu’ que está lá fora e devolvê-lo ao indivíduo, resgatar a autoestima
e associá-la a uma autoimagem de forma real. Mais um exemplo, uma pessoa que se submete à cirurgia bariátrica (redução do estômago) e não muda seus hábitos alimentares, não muda sua maneira de pensar sobre a forma de se alimentar, perde peso pois teve o volume de seu estômago reduzido, mas continua a pensar como obesa, ou seja, continua com a autoimagem distorcida pois seu pensamento está distorcido da realidade. Tommaso diz que essas pessoas são ‘gordas emagrecidas’.
O culto ao corpo acaba por destruir o que tanto desejam preservar ou embelezar através das distorções da autoimagem. Essa insatisfação tem tomado proporções importantes. Além do que a mídia de alguma forma exige desses corpos aprisionados, vemos também o exagero nas cirurgias plásticas, lipoaspirações (muitas pessoas morreram nas cirurgias), Tommaso cita um fenômeno no Japão por exemplo, onde as mulheres estão fazendo cirurgias para abrir os olhos e
pintando os cabelos de loiro. Claro, podem se sentir melhor assim, mas até que ponto vale a pena impor ao corpo dor, desnutrição, dependência de medicamentos, tudo para estar de acordo com o fora? É bom estar bem com seu corpo, gostar do que se vê quando olha no espelho, receber elogios, mas o principal é termos consciência de que tudo o que fazemos com nosso corpo tem limites e consequências, logo, encerro este artigo com a frase ‘Não existe um belezômetro para se medir beleza. É essencial ter uma autoestima suficiente para mediar os valores que vêm de fora’, do psicoterapeuta
Tommaso.’’