Vale do Taquari – Os carros novos no Brasil continuarão com alíquotas do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) reduzidas até o fim do ano. Com a crescente compra de veículos, as concessionárias impulsionam a economia brasileira, provocando a extensão do benefício até 31 de dezembro. A presidente anunciou a medida em 1º de abril.
Enquanto alguns analistas acreditam que estas sucessivas prorrogações atrapalham o dito “estímulo ao crescimento”, outros economistas acreditam que ocorre o contrário. “Penso que não haverá redução na venda de carros novos”, analisa a economista Cíntia Agostini, professora da Univates.
Para ela, quando o IPI voltar ao patamar normal, a sociedade pressionará as montadoras a reduzirem a margem de lucro. “Ela (população) terá incorporado o fato do valor poder ser menor.”
Ela descarta que as sucessivas prorrogações reduzam a venda de carros novos no país. Isso ocorrerá porque essa política de incentivo tem limite. Cita como exemplo as compras que os brasileiros não conseguem pagar.
Contenção de crise
Cíntia acrescenta que os motivos que levaram Dilma a prorrogar o benefício é o mesmo de quando busca a redução do IPI para eletrodomésticos da linha branca: incentivar o consumo interno e evitar crises econômicas, como aconteceu em países como os Estados Unidos e, recentemente, na Europa.
Informa que países europeus estão com dificuldades de vender no mercado interno e acabam por competir contra as indústrias brasileiras. Conta que, no Brasil, o setor descresceu 11% no último ano, com empresas comprando máquinas no exterior, deixando as produzidas em solo nacional para último caso.
A economista reconhece que o brasileiro paga muito imposto – cerca de 35% da renda anual -, mas ressalta que outros países cobram mais tributos que aqui. “A diferença está em como os recursos públicos são gastos e, daí, estamos falando da gestão dos recursos públicos.”
Mais dívidas
Cíntia vê pontos positivos e negativos na medida governamental. Por um lado, o consumidor compra um carro mais barato e incentiva a produção de mais veículos. Mas, os ônus parecem ser maiores. Com a redução de IPI, o governo arrecada menos com impostos e repassa menos dinheiro para os estados e municípios – reduzindo o poder de investimento.
Outro complicador é o aumento dos consumidores inadimplentes. “O estímulo ao consumo faz com que boa parte da nossa população deva mais do que ganhe”. Estima-se que cerca de 30% dos brasileiros têm dificuldades para honrar os compromissos financeiros. “Estamos devolvendo os carros que compramos e não conseguimos pagar.”
A inflação também é afetada com esta política. Cíntia diz que o aumento do consumo impulsiona o aumento de preços, como na lei da “oferta e procura”.
Frota maior que estrutura
Ainda que seja impreciso afirmar, é possível dizer que a redução de IPI motivou o aumento de emplacamentos em Arroio do Meio. Entre dezembro de 2012 e fevereiro de 2013, a frota da cidade foi incrementada em 2,8% – passando de 12.573 veículos em 2012 para 12.935 atuais.
O emplacamento de automóveis novos cresceu quase em igual patamar: 2,75%. Hoje, são 6.795 carros ante 6.613 que constavam até dezembro do ano anterior.
A lógica é confirmada por Cíntia. Quanto maior é o estímulo, maiores serão os números de carros circulando, de combustíveis sendo usados e de pneus sendo gastos. “Esse é o incentivo ao nosso principal modal de transportes.” Conforme ela, as concessionárias projetam um aumento de 7% nas vendas neste ano.
Enquanto permanecer este cálculo, os incentivos à produção de veículos continuarão. O problema está na infraestrutura. As estradas não comportam esse crescimento exacerbado de veículos. “Nesse sentido, pode ser um ‘tiro no pé’, porque os investimentos devem vir junto com os estímulos à compra, o que em nosso país não é algo planejado.”
IPI para bicicletas
Enquanto o governo federal aposta no estímulo à compra de carros, dois senadores aguardam pela aprovação de seus projetos pelos colegas. Inácio Arruda (PCdoB/CE) e Paulo Paim (PT/RS) elaboraram, cada um, projetos de lei que propõem a redução de IPI para bicicletas.
Há três anos os documentos são analisados na Comissão de Assuntos Econômicos – ao contrário das medidas governamentais, que desde 2008 são anunciadas em rede nacional.
As propostas encontram coro na diarista Clarisse Finger Scherer, 46. Moradora do bairro Bela Vista, que há sete anos percorre as ruas arroio-meenses de bicicleta, independentemente se é dia chuvoso ou ensolarado. “É uma economia na gasolina e também evito o stress do trânsito”.
Para ela, os governos deveriam estimular o uso de bicicletas como um transporte alternativo, com investimentos em ciclovia. “Muitos devem ter vergonha de usar ou até medo por não ter lugar adequado para pedalar.”