A semana de aniversário do município deverá reservar mais do que o tradicional “Parabéns a você” para a cidade de 19 mil habitantes. O projeto de roteiro turístico Caminhos da Forqueta está previsto para ter o lançamento oficial durante as comemorações dos arroio-meenses. Pelo menos é o que projeta um dos integrantes da rota, o produtor Paulo Reichert, 55.
Reichert é um dos 18 integrantes que desenvolvem o roteiro turístico. E integrantes da Administração Municipal e da imprensa puderam conhecer o que está sendo feito pela comunidade para atrair turistas de diversas regiões do Estado e do país.
A nossa visita começa na propriedade da própria família Reichert. Os cerca de 20 integrantes da comitiva foram recepcionados pelos proprietários para um café colonial. Como ainda está em fase de adaptação, o local contou com o apoio da mulher, Noêmia, 53, professora aposentada, das filhas (fisioterapeutas) e do genro (corretor de seguros).
“No futuro, queremos contratar pessoas, mas, por enquanto, eles nos ajudam”, antecipa-se Reichert. Talvez, por contar com um ambiente bem familiar, todos os recepcionados se sentiram em casa. Fartura de comida não faltou: desde queijos e salames coloniais, até a produção de pães caseiros de diversos sabores. Em cada mesa, diversos acompanhamentos, como manteiga e chimias.
A preocupação em manter todos bem atendidos foi um dos pontos altos. Com frequência, verificavam a temperatura do leite e do café. “É uma opção diferente para a região e também uma oportunidade de aumentar a nossa renda”, argumenta Reichert.
Mas, quem pensa que o café colonial sempre foi o interesse da família, engana-se. Segundo Reichert, a ideia inicial era proporcionar aos visitantes um passeio pela comunidade com um carretão. “Tivemos muita dificuldade para fazer, porque tínhamos que conseguir muitas autorizações e documentos”, resigna-se. “Café colonial é algo que não existia no município.”
Para chegar ao nível de outros empreendimentos parecidos, os Reichert não pouparam esforços. Fizeram diversas visitas à Serra, ao Vale do Rio Pardo e a Santa Catarina.
Inovar é preciso
“A nossa ideia é fazer um ‘colhe e pague’, onde o turista vai até a horta para selecionar aquilo que quer, coloca num cestinho e depois a gente cobra.” Assim a produtora rural Márcia Ferrari define o esquema para atrair visitantes à sua propriedade, que há 14 anos oferece produtos orgânicos à região.
O que não falta na área da família, de apenas meio hectare, são produtos diferenciados. Hortaliças, abóboras, cenouras, entre outros, estão cultivados num terreno ao lado e também expostos em um galpão. No local, os anfitriões explicam sobre a atividade e como optaram por integrar ao Caminhos da Forqueta.
“Aproveitamos o que estamos produzindo ecologicamente, sem agrotóxicos, para termos mais visibilidade”, conta o marido de Márcia, Carlos Ferrari. “É uma oportunidade de vendermos mais e também conhecermos mais pessoas de diversas regiões.”
Sem integrar o roteiro turístico, a propriedade segue um caminho de sucesso. Visitas são constantes, em especial de cidades próximas, como Lajeado, mas também é comum encontrar pessoas de Porto Alegre. A história estimulou o secretário de Indústria e Comércio da cidade, Norberto Dalpian, a convidar a família. “Meus irmãos só compram produtos orgânicos. Tenho que trazê-los para cá”, sentencia.
Colírio para turistas
Do alto de um morro, é possível avistar Arroio do Meio, Forquetinha, Santa Clara do Sul, Marques de Souza e Lajeado. Quem conhece estes locais, logo começa a enumerar os pontos, como as igrejas, as rodovias, os rios, tem até aqueles que juram poder ver o complexo da Univates.
Antes restrito só a quem conhecia o ponto, em breve diversos turistas poderão desfrutar da bela paisagem. Ainda há muitas coisas a serem melhoradas, como os próprios anfitriões admitem, mas pelo pouco que tem, conta com uma boa estrutura.
Durante a caminhada, no meio do canavial, há corrimões e escadas. Projetado para ter meia hora, é impossível resistir a ficar mais do que este pequeno período. Faça frio ou faça sol, a vontade é de servir o chimarrão e contar histórias e causos da vida enquanto prestigia a cena.
Degustação com história
O penúltimo ponto a ser visitado foi a propriedade dos Maders. Há 17 anos, um alambique amplia a renda do casal Jorge e Lonia. A estrutura foi reativada em 2001, quando o pai de Jorge repassou a manutenção para o filho.
E Jorge tem na ponta da língua não apenas o paladar para verificar o gosto da cachaça produzida no alambique: a história e todo o processo de produção também estão presentes na memória do produtor.
São pelo menos dez minutos de conversa para tirar dúvidas dos turistas e para mostrá-los todo o processo de produção, desde a retirada do líquido da cana-de-açúcar até o processo de fermentação. Caso seja necessário, o casal fica mais tempo com os visitantes, para sanar todas as dúvidas.
Um dos pontos mais altos da visita é aquele que muitos gostam: o da degustação. A família investiu em cinco galões de madeira para armazenar o líquido: os dois maiores têm capacidade para dois mil litros, cada um.
Há a opção de compra, como garrafas de vidro de 500 mililitros e um litro, e também as pet de dois litros.
O casal reconhece que a produção é pequena. Por serem apenas eles na atividade, por mês conseguem envasar até mil litros. “Se conseguíssemos uma média de dois mil litros, seríamos considerados indústria”, informa Lonia.
Entre as admissões, está a necessidade de produzir um rótulo para as bebidas. “Estamos elaborando isso, que vai ter o logotipo do Caminhos da Forqueta na garrafa”, antecipa a produtora-empreendedora.
Desafios
O guia desta primeira visita foi Paulo Reichert. Logo no início, avisou que muitas coisas serão melhoradas até o respectivo lançamento. Tanto que, dos 12 pontos de visitas possíveis, foram conhecidos cinco – o último foi um almoço no Camping do Irineu. Outros foram apenas mostrados de dentro da van.
Entre as sugestões, está ampliar a degustação dos produtos, diminuir as garrafas de cachaça e licores – para que também possa servir de lembrança. Mas, nada que desestimule os organizadores.
Aliás, eles saem fortalecidos, até porque contam com o apoio do município, da comunidade, e principalmente do Senar e do Sebrae. O primeiro se consolida com a teoria, e o segundo é mais voltado para a prática.
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) também é um dos grandes parceiros, que custeia a visita dos palestrantes sobre o assunto turismo para o município. Basta continuarem o que estão fazendo.
Tanto que o Caminhos da Forqueta recebeu um apoio de outra microrregião. A guia de turismo Tatiana Gärtner, que organiza as visitas ao roteiro Delícias da Colônia (Imigrante, Colinas e Estrela) se manifestou favorável à iniciativa. “Turismo não é uma tarefa fácil, porque tem que trabalhar demais para ver se dará certo.” Acrescenta que o retorno, muitas vezes, não é imediato.
Nesta mesma linha, o jornalista e também empreendedor turístico, Alício de Assunção, demonstrou apoio. Responsável pelo roteiro Passeios na Colônia, foi taxativo: é necessário colocar a teoria em prática para obter sucesso. “No nosso caso, a comunidade viu que deu certo e depois se interessou pela proposta.” A rota, que parte em Tamanduá (Marques de Souza), começou em novembro de 2011.