Toda vez em que acontece um processo de absorção ou de aquisição de qualquer empresa por outra, aparentemente melhor situada, surge o questionamento sobre possíveis consequências de tal fato.
Nos setores de produção de aves (frangos) e suínos, tivemos muitas mudanças de alguns anos para cá. Apenas para lembrar de certas marcas como Coopave, Minuano, Avipal, Sadia, Doux Frangosul, Seara, dentre outras, constata-se um ajustamento na condução das atividades produtivas e industriais e, naturalmente, nos seus resultados finais.
O capítulo mais recente diz respeito à aquisição da Seara, com empreendimentos na região de Caxias do Sul e no município de Roca Sales, pelo grupo JBS Friboi que se constitui hoje no maior produtor de proteína animal em todo o mundo. Inicialmente operava apenas na produção de carne bovina e desde 2007 migrou para o segmento do frango de corte.
Na medida em que as opções, em termos de empresas integradoras, diminuem, o produtor fica mais e mais limitado no seu poder de barganha, reduzindo assim as possibilidades de demonstrar alguma insatisfação, ou até de mudança, se for o caso.
As “exigências” aumentam, na proporção em que também o mercado cobra qualidade dos produtos oferecidos. Esse fator reflete-se nas “condições” de produção dos estabelecimentos dos agricultores, selecionando cada vez mais os integrados, excluindo as unidades que não perfazem o perfil desejado.
Sempre jogamos com a possibilidade de o nosso Estado e especialmente a nossa região vir a ter problemas acentuados nas atividades de produção de carne em um futuro não muito distante. Pois, na medida em que ocorre a concentração do gerenciamento dos grupos, vai se ter modelos de produção com a preocupação de diminuição dos custos de produção e neste quesito nós estamos perdendo espaços para outros centros do país.
Pode-se ganhar na qualidade da produção, na tecnologia aplicada, mas estamos sujeitos a acumular perdas nas atividades econômicas e, sobretudo no campo social.
Plano Safra
Como previsto, na semana passada o governo federal anunciou o pacote de recursos para o Plano Agrícola (Safra 2013-2014) da Agricultura Familiar. O volume de dinheiro a ser disponibilizado para quem se enquadra nas regras do Pronaf certamente será suficiente para atender a demanda, tanto para o custeio, como investimentos em atividades produtivas.
Há quem considere importante a oferta de recursos, mas ações complementares necessariamente teriam que acontecer, visando a segurança das atividades, a garantia de que os preços de comercialização compensem e recompensem os investimentos, somando-se aí a aplicação de recursos próprios, mão de obra, o uso de implementos e demais insumos.
Tomemos, por exemplo, a cultura do feijão. O custo de produção é elevado. Quando a safra é boa ou razoável, o preço do produto é frustrante. Mas quando a oferta é pequena, como aconteceu há poucos meses, os preços passam a inibir o consumo. Deveria, portanto, ter a regulação do mercado, entrando em ação o “estoque regulador”, que não é costume termos em nosso país.
Não demorou muito, temos mais um escândalo!
O “derrame” de carteiras de habilitação falsas, em mais de 20 municípios gaúchos é a revelação, repetida, reiterada, da fragilidade dos meios de fiscalização. Qual será o tema do próximo capítulo?