Arroio do Meio – Mais do que uma orientação aos pedestres, a faixa de segurança representa a garantia de uma travessia sem acidentes. Esta teoria, porém, nem sempre é vista na prática. A falta da faixa em alguns locais atrapalha pedestres e motoristas, mas o desrespeito entre os dois é mais comum.
A cidade possui a sinalização rente às esquinas. Além disso, o município é cortado pela ERS-130. Algumas ruas não possuem faixas de segurança. Estas situações foram apresentadas a especialistas no assunto. O intuito é construir um conceito mais adequado quanto ao uso e a postura dos usuários das vias.
“A faixa de travessia de pedestres deve ser utilizada em locais onde o volume de pedestres é significativo; nas proximidades de escolas ou polos geradores de viagens, em meio de quadras ou onde estudos de engenharia indicarem sua necessidade”, explica o arquiteto e especialista em segurança no trânsito, Ricardo Schiavon.
A posição das faixas de pedestres foi um dos itens apontados. Para Schiavon, a pintura na esquina respeita a trajetória dos pedestres. Para o coordenador do Departamento de Trânsito de Arroio do Meio, Luiz Fermino Soares, não seria possível tirar vagas de estacionamento para instalar as faixas no meio das quadras, além da pouca eficácia que teria o dispositivo.
A ERS-130 é uma via muito utilizada, e não somente por carros. Diariamente muitos pedestres atravessam a rodovia, nos dois sentidos. Schiavon recomenda mudar o local da placa, trabalhar em campanhas de educação dos pedestres e motoristas, autuando os condutores que não respeitarem a faixa de segurança.
Embora a ERS-130 não seja de responsabilidade do município, Soares salienta a falta de educação dos cidadãos. “Os acidentes só acontecem em função do comportamento inadequado das pessoas, que não respeitam a sinalização”, desabafa.
Dos 36 municípios do Vale do Taquari, Fazenda Vilanova, Lajeado, Estrela, Teutônia, Encantado, Taquari e Arroio do Meio são responsáveis por 67% dos acidentes fatais no trânsito na região, segundo dados do Detran. O motivo principal é o cruzamento das rodovias entre estes municípios. Fazenda Vilanova também se destaca por ter uma média de vítimas fatais por acidente superior a da região, onde no Vale do Taquari essa média é 1,2 e em Fazenda Vilanova 1,8. No Estado essa média é igual a 1,1.
Em relação ao tipo de via onde os acidentes ocorreram, nota-se que nas rodovias estaduais e federais se concentra a maior parte dos acidentes, chegando a 70% do total, 15 pontos percentuais acima do RS. Entre 2007 e 2011, foram 278 acidentes em rodovias, 113 em vias municipais e três sem informação do local.
Dos 278 acidentes que ocorreram nas rodovias da região, 42% deles se concentraram em apenas 19 pontos críticos, onde os principais são: trecho entre Km 340 e Km 353 da BR 386, com 47 acidentes e 52 mortos; RS 130, entre os Km 70 e 78, com 29 acidentes e 30 mortes e RS 128 em Teutônia, no trecho compreendido entre o Km 22 e 27 contabilizando 12 acidentes, e 15 vítimas fatais.
Pedestres representam 21% dos mortos no trânsito no RS
Os atropelamentos com morte vêm sofrendo redução gradual no Rio Grande do Sul nos últimos dois anos. De 479 ocorrências em 2010, representando 24% do total de acidentes, passou para 402 em 2012, ou 21% do total. Apesar da queda, o número de pedestres mortos ainda preocupa as autoridades. E não somente no Estado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) conclamou os países-membros a pensarem na segurança do pedestre.
A OMS provocou governos, escolas, universidades e instituições de todos os tipos a promoverem ações para alcançar uma meta ambiciosa: uma semana sem mortes de pedestres. Em todo o mundo, são cinco mil mortes a cada semana. No Rio Grande do Sul, a meta da OMS representa a vida de oito pessoas. Esse é o número de pedestres que morreram semanalmente, em média, no Estado, de 2007 a 2012. No total, foram 2,5 mil pedestres mortos no período.
O estudo do Detran/RS que analisou os acidentes com pedestres no período de 2007 a 2012 demonstra que quase 70% dos pedestres que morrem no trânsito são homens, mas a diferença entre os sexos vem oscilando nos últimos anos. Em 2012, a participação dos homens em atropelamentos caiu 10%, enquanto a das mulheres subiu 12%. Idosos acima dos 65 anos são os mais vitimados (representam quase 30% dos pedestres mortos) e as crianças até 10 anos também inspiram cuidados. Somente nesta faixa etária, foram 145 vítimas no período analisado.
Embora mantenham uma distribuição parelha entre os dias da semana, os atropelamentos com morte aumentam um pouco aos sábados. De uma média de 59 de segunda a sexta-feira, passa a 72, em média, aos sábados. A grande maioria das ocorrências é registrada no turno da noite (46%). Foram 1.167 pedestres mortos em atropelamentos neste turno no período.
Especialistas analisam faixa de segurança em Arroio do Meio
A pedestre teve de passar por trás do automóvel, pois ele obstruía a faixa. Embora o carro esteja em cima da faixa, ela está colocada muito próxima da esquina. Certamente a lei permite que a faixa seja colocada lá, mas qual é o ideal? No meio da quadra? Qual a solução tu recomendaria?
Ricardo Schiavon – A posição das faixas deve respeitar, sempre que possível, o caminhamento natural dos pedestres, e em locais que ofereçam maior segurança para a travessia. A opção em Arroio do Meio, assim como em outros municípios foi pintar a faixa ligando uma esquina a outra. Dessa forma a prioridade é sempre o pedestre, mesmo que em algumas ocasiões o veículo precise parar sobre a faixa para visualizar a possibilidade de travessia.
Luis Soares – A ideia de instalar as faixas no meio das quadras não passaria do papel. Primeiro porque dois donos de estabelecimentos (um de cada lado da via) perderiam uma vaga de estacionamento em frente ao comércio. Segundo porque está muito difícil encontrar vagas para estacionar no centro de Arroio do Meio, então não podemos suprimir as que existem.
Arroio do Meio é cortada pela ERS-130. Ela recebe grande fluxo de veículos, principalmente no final de tarde. Há também grande fluxo de pedestres. Ali há a faixa, mas os carros não param. Há uma placa, que pode contribuir para que, nem o pedestre veja a aproximação do veículo, nem vice-versa. O que poderia ser feito para que a travessia representasse mais segurança para os pedestres?
Ricardo Schiavon – Primeiro, relocar a placa que está dificultando na visibilidade de ambos (engenharia).
Segundo, orientação aos pedestres e condutores sobre o respeito à faixa de travessia (educação). Terceiro, autuação aos condutores por não respeitar a travessia (fiscalização).
Luis Soares – Se os motoristas respeitarem os limites de velocidade indicados nas placas, pararem quando da travessia de pedestres sobre as faixas de segurança, tudo seria diferente.
Atualmente muitas tentativas de conscientização são feitas, mas não há vontade por parte de cada um. O coletivo sempre vem antes do individual, mas não é isso que acontece na prática.
Há ruas em que as faixas não se comunicam. Por exemplo, duas faixas de pedestres em cada esquina da rua João Carlos Machado, mas nenhuma nas esquinas da rua transversal, a São João. Qual seria o adequado para a segurança de pedestres e a melhor maneira de o motorista não precisar frear bruscamente, nem trancar o cruzamento?
Ricardo Schiavon – Não é normal fazer apenas em um sentido a faixa, mas nada impede se os estudos identificarem que em um dos sentidos não há demanda.
Luis Soares – É preciso que a faixa esteja nos quatro lados de travessia, principalmente nas ruas mais movimentadas da cidade. Nas próximas semanas instalaremos as faixas que faltam.