Arroio do Meio – “Queremos um jogo da copa aqui. Quem sabe assim teremos o nosso ginásio na escola.” A manifestação é do presidente do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Guararapes, Jonas Batista Vieira, 15. Ele ditou o tom de desagrado dos alunos da rede pública de ensino que provocou uma paralisação da instituição na manhã de ontem, e contou com cerca de 250 participantes.
O protesto começou às 9h30min. Professores, funcionários e alunos subiram a rua Dr. João Carlos Machado e pararam em frente à prefeitura, onde cantaram o Hino Nacional. Seguiram pela rua Coberta e desceram a rua Visconde do Rio Branco para parar em frente ao prédio da escola. A Brigada Militar bloqueou a rua, pois cerca de 50 pessoas permaneciam na via, em sinal de protesto.
Cartazes que pediam a valorização do professor e outras melhorias no ensino público foram grudados na parede da escola. Alguns estudantes sacaram a viola e começaram a cantar músicas, pois já disseram que ficariam postados no local por certo período.
A manifestação atendeu a orientação do 8º Núcleo do Cpers/Sindicato. Conforme a presidente Luzia Herrmann, foi solicitado aos professores que convidassem pais e alunos para debater os problemas enfrentados pela rede estadual, como investimentos em infraestrutura e o combate ao novo modelo de Ensino Médio implantado pelo governo.
Entre as peças fixadas na parede, uma continha “Vamos acordar: o professor vale mais que o Neymar”. “Uma das nossas lutas é para que o Estado pague o piso nacional”, reivindicou mais uma vez. Luzia acrescentou que o Ministério Público já deu ganho de causa à classe.
O público que assistiu a manifestação, aprovou a atitude dos jovens. “Considero a manifestação pacífica muito válida. Isto é democracia”, disse Luis Ernesto Mantelli. Elton Dias considerou que, sendo um movimento nacional, é fundamental que uma representação se mobilize no município. “Tem que fazer, tem que apoiar. Assim alguma coisa pode mudar no Brasil”, disse.
Movimento nacional
O alerta foi dado no início da semana. A quinta-feira era o Dia Nacional de Luta e, no Vale do Taquari, contou com a adesão de oito sindicatos. O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) suspendeu todas as linhas intermunicipais em todas as rodoviárias, atingindo cidades como Arroio do Meio e Lajeado – neste último, cerca de 200 viagens foram interrompidas desde as 4h.
O presidente do Sindirodoviários de Santa Cruz do Sul, que abrange Arroio do Meio, encaminhou um ofício a todas as proprietárias de ônibus para não circularem nesta quinta-feira. “Em algumas cidades haverá o bloqueio dos acessos e isso pode desencadear um tumulto”, alertou Luídes Fernandes Leopoldo.
Leopoldo acrescentou que a proposta é lutar além das questões da classe. “Não podemos aceitar que um presidente do Senado ou da Câmara viaje com avião da FAB às nossas custas e deboche da gente dizendo que não vai ressarcir.”
Os cartazes empunhados seguiam na mesma linha. Pediam o fim da corrupção, a reforma política e agrária. Integrantes dos sindicatos rurais, como a Fetag, estavam presentes em Lajeado.
Entre os sindicatos incluídos na batalha está o de Alimentação. Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Avícolas e de Alimentação (Stial), de Lajeado, Adão Gossmann, a ideia é trancar as principais ruas do centro lajeadense para chamar a atenção da população.
“Nós temos uma pauta nossa que, entre elas, está a jornada de trabalho de 40 horas sem redução salarial e pelo fim do fator previdenciário.” Outras propostas extrapolam o limite do setor, e entra como apoio a outras classes, como a Educação e a Saúde. Na lista de reivindicações, está o repasse de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) à Saúde e de outros 10% para a Educação.
Entretanto, a adesão pareceu pequena. Marcada para as 9h, os organizadores precisaram esperar até às 10h para sair da Praça da Matriz, no Centro de Lajeado, até a BR-386, onde a manifestação se estendeu.
Participaram da mobilização em Lajeado um grupo pequeno, com pouco mais de 500 pessoas no início, integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), SindiComerciários e até dos Correios.
Pouca adesão
Em outras regiões, a adesão à manifestação foi pequena. Em Lajeado, por exemplo, as escolas e os bancos funcionaram normalmente. O pedido do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Lajeado – que abrange Arroio do Meio – é de que os funcionários participem da manifestação. Entretanto, a decisão é de cada uma das agências.
Entre as contrariedades, está o projeto de lei 4330, que permite a terceirização dos serviços bancários. Segundo Flávio Johann, tesoureiro do sindicato, a medida afeta, principalmente, as instituições de crédito públicas, uma vez que estaria dispensada a necessidade de abrir concurso público.