Nós vivemos em uma região onde o assunto da falta de alimentos não faz parte das nossas preocupações diárias e, possivelmente, são poucas as pessoas que buscam informações sobre o tema ou até não percebem quando algum veículo de comunicação traz matérias sobre casos e realidades que existem em outras partes do planeta e às vezes bem perto da gente.
No último final de semana tive acesso a uma informação veiculada em um dos grandes jornais do Estado, no espaço de um conceituado colunista, fazendo menção a dados que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) possui, retratando, em números, um quadro caótico e trágico, dizendo respeito à calamidade da fome e ao mesmo tempo afirmando que há condições para saciar as necessidades de todos os seres humanos.
Entendo como sendo oportuno o momento para uma breve reflexão sobre este assunto, considerando o envolvimento de cada qual com o espírito de solidariedade e de confraternização que, em teoria, toma conta de todo mundo, na véspera do Natal e aproximação do Ano Novo.
Existe a revelação de que, “pela primeira vez a Terra conta com recursos suficientes para alimentar a sua população e que, se isso não ocorre se deve a problemas logísticos, como a distribuição e acesso à comida”.
Diz ainda o comentário: “neste ano de 2013, a produção global de grãos chegou a 2,5 bilhões de toneladas, 8,4% a mais que em 2012, mas mesmo assim 842 milhões de pessoas ainda sofrem de fome crônica porque os alimentos não chegam até elas, apesar de a revolução biotecnológica continuar superando suas metas de produção de alimentos”.
A gente tenta formar uma ideia do que significa, na verdade, este número de 842 milhões de pessoas. Pois, se o Brasil tem hoje uma população próxima a 200 milhões de habitantes, seria, consequentemente, mais de quatro vezes o tamanho deste país, ou se tomarmos por base a população de Arroio do Meio, representaria algo em torno de 42 mil vezes. É muita gente!
Já em um contexto mais próximo de nós, na América Latina, as estatísticas indicam a existência de 68 milhões de pessoas que ainda se encontram em situação de pobreza extrema, dentre os quais 47 milhões não têm acesso a alimentos e não conseguem comprá-los.
O desafio não é apenas encontrar os meios para que os alimentos cheguem a quem precisa. É também fazer com que a ganância de países desenvolvidos e de empresas que fazem grandes negócios com a industrialização e comercialização de seus produtos diminuam as suas metas de ilimitados lucros. “E sem reduzir os níveis de corrupção de governos nos países mais pobres, a fome não será eliminada”.
Estima-se que em países desenvolvidos cada habitante desperdiça, por ano, uma média de 100 quilos de alimentos. Se essas quantias fossem recicladas ou reaproveitadas, metade dos 842 milhões de famintos sairia dessa condição.
Nos países pobres, a população gasta em torno de 80% de sua renda na compra de alimentos. Nas nações desenvolvidas, o custo não passa de 20% e nos Estados Unidos, apenas 7% do orçamento familiar é destinado às despesas de gêneros alimentícios.