A menos de oito meses para as eleições, ainda são escassos os comentários acerca do pleito. Por enquanto, nas rodas de conversa, a Copa do Mundo ainda é mais importante do que a eleição de deputados estaduais, federais, senadores, governadores e o presidente. Na região, aos poucos, surgem alguns nomes de pré-candidatos e os partidos começam o trabalho de bastidores, na busca de aliados. A união de forças parece imprescindível, já que eleger um deputado estadual da região tem sido difícil.
Arroio do Meio, que já teve vários deputados estaduais, há tempo se vê sem nenhum representante na Assembleia Legislativa. O último foi Erni Ilmo Petry em 1994. Antes dele representaram o município e a região, Antonino Fornari – de 1957 a 1980 e Guido Moesch – 1975 a 1982 – que depois foi deputado federal até 1987.
A última oportunidade do município foi com Áurio Scherer, em 2010. A estreia do petista nas urnas foi positiva, porém insuficiente. Dos 20.416 votos recebidos, 5616 foram computados em Arroio do Meio. Quase 50% dos votos válidos do município. Neste ano, Scherer está cotado para novamente concorrer à Assembleia. A definição só virá em junho, quando o partido está apto a realizar as convenções.
Em entrevista, o atual vice-prefeito e pré-candidato do PT diz que está se preparando para a disputa estadual. Fala de como as articulações com os governos estadual e federal têm beneficiado Arroio do Meio e a região e relembra sua trajetória de lutas e conquista junto ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
AT – Como o senhor ingressou na luta pela agricultura familiar?
Áurio Scherer – Em 1997 vivíamos um momento crítico, não tínhamos crédito, não tínhamos seguro e o preço dos nossos produtos era cada vez menor. Se continuasse assim, a agricultura familiar seria extinta do nosso país. Restariam apenas os grandes proprietários. Eu e milhares de famílias estávamos nessa situação. Era lutar ou morrer.
E nós, felizmente, junto com vários líderes, igrejas, sindicatos, constituímos um dos principais movimentos sociais da história do nosso país, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). O MPA nos deu a oportunidade de enfrentarmos esse modelo e mostrarmos para a sociedade brasileira que a agricultura familiar era viável e um dos principais alicerces da nossa economia. Hoje somos reconhecidos pelo governo como responsáveis por mais de 70% da produção da comida que vai à mesa do povo brasileiro todos os dias.
AT – O que mudou na agricultura familiar depois do MPA?
Áurio – São visíveis os avanços que tivemos. Hoje temos aposentadoria rural com salário mínimo de cerca de 300 dólares, diversas linhas de crédito, seguro agrícola, energia elétrica e um programa de moradia rural, que está transformando a paisagem do nosso interior. Hoje, felizmente, nosso meio rural, apesar de estar envelhecendo, dá sinais de continuidade. O que nos dá um grande alento e esperança é que os filhos dos agricultores já estão se preparando para a sucessão. Muitos estão se desafiando a continuar a atividade. Temos um crédito farto, o Pronaf, o Mais Alimentos, temos o Luz para Todos que zerou a escuridão no nosso meio rural e hoje já é preciso reforçar as redes. Temos ainda vários programas de aquisição de alimentos. Os municípios podem comprar uma parte dos alimentos da merenda escolar direto do pequeno agricultor. Enfim, as mudanças são inúmeras. Vivemos um momento em que o pequeno agricultor está bem amparado por políticas públicas e, com isso, se fortalecendo.
AT – Uma das reivindicações do movimento era a aposentadoria rural. Como ela contribui para a economia?
Áurio – A aposentadoria hoje é uma das principais formas de distribuição de renda do país. Movimenta todos os setores da economia, do lazer à indústria, comércio e serviços. E uma das principais bandeiras que travei nessa andança toda foi a manutenção da aposentadoria do homem e da mulher da roça. Foi uma batalha árdua e por vezes incompreendida pela população urbana, mas vencemos. Hoje todos os agricultores, as mulheres com 55 anos e os homens com 60 anos, podem se aposentar. Lutamos para garantir que este direito fosse transformado em lei definitiva. A aposentadoria dos agricultores garante um pouco mais de conforto para quem trabalhou a vida toda na lavoura.
AT – Na sua opinião, a luta do meio rural refletiu no meio urbano?
Áurio – Refletiu e muito. E os benefícios podem ser sentidos em vários aspectos. Quando iniciamos nossas caminhadas junto com os sindicatos urbanos, nossa principal pauta era defender o salário mínimo de 100 dólares. Na época recebíamos de 60 a 70 dólares como mínimo. E hoje, graças as nossas lutas e mobilizações, o salário mínimo está próximo dos 300 dólares. Esse aumento traz avanços significativos, dias muito melhores para nossos trabalhadores e aposentados, para nossa melhor idade, para todos os municípios do Rio Grande do Sul e do país. Temos mais dinheiro em circulação e melhorou o poder aquisitivo do brasileiro.
AT – Como o senhor se sente vendo todas essas mudanças, sabendo que teve participação forte e decisiva?
Áurio – Aprendi que não se foge de uma boa luta, quando ela é necessária e justa. Agi sempre motivado pela ideia da sobrevivência com dignidade não só minha, mas de todos aqueles que exerciam e exercem o trabalho no meio rural. O que era uma necessidade do momento foi crescendo, tomou forma e crescemos junto. Hoje tenho a consciência de ter feito a minha parte, não me omiti, não neguei minhas origens.
Sou fruto de um trabalho coletivo, de anos e anos de mobilizações e organização popular. Recebi a missão de coordenar a organização e ser o coordenador nacional de negociações do MPA e dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais.
Toda a caminhada tem acertos e erros. Certamente cometemos falhas, mas o que resultou de tudo isso, hoje me traz a tranquilidade do dever cumprido.
AT – Num momento em que a classe política está desacreditada, o que te move a concorrer?
Áurio – Percebi que, assim como os agricultores estavam desamparados, os municípios também precisam de representatividade junto aos governos estadual e federal, pessoas envolvidas e comprometidas com as políticas públicas. Sou um homem de fé e nunca perdi a esperança de que devemos melhorar, inclusive, a política. Estamos cansados dos maus exemplos. Não dá para ver muitas situações erradas e simplesmente se omitir. A vontade de lutar politicamente está na minha natureza. Quando chamado, não sou de fugir da luta.
AT – O que o senhor pode fazer pelo Vale do Taquari?
Áurio – Quero ser uma voz forte em defesa das necessidades e políticas públicas do Vale do Taquari. Tenho participado de várias questões estruturais importantes, como: a duplicação da BR 386, a luta pela duplicação da ERS -130, a conquista do centro de radioterapia do Hospital Bruno Born, o laboratório do leite da Univates, além da intermediação de várias demandas dos municípios junto aos governos estadual e federal. Estou empenhado há muito tempo. Acredito que posso ser bem mais útil, sem meias palavras e atalhos. Quero contribuir para interagir com a sociedade e ser o elo entre o Vale, o Estado e a União. Um Vale do potencial do nosso não pode ficar como está, sem representatividade.
AT – Em relação a 2010, sente melhor preparado para enfrentar as urnas?
Áurio – A vida é um aprendizado diário. E sem dúvida a campanha de 2010 ensinou muito. A campanha à prefeitura em Arroio do Meio foi mais um aprendizado. E agora será outra caminhada, difícil, mas com os pés no chão. Quero ser deputado estadual e representar a região. Mas quero ser deputado e ficar deputado. Confirmada nossa candidatura na convenção não estaremos indo para a disputa a fim de acumular capital político. Estou entrando nesta disputa como pré-candidato para ser o representante da região e fazer o trabalho necessário e indispensável que hoje temos tanta carência. Me considero apto e preparado para assumir o desafio dessa nova missão.
Na administração local, no conjunto de pessoas de siglas e ideias se fortaleceram convicções. Sob a liderança do prefeito Sidnei Eckert, Arroio do Meio vem consolidando um pensamento estratégico muito sólido de curto, médio e longo prazo. Bastante comprometido e voltado à nossa comunidade. Nesta caminhada em que assumimos junto com o prefeito Sidnei e sua equipe nos comprometemos em buscar recursos para asfaltamento no nosso interior, a UTI e melhorias no nosso hospital, sintonia com os governos, pavimentação nos bairros e o projeto de saneamento. Esse aprendizado local tem me dado a oportunidade de interagir em três dimensões, na esfera pública municipal, estadual e federal.
AT – O fato do seu partido,o PT, ter mais de um candidato, pode prejudicar sua candidatura, caso ela se confirme?
Áurio – Esta é uma responsabilidade de decisão do PT em âmbito regional. A eleição é um projeto coletivo e não só uma vontade pessoal. De minha parte tenho muita vontade de representar o meu partido e a minha região como deputado estadual. Estamos trabalhando junto às nossas lideranças regionais e entidades a necessidade do consenso. Já tivemos experiências no passado, quando os partidos lançaram mais de um candidato e o resultado foi trágico, ninguém se elegeu.
AT – Hoje o senhor é o vice-prefeito. Como fica Arroio do Meio em relação à sua pré-candidatura?
Áurio – Se por ventura, Arroio do Meio vier a perder um vice-prefeito, ganhará com a região, um deputado, para defender os seus mais legítimos interesses. Arroio do Meio ficará numa condição extremamente privilegiada, pois teremos muito mais poder político como deputado estadual do que temos hoje como vice-prefeito. E as questões importantes e estratégicas para Arroio do Meio também são importantes para o Vale do Taquari. Jamais deixaremos de lado, ou viraremos as costas para nossa terra natal. E, certamente, o trabalho que estamos fazendo hoje como vice-prefeito será reforçado. Junto com a administração do prefeito Sidnei iremos avançar bem mais do que estamos avançando neste momento.
AT – O senhor tem sido um articulador junto aos governos estadual e federal. Quais são as demandas que estão em andamento?
Áurio – Uma das demandas que considero mais importante e que estamos buscando é a UTI para o Hospital São José. Estamos trabalhando, percorrendo um longo caminho para conquistarmos os 10 leitos de UTI adulta e a ampliação do hospital. A proposta está em fase final de análise na Anvisa. Vai beneficiar toda a região que há anos carece de mais leitos de UTI.
Arroio do Meio cresce a olhos vistos. É importante que esteja bem organizado em termos de infraestrutura, para que esse crescimento aconteça de forma ordenada e bem planejada. Com certeza Arroio do Meio teve grandes avanços em 2013 e continuará tendo em 2014. Resulta do compromisso que assumimos junto com o prefeito Sidnei e a equipe, perante a comunidade arroio-meense.
Temos avanços consideráveis na área de pavimentação, de quadras esportivas, na ampliação do nosso parque de máquinas e na construção de um grande ginásio municipal. E ainda lutamos pelos acessos asfálticos que ligam Arroio do Meio a Capitão e a Travesseiro.
AT – Além do hospital de Arroio do Meio, o senhor tem defendido outras instituições de saúde?
Áurio – A saúde é uma questão que me toca profundamente há muito tempo, por vários motivos. Senti na própria pele, por ocasião do meu acidente, quando passei por este drama de peregrinar de hospital em hospital. Foi mais de um ano transitando pelos hospitais de Lajeado, Estrela e Porto Alegre. A partir daí passei a ver a questão da saúde de uma forma diferente. Passei a ver a dor de todos aqueles que de uma forma ou de outra passaram ou passam por dificuldades na sua saúde ou de seus familiares. Isso para mim foi um grande aprendizado.
Por isto ainda lembro bem, quando fui procurado pela direção do Hospital Bruno Born, em 2006. Na época, o presidente era o médico Ernani Bender e o Vale do Taquari e o HBB estavam a um passo de perder o centro de radioterapia para outra região. A direção pediu nossa intervenção junto ao governo federal, no Ministério da Saúde e foi o que fizemos. Garantindo que o Centro de Radioterapia viesse aqui para Lajeado. E hoje, felizmente, centenas de pessoas já foram curadas do câncer. E o mais importante, sem a necessidade de ir para Porto Alegre, sair de casa de madrugada e voltar tarde da noite. Hoje está aqui, do nosso lado, facilitando a vida de quem precisa do atendimento, das famílias e dos municípios.
Esta foi uma das conquistas que considero das mais importantes que tive o privilégio e a oportunidade de participar. Toda vez que sou convidado a ir lá e vejo as pessoas curadas do câncer tocarem aquele sino fico profundamente emocionado.