O número de motocicletas rodando em rodovias, estradas e ruas aumentou muito nos últimos anos. O fato de ser um veículo barato, se comparado aos veículos de quatro rodas, e de baixo consumo de combustível faz grande parte dos condutores optarem por ele. Com isso, cresce também o número de acidentes envolvendo motociclistas. Especialistas em trânsito são enfáticos ao dizer que a imprudência e a imperícia do piloto são as principais causas.
Em Arroio do Meio estão registrados 7.144 automóveis e 3.847 veículos de duas rodas, ou seja, mais de 35% da frota local é composta de motocicletas. No Rio Grande do Sul, ela representa 25% do total de veículos que juntos somam 4.660.956.
Só este ano morreram 253 pessoas em acidentes com motocicletas no Estado, o que representa 30,4% do total das mortes no trânsito. Em Arroio do Meio as estatísticas preocupam. Em todo o ano de 2013 foram registradas duas mortes envolvendo motocicletas enquanto que em apenas seis meses de 2014 houve três, isso sem computar a morte de um casal arroio-meense que ocorreu fora do município, na BR 386, na serra de Pouso Novo.
15 dias, três mortes
Pelo menos três moradores de Arroio do Meio morreram vítimas de acidentes com motocicletas em apenas 15 dias. O mais recente aconteceu por volta das 7h de sexta-feira, dia 04, quando o motociclista Leonardo Elias da Silva, 18 anos, morador do bairro Aimoré, trafegava no sentido Lajeado/Arroio do Meio pela Ponte de Ferro.
Segundo Boletim de ocorrência feito na Delegacia de Polícia do município, Leonardo perdeu o controle da moto ainda em cima da ponte, batendo primeiramente na estrutura de ferro que é usada para limitar a altura dos veículos de carga e depois colidiu no veículo Tempra placas IIE 3655 que aguardava para fazer a travessia. Leonardo teve morte instantânea.
Segundo informações do irmão, Leonardo estava de folga do quartel e visitava a família em Arroio do Meio. Na manhã do acidente, o jovem saiu de casa para visitar a namorada em Lajeado, mas a família acredita que ele tenha esquecido alguma coisa em casa, pois voltava para Arroio do Meio antes mesmo de ter falado com a namorada.
Ele possuía habilitação há apenas sete meses para conduzir motocicletas. Deixa os pais, um irmão gêmeo e uma irmã. O velório ocorreu na Igreja Luterana São Paulo no Centro de Arroio do Meio, e o enterro foi no Cemitério Evangélico Luterano de Bela Vista. O enterro foi marcado também por honras militares, onde integrantes do exército fizeram uma homenagem póstuma, disparando tiros para o chão.
O que diz a Polícia Rodoviária Federal
O comandante da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Lajeado, Leandro Wachholz, cita a imperícia e a imprudência como as principais causas de acidentes envolvendo motocicletas. Ele observa que o alto número de acidentes envolvendo esse tipo de veículo está ligado também ao número excessivo de motocicletas rodando, já que o baixo custo de aquisição; baixo consumo de combustível e a mobilidade são fatores decisivos na hora da compra. “Geralmente o primeiro veículo de uma pessoa que começa a trabalhar é uma motocicleta.”
A utilização desses veículos por jovens também contribui para o alto índice de acidentes. Wachholz ressalta que a combinação motocicleta e juventude é um complicador, pois muitas vezes os jovens não têm discernimento da situação e da dimensão dos riscos. Ao mesmo tempo estão tentando se firmar na sociedade. “Muitas vezes eles precisam chamar atenção, e para isso cometem infrações, rachas e pegas, potencializando o risco. Além disso, se trata de um veículo de pouca visibilidade por parte dos demais condutores, o que o torna vulnerável”, disse o comandante.
Para ele, o sistema utilizado para a obtenção da carteira de motorista categoria A é falho. As aulas e a prova na pista fechada não dão ao motociclista a noção necessária para a condução em vias abertas à circulação. “Com a CNH na mão, ele pode ir a qualquer loja e comprar uma moto de 1000 cilindradas se preferir, e pode viajar para qualquer lugar do Brasil. Mas isso não tem lógica, ele tem a carteira, mas não tem perícia e noção do que é o trânsito na rua”, avalia Wachholz.
Na sua opinião, o Código de Trânsito Brasileiro regrediu no que diz respeito à Carteira Nacional de Habilitação dessa categoria. “Antes de 1998, com o código antigo, nós tínhamos divisões para a carteira de motorista para motocicletas. Eram três faixas A1, A2, A3, de acordo com as cilindradas. Não resolvia o problema, mas era melhor, agora o Detran unificou em uma só categoria.”
Brigada Militar
A Capitã Karine Pires Soares Brum, que responde pelo município de Arroio do Meio, concorda que a imprudência e a imperícia são as principais causas e lembra que 26% dos acidentes fatais ocorrem com motocicletas. A maioria acontece com pessoas que pilotam de maneira imprudente, trafegando em excesso de velocidade.
Outra causa relevante para o alto índice de acidentes envolvendo esse tipo de veículo, conforme a Capitã, é a falta de perícia dos condutores que muitas vezes não são habilitados. Em virtude disso, são despreparados para pilotar, pois não passaram por aulas práticas e teóricas onde são repassadas as técnicas de condução. “Eles cometem atos perigosos por desconhecer a prática e a teoria repassadas nos cursos de formação de condutores”, ressaltou.
Para ela, o elevado número de acidentes envolvendo motocicletas não está vinculado ao método de formação de condutores, e ressalta que o aumento da carga horária não resolveria o problema. “Trata-se, nitidamente de uma questão de educação para o trânsito que deve ser disseminada em especial pelos pais, professores, policiais, que através de condutas diárias ensinam como se deve proceder neste meio.”
Ela lembra que em alguns municípios a educação para o trânsito faz parte do currículo escolar, com o objetivo de educar os futuros condutores desde cedo, fortalecendo o respeito no trânsito. “Inclusive, estes pequenos cidadãos passam a educar seus pais, corrigindo as condutas inadequadas do adulto que não recebeu a instrução correta na sua formação.”
Polícia Rodoviária Estadual
O 1º Sargento da Polícia Rodoviária Estadual de Encantado, Edson Luiz Kolowski, concorda que a imprudência é a principal causa de acidentes envolvendo motociclistas. O desrespeito à sinalização e com os demais condutores potencializa o risco de acidentes. “O motociclista acha que pode trafegar onde quiser, muitas vezes muito próximo aos outros veículos, não havendo tempo e distância suficiente para realizar manobras, caso o condutor da frente pare bruscamente”, explicou.
Hoje as aulas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação para motocicletas são realizadas em uma pista fechada sem contatos dos futuros motociclistas com a rua o que dificulta a aprendizagem, pois nessas aulas os candidatos não enfrentam situações que são encontradas no dia a dia no trânsito. Para Kolowski, treinamento em vias abertas à circulação iria preparar melhor esses condutores, mas ressalta que educação, cortesia e respeito à sinalização devem fazer parte do contesto do trânsito, caso contrário nada adianta uma boa preparação por parte do aluno.
Ele não acredita que o aumento do valor da multa seria a saída para a conscientização dos motoristas e defende regras mais duras para doutrinar os condutores. “Quando se aumenta o valor da multa, sempre há uma diminuição temporária das infrações, mas depois de um período retorna como anteriormente. A suspensão do direito de dirigir seria um dos meios mais eficazes para os maus motoristas”, finalizou.