Arroio do Meio – Prestes a completar um ano, o roteiro Caminhos da Forqueta segue em crescimento. Em novembro de 2013, os 12 pontos turísticos estavam prontos para receber visitantes e o atrativo foi lançado junto com as comemorações de aniversário do município, recorda Paulo Reichert, presidente da associação turística.
“Nosso trabalho para sua implantação iniciou em julho de 2012”, conta o gestor de agronegócios do Sebrae dos Vales do Taquari e Rio Pardo, Valmor Mantelli Júnior. “Antes disso, o Senar/RS, nosso parceiro no Programa Juntos Para Competir, já vinha desenvolvendo o programa de turismo rural com a comunidade.” As ideias de negócio são sempre dos empreendedores, o papel dos técnicos é ajudar a lapidar, instrumentalizar e profissionalizar o negócio.
No Caminhos da Forqueta ainda há muito para se aprimorar, pois como ressalta Mantelli Júnior, turismo não se faz de um dia para o outro, é preciso ter persistência, acreditar na ideia. Basta olhar o caso das regiões turísticas estabelecidas no Estado. “Outra questão, e essa é uma visão muito pessoal, é que os empreendimentos precisam se viabilizar independentemente do roteiro. O roteiro trará um afluxo adicional de pessoas para a comunidade. Mas não se pode ficar na dependência da formação de grupos grandes para viabilizar a visitação.”
Na avaliação do gestor do Sebrae, o grupo vem evoluindo bem, pois não é simples: são diferentes negócios em diferentes setores que também oferecem um serviço de forma coletiva, que é o roteiro turístico. Na sua visão, o principal diferencial do Caminhos da Forqueta é o bem receber, “trata-se de uma comunidade extremamente acolhedora, é natural deles”.
Cita a qualidade e diversidade dos atrativos dando ao turista a oportunidade de vivenciar o que de melhor o meio rural tem a oferecer: as belezas naturais, arquitetura e os costumes de mais de 150 anos de história. “Ou seja, visitar os Caminhos da Forqueta é um programa imperdível.”
Como “vender o peixe”
Um ponto que o Sebrae sempre coloca aos empreendedores é a necessidade de uma melhor divulgação dentro do próprio município. Quantas pessoas de Arroio do Meio conhecem o roteiro? Sabem quais são seus atrativos? Já o visitaram?, são questionamentos importantes de se fazer. “Então, reportagens como essa que O Alto Taquari está fazendo é um instrumento importante. O poder público municipal também tem se mostrado disposto a colaborar neste processo.” Depois de consolidado em Arroio do Meio, é possível sonhar com o Vale do Taquari e Rio Grande do Sul, afirma.
Paulo Reichert e a mulher Noêmia procuram atrair o máximo de pessoas para seu café colonial. Atendem com o diferencial do acolhimento: o ambiente em que recebem os visitantes possibilita uma viagem ao tempo, tamanha riqueza de detalhes em objetos históricos. “Muitos chegam aqui e dizem que se sentem na casa da vovó”, contam.
Paulo é um colecionador de antiguidades e as usa como decoração do salão. As louças são em porcelana trabalhada, os bules são esmaltados, tudo para garantir a viagem ao tempo. Cada item tem um histórico que é relatado pelo casal a quem quiser saber mais.
Noêmia é responsável pelo preparo das guloseimas e dos licores que vendem. O dom, garante o marido, ela sempre teve. As cucas, os pães e os bolos já eram ofertados informalmente a quem visitasse a casa, como os amigos de suas filhas. “Gostavam tanto que sempre levavam um pouco para suas casas”, orgulha-se ela.
A ideia do negócio partiu daí. E, depois de realizar visitas técnicas em outras cidades, o casal percebeu que todo roteiro tem café colonial e é algo que agrada. Recebem clientes fora dos grupos de turistas, com horário marcado ou livre na primeira sexta-feira de cada mês.
Os Reichert sabem que para chegar ao sucesso o processo é longo, mas para isso procuram sempre participar das capacitações que surgem no ramo turístico. Até agora, cerca de 800 pessoas passaram pelo café.
Orgulho pelo que faz
No Apiário Gisch, se conhece a criação e manejo das abelhas africanas e melíponas (sem ferrão) pelo discurso entusiasmado de Clóvis Valmor Gisch. Ele é um apaixonado pelo que faz. Explica tudo sobre o inseto e a fabricação do mel. Mostra as caixas mais estreitas onde as colmeias se aglomeram no inverno, o processo de decantação, e as curiosidades das espécies. “Eu gosto de passar o conhecimento que eu tenho”
Ele se diverte ao apontar para o turista as sentinelas que defendem a colmeia de invasores, como no caso da Jatay. Exibe orgulhoso a menor abelha do Brasil, a Nigriceps, bem acomodada na sua propriedade.
Das 200 caixas espalhadas em vários municípios, como Capitão, Travesseiro, Forquetinha e outros, Gisch colhe 2,5 mil quilos no ano. São 20 caixas por apiário. Um dos produtos mais valorizados é o da Jatay, custando R$ 40 o quilo. O apicultor cria ainda as espécies Tubuna, Miringuaçu, Manduri e Droriana.
Colhe e pague
Em meio hectare de terra, a Agroecologia Ferrari oferece hortaliças e frutas orgânicas certificadas pela Rede Ecovida, além de um quiosque receptivo aos visitantes. Ao lado de Márcia Ferrari, não falta chimarrão e uma boa conversa.
Sábado é o dia mais movimentado na propriedade. Quando o cliente chega, recebe um chapéu de palha, um cesto e está apto para colher na horta. Depois, é só pesar e pagar. A proprietária deixa o cliente bem à vontade. Quem preferir ela acompanha na colheita.
Ela lembra que quando a comunidade decidiu criar o roteiro, todos combinaram que os empreendimentos seriam diferentes, então as ofertas turísticas não se repetem. Por isso Márcia decidiu inovar, ofertando o sistema colhe e pague. Diz que os clientes consideram uma terapia a proximidade com a plantação. “A gente tem que ter criatividade e sempre investir para melhorar.”
Um visitante indica o atrativo para o outro e a propaganda se faz no boca a boca. Assim funciona entre os empreendedores também. Cada ponto tem produtos dos colegas para vender. “Como é bonito trabalhar pela comunidade, divulgar o local. A gente sempre cresce”, define Márcia.
Mais atrativos
O roteiro Caminhos da Forqueta se completa com outros nove pontos: as duas igrejas – católica São Vedelino e Igreja de Pedra da comunidade evangélica; o Camping do Irineu onde há restaurante, bar, área verde e espaço recreativo; Alambique Maders que produz sua própria cana-de-açúcar utilizada na fabricação da cachaça artesanal; Museu Kamphorst com acervo dos primeiros colonizadores alemães e italianos na região; relógio dos chás com a indicação das plantas medicinais para o horário em que cada órgão do corpo estiver mais ativo; produção de adubo pela Lírios Adubo Orgânico a partir de dejetos suínos e método de compostagem; Trilha da Pedra e Agroecologia Helena que convida para uma reflexão sobre o convívio entre homem e natureza e por fim, o Mirante Sol e Luz de onde se pode avistar Arroio do Meio, Forquetinha, Santa Clara do Sul, Marques de Souza e Lajeado.