Oportuno o artigo escrito por Roger Baigorra Machado, coordenador administrativo do Campus Uruguaiana da Unipampa, na Zero Hora de sábado passado.Num momento em que opiniões se espraiam pelo país sobre o caso da torcedora do Grêmio, é um bom artigo para reflexão:
“A menina errou, claro que sim. Que ela está arrependida, não duvido. Que há uma superexposição da sua imagem, óbvio. Que isso vai marcar ela para o resto da sua vida, vai. Que tem um monte de gente se aproveitando para dar discurso de cuecas, já li e ouvi, afinal, esta é uma situação que os generalistas e moralistas de plantão adoram. Que a menina e todos os que ofenderam o goleiro merecem punição, merecem. Afinal, a lei foi criada para isso. Mas que existe um contexto para tudo isso, existe. E não me entendam mal, contexto não é justificativa ou explicação para o absurdo.
Dentro desse contexto chamado estádio de futebol, muitos vão para torcer e ofender o juiz, ameaçar o bandeirinha, a outra torcida, o time adversário e o seu próprio time. Dentro desse contexto, o juiz vira “filho de uma @#$%” e o bandeirinha filho de outra. E, enquanto a partida segue, o jogador do time adversário vira “veado”, “mercenário” e tantas outras ofensas. No campo, o jogador simula faltas, depois dá soco e cotovelada. E o juiz apita com medo de ter o carro destroçado. Dentro desse contexto, cartola rouba medalha na frente das câmeras e vira presidente de confederação. E, depois de tudo isso, enfim, o jogo acaba.
E as torcidas? Elas quase se matam na entrada e na saída, quando não durante; quando não morrem mesmo. E, duas horas depois, o juiz sai do estádio escoltado. Para muitos, nada disso importa, nem o roubo, nem a falta de ética, nem a corrupção, nem a homofobia, nem as ofensas e nem a violência. Tudo perde importância perante a palavra macaco. Que poder seletivo incrível tem a moral de muitos comentaristas de redes sociais e de outras mídias? Ou tratamos tudo da mesma maneira, com a mesma atenção e rigor, promovendo uma transformação do espetáculo, ou jogamos todo o peso da nossa hipocrisia numa única palavra, ou melhor, numa única menina. Aquela menina faz parte deste contexto de falta de ética e de desrespeito com o outro, assim como o fazem os jogadores, os cartolas, as torcidas, os comentaristas e todos os que ganham dinheiro ao redor desse esporte. Ou atacamos tudo que está de errado, ou seguimos demonizando apenas aquilo que nos é conveniente, numa fugaz e confusa moral. Novamente, afirmo que o contexto em que surgiu a ofensa não justifica e nem explica o absurdo ocorrido, mas compreendê-lo deveria nos tornar menos hipócritas, e querer transformá-lo, mais humanos.”