Um dos fatos de maior repercussão no Brasil, desde o início desta semana, é a mobilização dos caminhoneiros que dia após dia se amplia e seus efeitos já se fazem sentir em pelo menos nove estados.
Quando o movimento começou, não se tinha os sinais ou não se imaginava que a sua extensão chegasse ao ponto alcançado. Os governantes e as autoridades, contestadas e criticadas, demonstravam, no início, indiferença e não acreditavam que os protestos, um tanto isolados, pudessem causar tantos prejuízos e transtornos como hoje registram.
Os caminhoneiros estão se dando conta da força que eles têm. A categoria consegue cada vez mais criar um espírito de grupo e as adesões acontecem em um ritmo acelerado, de maneira que depois de três a quatro dias de paralisação, forçou a Polícia Federal a entrar em ação, recorrendo a dispositivos legais para assegurar o fluxo do trânsito ou o direito de ir e vir dos demais motoristas que precisam utilizar as vias públicas, rodovias estaduais e federais.
Também o governo federal está vendo a necessidade de dar ouvidos ao movimento, acenando com a possibilidade de encontrar-se, sentar, com a categoria. Porém, adiantou que um dos quesitos que motivou o bloqueio em curso, ou seja, o preço dos combustíveis (diesel), em função do último aumento, não poderia integrar a pauta de discussões. É assunto “imexível”. As demais reivindicações da classe, como a legislação que define a jornada de trabalho, períodos de descanso, valores dos fretes, manutenção das rodovias, formam uma agenda que deve ser compartilhada.
A mobilização dos caminhoneiros que está acontecendo em pontos estratégicos, já revela reflexos muito sérios em diversos setores de atividades produtivas, nas áreas de serviços, no abastecimento de produtos, de insumos. A dependência que se denota está a causar um princípio de caos, com danos e prejuízos econômicos relevantes.
Temos visto cenas de mortes de suínos em propriedades rurais em decorrência da falta de ração para alimentar esses animais. Outros fatos mostrados, revelam o descarte de quantidades enormes de leite, por falta de capacidade de armazenamento dos estabelecimentos de produção. Frigoríficos de suínos, frangos e até bovinos, interromperam suas atividades de abate, porque a matéria prima não está chegando. Em certas cidades já não se encontra mais combustível nos postos, porque há o desabastecimento. Os supermercados já se ressentem da falta de itens em suas gôndolas. Esse emaranhado de situações desembocará em outras conseqüências ainda maiores. Pois a tendência é de que o transporte coletivo, o trânsito de ambulâncias e veículos da saúde, daqui a pouco não terão mais liberada a sua passagem pelas barreiras, atingindo sobremodo a população em geral que, em princípio, também imaginava ser insignificante essa forma de protestos.
Embora o governo tente minimizar o impacto desta, que não deixa de ser uma crise de proporções, os danos são irreversíveis. A escassez dos produtos resultará em aumento de preços, inflação, desestabilizando uma cadeia de serviços. E os movimentos possivelmente não se encerrarão por aí. Pois os aumentos das passagens de ônibus (transporte coletivo) que já motivou protestos em outros momentos, tendem a constituir-se outra vez em estopim de intensos protestos.
Instituto Gaúcho do Leite
Na última quarta-feira, a direção do Instituto Gaúcho do Leite e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado tiveram uma audiência com o governo federal, com o intuito de tratar da necessidade de intervenção da União para socorrer o setor do leite no que se refere ao destino de estoque de leite em pó, represado. Essa ação é necessária para manter a viabilidade da atividade.