Vale do Taquari – Os consumidores já estavam indignados com o decreto do governo anunciando o reajuste de R$ 0,22 por litro de gasolina e de R$ 0,15 por litro de diesel, devido a elevação do PIS/ Cofins e da cobrança da Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico (Cide) no valor de distribuição das refinarias.
Em tese, a cobrança iniciaria domingo, 1º de fevereiro, somente na refinaria, e levaria alguns dias até chegar às bombas. Na prática o reajuste foi imediato e passou dos R$ 0,30, chegando a R$ 0,40 em alguns estabelecimentos. Um dos argumentos do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lubrificantes (Sulpetro) é a cobrança de ICMS, com efeito multiplicador sobre o aumento.
Nas bombas dos 15 postos situados nos municípios da microrregião – Arroio do Meio, Capitão, Forquetinha, Marques de Souza, Pouso Novo e Travesseiro – o preço da gasolina comum e aditivada varia entre R$ 3,25 e R$ 3,80, e do diesel comum e aditivado entre R$ 2,68 e R$ 3,25.
Como preço varia até R$ 0,57 no valor cobrado por litro entre os postos anteriormente citados, vale a pena pesquisar preços e negociar diretamente com os postos de combustível. Só em Arroio do Meio, na escolha entre dois postos vizinhos, ao encher o tanque de 400 litros de caminhão o frotista poderá economizar até R$ 160.
O proprietário do Posto Travesseiro Vanderlei Majolo, explica que a margem de lucro continua a mesma, e que além do reajuste, está sendo somado o aumento do percentual de etanol na gasolina de 25%, para 27,5%, que encarece o litro em R$ 0,07, e os encargos tributários.
“O fretamento do combustível e a venda mais baixa em relação a cidades maiores, elevam o custo final nos postos do interior. Os preços deveriam ser menores, mas o comércio de combustíveis segue por lei 10 itens a mais do que estabelecimentos comuns, o que aumenta o custo operacional. Procuramos oferecer um atendimento diferenciado, com condições facilitadas de pagamento e rampa de lavagem, para satisfazer os clientes”, explica.
Já o gerente do Posto Tropeiro de Capitão, Alpídio Luis Gräff, revela que os custos mais elevados em parte estão relacionados a venda a prazo descontada da conta do leite e dos lotes de frangos e suínos. Como em alguns casos os clientes só pagam os débitos após cinco meses, o estabelecimento precisa cobrar as taxas de juros correntes no período.
Boicote comunitário
O reajuste acima do esperado revoltou consumidores de todo o país. E aqui na região não foi diferente. O comprador do Grupo Bremil, Felipe Trasel, 28 anos, morador de Bela Vista, sugere uma forma de boicote comunitário: “Que o combustível está caro todo mundo sabe, mas ninguém sequer pensa em tomar alguma atitude, continuam a andar e andar cada vez mais. Não adianta ir pra rua quebrar tudo e protestar, é preciso fazer sentir no bolso deles, no bolso do governo. Se utilizarmos outras alternativas, ir caminhando, bicicleteando, de transporte público ou compartilhando veículo para ir trabalhar ou ir pra faculdade, com certeza poderíamos causar um impacto nas vendas da Petrobras, que consequentemente seria obrigada a baixar os valores. É mercado, simplesmente mercado, DEMANDA e OFERTA, todos necessitam de combustível, mas é possível racionar e forçar a queda do preço. Por exemplo, se pelo menos um dia da semana fossemos a pé ou de bicicleta para o trabalho, digamos que de 10 pessoas, 2 consigam fazer isso, e que nesse mesmo dia que fossemos a pé, dos outros 8 indivíduos, 4 decidam dividir o transporte, somando isso, já temos 5 automóveis a menos. Porém, não dá pra pensar pequeno, só em nossa volta, nossa casa, nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nossa região, mas sim no Estado, no país. São apenas números, e se fossem olhados com mais apreciação, obviamente seriam melhores. A oferta de combustível sempre existirá, e nesse caso, o governo detém a autonomia de elaboração de preços, porém a demanda somos nós que podemos ditar”, argumenta.
É comum ver Felipe indo a pé para o trabalho pela ERS-130.
Já o proprietário de uma representação comercial de sementes situada em Bela Vista, Paulo Scheid, ainda não fez o cálculo do impacto do aumento do óleo diesel na distribuição. Semanalmente, os veículos rodam pelo menos 1,6 mil quilômetros para atender os pedidos. Segundo Scheid, inicialmente o aumento dos custos terá de ser absorvido. “A empresa ainda não se manifestou, esperamos que até março, abril, quando aumentar a demanda, ocorra um reajuste”, aguarda.
Pior crise em 30 anos
O presidente da Vale Log Adelar Steffler, revela que a própria cooperativa que adquire diesel diretamente das distribuidoras, está pagando R$ 0,19 a mais – diferentemente dos R$ 0,15 anunciados. Nos últimos 80 dias o combustível já foi reajustado em R$ 0,33. No entanto, o repasse integral aos clientes é impossível.
Conforme Steffler, o diesel representa 41,62% do custo do frete, e agora aumentou 9%. Entre outros custos imediatos: 1,21% com Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA) – necessário nos novos caminhões –, 13,21% o salário do motorista e 6% em tributos. Sem contabilizar desgaste dos pneus, custo de recapagem, oficina, seguro, IPVA e a depreciação, “estamos todos trabalhando no vermelho. É a pior crise em 30 anos. Muitos terão de falir para o mercado voltar a ficar bom”, dimensiona.
Outra dificuldade é a diferença do preço entre as regiões do país. Enquanto nas bombas da cooperativa o custo do litro é de R$ 2,45 para o diesel comum e R$ 2,65 para o S-10, em regiões do Centro Oeste o valor chega a R$ 3,22.