Arroio do Meio – Com 11 anos de existência, a Associação Arroio-meense de Amparo ao Idoso (Amai) foi fundada em julho de 1989. O prédio demorou 15 anos para ficar pronto, pois os recursos eram escassos. A inauguração da sede foi em 28 de março de 2004. Hoje a Amai está bem estruturada, com apartamentos para três pessoas, equipados com banheiro, armários e ar condicionado.
Trabalham na casa 25 profissionais, entre eles: um médico, dois enfermeiros, uma psicóloga e uma nutricionista. Prestam serviço ainda: acompanhantes de idosos, técnicas de enfermagem, cozinheiras e copeiras que atendem 36 internos. O custo mensal com folha de pagamento e encargos gira em torno de R$ 45 mil. Para manter a casa funcionando, a instituição cobra de cada interno R$ 2 mil. “O que nos onera muito é a folha que gira em torno de R$ 20 mil. O restante é imposto”, disse Renilda Weizenmann, administradora da instituição.
As despesas aumentam de acordo com o nível de dependência do interno que é classificado de 1 a 5. Inicia em 20% para o nível 1, e pode chegar até 50%. É cobrado também R$ 61 de taxa médica mensal e R$ 10 para compra de material de higiene pessoal. “A maioria é de nível 1. Temos internos de nível 2 e 3, e só um de nível 4”, cita.
Há dois anos a instituição trabalhava com lista de espera. Interessados precisavam enfrentar fila, que em determinadas épocas chegava a 20 pessoas. Hoje, em virtude da abertura de casas geriátricas em Lajeado, a procura diminuiu aumentando o número de vagas.
A rotina na Amai inicia cedo. Antes das 6h os idosos acordam para tomar banho. Os primeiros voltam para a cama até a hora do café, que começa às 9h. Os últimos ficam acordados e vão direto para o refeitório ou ficam esperando, lendo o jornal e conversando. Após o café eles tomam chimarrão e colocam a conversa em dia. “Cada um tem o seu grupo que eles mesmos formam de acordo com suas afinidades. Temos quatro ou cinco cuias rodando dentro da instituição.”
Renilda fala ainda que anteriormente era servido lanche entre o café e o almoço, mas a pedido dos próprios internos essa refeição deixou de ser oferecida. Eles alegavam que o lanche prejudicava o almoço. A segunda refeição do dia inicia por volta das 11h30min, já que muitos internos precisam ser alimentados. Depois disso, são levados para a cama onde dormem até às 13h30min, quando novamente é feita a higiene pessoal. “Aí ficam prontos para receber visitas e para a rodada de chimarrão”. Às 15h eles recebem o lanche e o jantar é servido por volta das 18h.
Esquecidos pela sociedade
Renilda se lembra da apresentação da Invernada Mirim do CTG Querência do Arroio do Meio, momento em que os internos assistiram com muita atenção e alegria. Ela diz que a sociedade deixa a desejar, pois poderia fazer mais pelas pessoas que lá estão. Lamenta a indiferença das pessoas com a terceira idade. “O município é rico em cultura. Temos grupos de danças, inclusive de cultura alemã que poderiam doar seu tempo com uma apresentação a essas pessoas que precisam de um pouco de carinho e atenção, mas ninguém nunca nos visitou”, disse.
Ela ressalta que toda ajuda é bem-vinda, seja em dinheiro, mantimentos ou tempo disponível para uma simples visita. “Eles gostam muito de conversar e cantar. Existem pessoas com tempo disponível, mas não ajudam. Existe preconceito. A sociedade precisa se envolver mais”.
Amor ao trabalho
A enfermeira Keli Cristine Cenim dos Santos trabalha na Amai há quatro anos. Ela sempre gostou de trabalhar com idosos, tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso. “Não me vejo fazendo outra coisa.” Comenta que a proximidade com os internos é muito grande, pois o profissional preenche o espaço deixado pela família.
Diz que na área da enfermagem a pessoa aprende a valorizar a vida, a curtir os pequenos momentos, que não são valorizados pelas pessoas que vivem uma vida agitada em razão dos estudos e trabalho. “Muitas vezes as pessoas trabalham muito e pensam em curtir a vida na velhice, viajando e fazendo as coisas que gostam. Mas pode ser tarde, é preciso viver a vida todos os dias. É importante dedicar um pouco do tempo para fazer o que gosta. Pois não sabemos o dia de amanhã.”
A centenária
Às vésperas de completar 103 anos de idade, Cecília Kerbes Petry é uma mulher lúcida. Com dificuldade na fala e audição, porém feliz, ela fala da chegada do aniversário, que deve ser comemorado ao lado do bisneto. “Eles querem comemorar aqui. Eu faço 103 anos e meu bisneto faz um aninho”, diz emocionada.
Ela chegou na casa há três anos, depois de passar por outra casa geriátrica em Porto Alegre. Natural de Arroio Grande ela conta que na capital passou por problemas de coração e quase morreu. Ela diz que a instituição é muito boa, tem amigos, toma sol e passa alguns dias na cama. Os dois filhos já faleceram, porém tem três netos que moram em Porto Alegre e São Paulo.
Em certo momento, a senhora puxa a coberta e diz, “olha o que fizeram comigo”, mostrando uma das pernas amputada por conta de uma trombose. A operação ocorreu no Ano Novo. Disse que a perna doía muito por conta da trombose e comenta que ficou chateada por ter de amputar. “Mas é preciso olhar pra frente. Estou feliz assim, antes doía muito”, finaliza.
Passatempos variados
Clotilde Maria Buffon Girelli é natural de Encantado. Ela está há cinco anos na instituição e diz que gosta muito do lugar, pois faz muitas amizades. Entre os passatempos está a leitura, com preferência pelo romance. Mas também não fica sem a novela no período da noite.
Com dificuldade na locomoção por conta de um acidente de trabalho, a mulher que hoje tem 62 anos conta sua história de vida. O acidente ocorreu há 15, quando ficou tetraplégica, só mexia a cabeça. Os exercícios e a fisioterapia a fizeram voltar a caminhar. Mas há cinco anos voltou para a cadeira de rodas, quando sofreu outro acidente e quebrou uma das pernas. “De lá para cá não caminhei mais”, comentou.
Apesar disso, Clotilde tem independência. Percorre sozinha o corredor e o pátio, mas depende da ajuda de uma pessoa para deitar e fazer a higiene pessoal. Quase no fim da conversa, ela se lembra de outro passatempo: ouvir rádio. “Isso distrai as minhas tardes aqui dentro”, finalizou.
Já Maria Loch gosta de cantar. Questionada sobre seu passatempo, responde cantando uma música gauchesca. Com 80 anos ela ainda se lembra da infância contando histórias de quando tinha 11 anos de idade. “Lembro tudo de quando era criança, tenho a memória muito boa”, disse.
Entusiasmada Maria conta da rotina na casa dentro da instituição. “Trabalhamos muito aqui. Nosso trabalho é comer e aproveitar o dia”, brinca. “Aqui é muito bom, temos muitos amigos”, completa.

