Crise política, financeira, de valores. Aumento do dólar, da inflação, das taxas de juros. São as notícias ruins que chegam o tempo todo, de todos os lados. Parecem querer massacrar as esperanças de dias melhores e lembrar a todo momento que há uma crise instaurada. Soma-se a este cenário nebuloso, o cotidiano cada vez mais corrido. Vive-se dias de turbulência afetiva, financeira, trabalhista. Crises de nervos, de stress em alta e de astral cada vez mais em baixa.
Sobrecarregados com o ritmo acelerado do cotidiano, o corpo e a mente estão cada vez mais suscetíveis às enfermidades. Nestas situações, pequenas mudanças na rotina, a prática de exercícios e uma alimentação equilibrada, podem fazer toda a diferença. Manter o astral em alta é o primeiro passo para passar por tantas crises sem se deixar tragar pelo desânimo coletivo que elas proporcionam. A psicóloga Cláudia Sbaraini dá algumas dicas de como lidar com o atual momento socioeconômico, sem adoecer o corpo e a mente.
AT – Em tempos em as notícias ruins predominam, o que cada um de nós pode fazer para não se deixar contaminar por essa onda de negativismo?
Psicóloga Cláudia Sbaraini – Primeiro precisamos pensar que o mais importante é em como nos sentimos por dentro. Se estivermos bem e em equilíbrio com nossa vida, situações externas a nós, não irão nos influenciar tanto. Problemas e situações difíceis sempre existiram, estamos cercados disso. A grande diferença é o quanto temos de recursos internos para lidar com tantas situações adversas. Pessoas com muitos conflitos internos e principalmente pessoas mais depressivas tendem a absorver e se identificar com qualquer situação negativa, tem uma tendência a ver tudo com “uma lente de aumento”, introjetando situações negativas. Um simples dia chuvoso pode influenciar no seu humor. Para lidar com isso, é preciso que primeiro se faça uma avaliação interna de nossos sentimentos, verificar se o que está acontecendo vem de uma insatisfação pessoal e o que pode ser feito para mudar isso. O primeiro passo pode ser buscar ajuda para que alguns padrões de comportamentos possam ser modificados.
AT – Sabe-se que o stress desencadeia uma série de problemas de saúde. O que se pode fazer para se manter saudável diante de situações difíceis?
Cláudia – O stress pode variar muito de intensidade. Em situações leves, funciona como um sinal de alerta, pode até ser benéfico, pois aumenta o nível de atenção, no entanto, quando se mantém em um grau elevado e persistente, faz com que a qualidade de vida seja reduzida. Quando nos deparamos com uma situação difícil, que pode surgir repentinamente em nossas vidas, a primeira reação é de alerta e de susto. No entanto, o ser humano tem capacidade de se adaptar a estas situações e de elaborá-las, a isto chamamos de resiliência. Quanto maior a capacidade de resiliência, mais fácil será para enfrentar e resolver os conflitos. Ser resiliente não significa não sofrer, qualquer ser humano sofre e se angustia quando as situações fogem de seu controle ou quando algo não acontece conforme seu planejamento. No entanto, a maneira que se enfrenta os problemas e se procura uma saída é o que torna alguém mais ou menos resiliente.
AT – Muitas têm sido as queixas de pessoas ansiosas ou com insônia e que acabam recorrendo a remédios para relaxar e dormir. Há maneiras naturais de controlar a ansiedade e dominar as preocupações que tiram o sono?
Cláudia – O mundo anda muito imediatista e com pressa. As exigências de uma sociedade extremamente consumista faz com que as pessoas sintam-se angustiadas e sobrecarregadas. Hoje em dia não basta existir e viver, é preciso progredir. Quando entramos nesta exigência competitiva, há o grande risco de sucumbir outras necessidades internas que ficam em segundo plano. O ter torna-se mais importante do que o ser. É fácil encontrarmos queixas de pessoas que se sentem reféns de suas vidas, é como se sentissem “desconectadas”, vivem uma vida quase que clichê, aprenderam que é preciso adquirir, crescer, progredir e não sabem mais como conduzir suas vidas, pois sentem-se tristes. Sonham com outra vida, mas não sabem o que modificar. Sintomas como ansiedade e insônia fazem parte de uma sociedade que se diz moderna mas que anda muito triste. Algumas pessoas precisam chegar ao extremo para conseguir mudar. Quem já não ouviu a história de pessoas que após terem uma doença grave modificaram totalmente suas vidas? Parece que é preciso chegar na berlinda da vida para que o sinal de alerta seja disparado e quando esse sinal é disparado, muitos percebem que o melhor da vida é simplificá-la e não se exigir tanto.
AT – Hoje o Brasil é um grande consumidor de ansiolíticos e antidepressivos. As pessoas preferem usar um remédio ao invés de adotar uma rotina ou atitudes mais saudáveis? Por quê?
Cláudia – Sim, usar um remédio pode ter um custo inferior e aparentar ser mais rápido. Mas usar somente a medicação pode fazer com que as causas dos sintomas não sejam analisadas. É claro que a medicação pode ser benéfica quando bem usada, mas o exagero e o mau uso podem fazer com que as causas sejam negligenciadas. Algumas pessoas tendem a “mascarar” a vida, apoiam-se em medicações psicoativas que as ajudam a manter-se dentro de uma situação, pois não encontram outra saída para resolver seu conflito. Vários estudos hoje já mostram o quanto um tratamento poderá alcançar melhor resultado quando se combina a medicação com tratamentos psicoterápicos, pois além de se aliviar os sintomas, suas causas também são analisadas. Sedar para suportar pode não ser a melhor saída.
AT – Quando as preocupações do dia a dia ou com o futuro passam do campo saudável para o patológico? O que seria o “divisor de águas” e que tipo de ajuda as pessoas devem buscar?
Cláudia – As preocupações diárias trazem malefícios quando se tornam a única e exclusiva ocupação mental. Quando todos os outros aspectos são deixados de lado, família, amigos e lazer. A tendência é o isolamento social e a perda da qualidade de vida, podendo levar a depressão. Quando pessoas ao seu redor começam a se queixar do seu afastamento é hora de parar e analisar o que está acontecendo e ver o que realmente vale à pena. Conciliar momentos de lazer e trabalho é fundamental. Equilíbrio é a palavra chave para uma vida saudável, pois tudo que se faz com excesso faz mal.