Deixar, pela primeira vez, um filho de colo aos cuidados de funcionárias de um berçário pode ser uma experiência traumática para o filho e para a mãe. Uns iniciam essa fase mais cedo, outros mais tarde. Porém, quanto menor a idade, mais preocupante e angustiante para a mãe que esteve, desde o nascimento, todos os dias ao lado do filho.
A adaptação não acontece de uma hora para outra e sim aos poucos. Por isso, nos primeiros dias, as crianças devem ficar por períodos menores na escolinha. Normalmente a mãe deixa de duas a três horas diárias, aumentando a permanência conforme a adaptação.
A psicopedagoga que atua como coordenadora pedagógica na secretaria de Educação, Marlise Führ, ressalta que o distanciamento gradativo entre mãe e filho é uma etapa importante no desenvolvimento do bebê. Ela afirma que apesar deste sofrimento é possível encarar com certa naturalidade esse período, se houver uma compreensão de que a adaptação a um novo ambiente coletivo, fora de casa, representa um período de aprendizagem para a criança e sua família. Conhecer a instituição que o filho vai passar a frequentar e demonstrar confiança na escolha pode auxiliar no processo de adaptação.
Ela observa que não há um consenso sobre o período ou idade para fazer a adaptação, embora haja comum consenso sobre a importância da qualidade da instituição para a ambientação e desenvolvimento da criança. Este período vai depender de diversos fatores, como o retorno da mãe ao mercado de trabalho, a condição de saúde da criança, além da disponibilidade de vagas nas instituições. Normalmente, esta adaptação acontece por volta dos quatro meses.
Outra dica é administrar a sensação de culpa e a emoção na hora de deixar a criança na creche. “Em geral, o adulto sente mais do que a criança na hora da separação. Se o bebê sentir ou perceber o estado de estresse da mãe ou sentir insegurança, tende a se agitar e sentir-se inseguro, o que dificultará a adaptação”, explica Marlise.
Adaptação gradual
A auxiliar em desenvolvimento infantil, Claise Simon, trabalha no berçário da Escola de Educação Infantil Atalaia há quatro anos. Vinte e duas professoras cuidam de seis turmas que somam 116 crianças. O que dá uma média de seis crianças por educador. Por várias vezes ela presenciou momentos em que as mães não contiveram as lágrimas ao deixar os filhos no local. “Nas primeiras vezes elas saem daqui chorando, pois os filhos são o bem mais precioso que as famílias podem ter”, diz.
Ela conta que na Atalaia a adaptação inicia a partir dos quatro meses quando acaba a licença maternidade. O ideal é que antes de retornar ao trabalho a mãe faça a adaptação, deixando os pequenos por curtos períodos na escolinha, para irem se adaptando à nova realidade. Porém, algumas mães não fazem essa adaptação fracionada, deixando-os por período integral já no primeiro dia. “A criança pode estranhar o novo ambiente e as pessoas, por isso, a adaptação em curtos períodos de tempo pode ser menos traumática, tanto para o bebê, quanto para a mãe”, ressalta.
A técnica de desenvolvimento infantil, Diana Immich, salienta a importância de uma visita dos pais à creche para conversar sobre os hábitos do filho, pois cada bebê tem suas características particulares. “Precisamos saber se a criança já se alimenta, o que ela come, quais seus hábitos, que hora costuma dormir e se tem algum problema de saúde. Isso, é muito importante para nós”.
Na escolinha, o filho vai ficar sem ver a mamãe e sem mamar no peito. Por isso, é importante que a mãe comece a introduzir, algumas semanas antes da primeira ida do filho para a creche, alimentos líquidos e sólidos, como, leite, chás, sucos e frutas. Tudo com indicação do pediatra da criança. Com isso, o pequeno não passará fome. No entanto, Diana explica que grande parte das mães deixa para introduzir a alimentação na escolinha. “A maioria dos bebês não sabe comer. Aprendem a se alimentar aqui. É preciso muita paciência com eles, que estão aprendendo a comer”.
Tranquilidade
Com dois filhos matriculados na creche Atalaia, Kauan de três anos e Antonella de apenas seis meses, Daniela Warken diz que a adaptação foi tranquila para Antonella, uma vez que já conhecia os profissionais e a estrutura da escola. Porém, com Kauan foi diferente, já que não conhecia a instituição. Ela se preocupava com o bem-estar do bebê, desde a alimentação até se estava dormindo direito. “Ligava umas cinco vezes por dia. Queria saber se eles estavam se alimentando direito. Tinha medo que eles se engasgassem, esse tipo de coisa”, comenta.