Após pouco mais de nove meses afastado do trabalho para tratamento de saúde, o juiz de Direito da Comarca de Arroio do Meio, João Regert, retomou suas funções no Judiciário no início de julho. Nos próximos dias passa por novo afastamento, mais curto, a fim de realizar uma cirurgia reconstrutiva de intestino. Em outubro deve estar de volta ao trabalho em definitivo e totalmente reabilitado. Em entrevista concedida ao AT, Regert avalia o período em que esteve em tratamento e diz que num primeiro momento sentiu medo, mas que sempre se manteve positivo, confiante na medicina, no tratamento e na providência divina. Afirma que hoje vê a vida de maneira mais simples e que a experiência lhe trouxe aprendizados.
Era setembro de 2014 quando a vida de João Regert e de sua família deu uma guinada radical. A rotina diária foi interrompida por um diagnóstico nada animador, câncer no intestino. Uma cirurgia às pressas era apenas o começo do que estava por vir. Foram 12 sessões de quimioterapia, muito cansaço e indisposição em função do próprio tratamento e o quase isolamento. “Foi um período de paciência, de reclusão em função da imunidade baixa. A gente tem que se conformar com o fato. Tive que me submeter à uma cirurgia emergencial e o tratamento é inevitável, tem que encarar de forma positiva. A dificuldade maior foi o afastamento das atividades do dia a dia. Atividade física praticamente zero, afastamento do trabalho, e o cuidado especial por causa da imunidade. Não podia ter contato com muitas pessoas ou estar em aglomerações para não ter riscos de outras doenças”, conta, de forma serena, sentado em sua habitual sala, no Fórum de Arroio do Meio.
Questionado se sentiu medo, afirmou categoricamente que acredita que há pessoa que não tenha medo da morte. “É uma situação inevitável. Não há nada mais certo na vida de que um dia a gente vai morrer. O receio maior quando se descobre que se tem câncer é: vou morrer. É o primeiro impacto. Depois vai se dando conta de que tem muitos recursos médicos e muitas situações são revertidas”.
O longo tratamento chegou ao fim em meados de junho e no mês seguinte o juiz se sentiu apto e foi liberado a retornar às atividades profissionais. A carga de trabalho está sendo dividida com a juíza Dra. Paula Maurícia Brun, que atende a Comarca desde abril e deve permanecer até outubro. Além do trabalho já executado, o Dr. João destaca que a presença da juíza é um fator positivo para seu retorno, já que precisa recuperar o ritmo depois de tanto tempo afastado. “Foi bom a presença dela, para começar aos poucos. A Dra. Paula fez muitas audiências e sentenças, contribuiu bastante para deixar o trabalho praticamente em dia. Ficamos meio ano em regime de substituição, o que represou muito o serviço”, observa.
A situação que teve de enfrentar e o tempo que esteve em recuperação lhe trouxe aprendizado. “A gente sempre tira lições de situações como essa. Nos damos conta da finitude da vida. Só temos uma certeza na vida, que um dia se vai morrer, mas acabamos vivendo como se nunca fôssemos morrer. E vamos adiando, adiando. Se tem alguma coisa para fazer faça logo e viva intensamente cada momento da vida, independente da idade”, orienta.
Mais do que viver intensamente, Dr. João afirma que é preciso viver bem. E isso significa criar boas relações com as pessoas, relações saudáveis de amizade e no campo profissional. “As vezes a gente se preocupa muito com picuinhas, brigas. A experiência que eu tive me leva a me tornar uma pessoa melhor, com a família, amigos, nas relações profissionais. E uma dica de saúde: se previnam. Fiquem atentos, prestem atenção no próprio organismo que às vezes manda sinais de que não está tudo bem e a gente não dá importância”.
Em relação ao trabalho também deixa um recado. “Não podemos resumir nossa vida ao trabalho. Ele faz parte, é essencial, mas não pode ser a coisa mais importante na nossa vida. É preciso viver, curtir a família, os amigos e se tiver condições, passear, viajar. Acho que as pessoas acordam para algumas situações depois que enfrentam uma situação grave de doença. A conclusão que eu cheguei é de que não se deve trabalhar de mais. Vou diminuir o ritmo, não parar de trabalhar. Vou privilegiar mais outras questões, a família, os amigos. Nunca vi alguém, quando chega no final da vida reclamar que trabalhou de menos. A queixa é sempre o contrário: trabalhei de mais e aproveitei de menos”.
Por fim, afirma que a vida é simples e que somos nós que a complicamos. “A gente complica com coisas pequenas, lidamos com relações humanas, as pessoas são diferentes e as relações são complexas, mas algumas coisas podem ser simplificadas”.
O juiz aproveita a oportunidade e agradece a todas as pessoas que se preocuparam com sua saúde e manifestaram carinho durante o tratamento. Está confiante para o retorno em definitivo em um mês ou dois. João Regert está em Arroio do Meio como juiz há 14 anos. Antes disso residiu e estudou no seminário por três, dos 11 aos 14 anos de idade. Ele afirma que tem um carinho especial pela cidade, já que Arroio do Meio é o lugar onde passou o maior tempo de sua vida, 17 anos.