Arroio do Meio – Mais de 200 pessoas participaram na terça-feira do 8º Encontro Nacional do Pisa – Programa Integrado de Sistemas Agropecuários, realizado no Centro Comunitário São José de Anchieta, no bairro Rui Barbosa. O encontro, voltado para produtores de leite e técnicos, foi realizado pelo programa Juntos para Competir, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O evento contou com a presença de comitivas de vários municípios do Estado.
O desafio de produzir mais alimentos
Teodardo Calles, da divisão de plantas leguminosas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/Roma) foi o primeiro palestrante da tarde. O pesquisador falou sobre o trabalho da FAO no mundo. O grande desafio da organização é ajudar a acabar com a fome, alavancando a produção de alimentos sem deixar de cuidar dos recursos naturais, a fim de garantir que as próximas gerações também possam produzir.
Hoje, são pelos menos um bilhão de pessoas que passam fome em todo o mundo. Em 2050 a população vai chegar a oito bilhões e a demanda de alimentos será ainda maior. Por isso, a FAO vem trabalhando para que os países desenvolvam mecanismos de produção mais eficientes, preservando e usando da melhor forma os recursos naturais.
O trabalho da FAO consiste em avaliar sistemas de produção adotados em alguns países, na tentativa de adaptá-lo para outros. “As equipes avaliam informações, sistemas e assim pode se dizer se aquela opção é boa para determinada área ou não”, observou Calles.
O elemento chave desse projeto de agricultura é economizar: produzir com menos insumos, mas melhorar a produção. Os programas integrados de produção, como o Pisa, podem ser um bom exemplo deste modelo de agricultura defendido pela FAO. Contudo, para que funcionem, Calles defende a valorização do conhecimento do agricultor. “No passado muitos projetos falharam porque o foco era a intensificação da produção. Produzir de forma integrada exige muito conhecimento. E neste aspecto, para ter sucesso nesse tipo de sistema, se precisa o conhecimento do agricultor”, frisou, destacando que houve um período em que a pesquisa (universidade) e o agricultor estiveram separados. A pesquisa dizia como deveria ser feito e a ideia é justamente o contrário: pegar o conhecimento do agricultor e construir a partir dele.
Ainda em relação aos sistemas integrados de produção, Teodardo apontou diversos pontos positivos, como a manutenção dos ecossistemas, o controle de pragas de forma biológica, a diversificação da lavoura – o que reduz o risco da atividade, já que se uma atividade falhar a outra oferece renda – e a redução do uso de pesticidas. Sobre os pesticidas, o palestrante afirmou que se houver necessidade eles devem ser usados, mas de forma sábia e eficiente.
Para o representante da FAO é preciso soluções locais, com cada região desenvolvendo o sistema de produção que melhor se adapte à sua realidade. Neste sentido, observou que o melhor seria se cada produtor conseguisse produzir sua própria semente. Sementes adaptadas ao local reduzem em 50% o uso de agroquímicos, trazendo benefícios para o meio ambiente, além de economia, já que não são produtos baratos e encarecem a produção.
Ao finalizar sua fala, Calles disse que a missão da FAO é criar abordagens para a agricultura sustentável, protegendo, conservando e usando de forma eficiente os recursos naturais. Isso tudo sem esquecer que o ser humano também faz parte do ecossistema e que o agricultor também precisa ser protegido.
O empoderamento das famílias
O sucesso do Pisa na região das Missões foi a base da apresentação do professor do Instituto Federal Catarinense – campus Videira/SC Marcos Augusto Paladini dos Santos . Com o tema Pisa: Integrando conhecimento inovador, gestão sistêmica e empoderamento da família rural num case de sucesso, ele apresentou os dados do programa e, sobretudo, frisou o contentamento das famílias participantes.
Segundo Paladini, o sucesso do programa se dá não só pelos números, mas por toda mudança que proporciona nas famílias participantes. Observou que tecnologia tem muito mais a ver com o uso do conhecimento do que saber operar máquinas. E esta é uma das propostas do Pisa, levar conhecimento, aprimorar o trabalho do produtor. Além disso, o Pisa possibilita o empoderamento familiar, com decisões compartilhadas, ampliação e realização dos sonhos e fixação ou retorno dos filhos para o meio rural, o que traz ganhos maiores, que não podem ser medidos financeiramente.
Assim como Teodardo, defendeu a valorização do conhecimento do produtor e o tripé universidade, assistência técnica e produtor. A universidade pesquisa, produz conhecimento, a assistência técnica busca soluções para cada produtor e o agricultor possui uma bagagem de conhecimento. E é a partilha desses conhecimentos que gera o desenvolvimento. “E o Pisa conseguiu fazer isso”, afirmou dizendo que o programa valoriza o agricultor e toda sua experiência.
O professor frisou que todas as decisões referentes ao programa são tomadas pela família. “O técnico dá apoio, mas quem decide é o produtor porque é ele quem corre os riscos”. E é justamente este um dos aspectos que garante o sucesso do programa, já que a família não é destituída do poder de decisão sobre sua propriedade.
A importância dos cuidados com o solo
O solo do contexto dos sistemas integrados de produção agropecuária foi o tema da palestra do professor Ibanor Aghinoni, do Departamento de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Aghinoni apresentou dados sobre o solo, o plantio direto e estudos de produção integrada com soja e pecuária na região do Planalto gaúcho.
A preservação do solo é necessária já que ele é responsável pela ancoragem das plantas e o suprimento de água, oxigênio e nutrientes. Um solo pobre vai resultar em déficit produtivo. O professor explicou que desde o início da colonização, o uso no solo brasileiro se caracterizou pela implantação de sistemas imediatistas que visavam à exploração cíclica e migratória dos recursos naturais. Em consequência disso, na década de 1960, 10% da população gaúcha deixou o estado, pois o solo estava exaurido.
No estudo de caso do Planalto gaúcho, o palestrante lamentou que em torno de cinco milhões de hectares sejam usados exclusivamente para a produção de soja num sistema que não pode ser considerado plantio direto. Disse que seria possível a integração o cultivo da soja com a criação de gado, mas os produtores não o fazem por questões culturais e pelo mito de que o gado compactaria o solo. No estudo, ficou comprovado que não há compactação do solo com a presença do gado, desde que seja adotado o manejo adequado.
Resultados conferidos na prática
Na quarta-feira a programação teve continuidade com o 6º Dia de Campo do Pisa, com visita a duas propriedades rurais em Picada Felipe Essig que estão integradas ao Pisa.
O encontro que foi aberto no Clube Esportivo Travesseirense com a saudação do prefeito Ricardo Rockenbach, reuniu cerca de 250 pessoas, entre técnicos, consultores, dirigentes do Sebrae, Emater, representantes de empresas ligadas ao setor leiteiro e produtores de Travesseiro, Arroio do Meio, Pouso Novo, Capitão, Marques de Souza, Fontoura Xavier e Guaporé.
Após dividir os inscritos em grupos, seguiram para as visitas. A primeira parada foi na propriedade de Alexandre Becker. Na primeira estação, Becker que está no programa desde o início de sua instalação em Travesseiro, em 2012, apresentou a sua propriedade composta por 22 hectares, sendo 17 hectares agricultáveis. Neste espaço mantém um plantel de 32 vacas e uma pocilga de terminação de suínos.
No mesmo quadro o produtor apresentou números sobre produção e desempenho econômico e falou de sistemas de adubação das pastagens. Disse que desde que participa do Pisa teve um aumento considerável da média diária de produção de leite e de custos em sua propriedade.
Becker disse que o objetivo é chegar a uma produção de 16 mil litros de leite ano por hectare de terra. Citou que o manejo das pastagens é fundamental na produção de mais leite. Destacou a importância de se observar o horário para as ordenhas, fornecimento de água para os animais e o controle da temperatura. Durante as suas explanações, Alexandre, disse que segue a risca as orientações dos técnicos do Sebrae e elogiou a metodologia de trabalho do Programa Pisa.
No segundo quadro ainda na propriedade de Backer, os produtores assistiram explicações sobre Plano de Produção Integrada, com ênfase para o desafio do produtor de ter pasto verde durante todo o ano com volume e qualidade. Este desafio somente será alcançado com a aplicação de um plano de uso da propriedade com um correto sistema de plantio, adubação e controle do solo.
A visita seguinte aconteceu na propriedade de Celso de Potter. Com uma área menor em relação a Alexandre Becker, o produtor possui 14 hectares agricultáveis, onde atua com 16 vacas. Cita que suas terras apresentam desníveis. Celso de Potter apresentou números relacionadas a sua propriedade que estavam num quadro, onde compara o antes e depois do Pisa. Disse que sua propriedade teve um desempenho altamente favorável após a instalação do programa com aumento do número de animais e produção de leite. O produtor também teve melhora em seus rendimentos com a baixa dos custos de produção.