A propósito do comentário que fiz na semana anterior, sobre a necessidade de as indústrias gaúchas de aves e suínos tratarem da importação de milho para atenderem a demanda de um crescente consumo, o fato chama cada vez mais a atenção, visto que o insumo é fundamental para a alimentação dos rebanhos.
O milho produzido no Brasil valorizou-se internamente, a partir da exportação de volumes razoáveis, elevando, consequentemente, o preço praticado. O produto ainda disponível em outras regiões do país chega ao Rio Grande do Sul, cotado em mais de 50 reais o saco. Enquanto isso, as indústrias que estão em negociação com fornecedores argentinos estimam que possam ter o cereal entregue no Estado, com uma diferença que pode ficar próximo de 10 reais o saco. Aparentemente dá a impressão de ser uma quase insignificância essa diferença, mas considerando o grande volume cogitado para a importação, o “ganho” não deixa de ser relevante, onerando um pouco menos o produtor, com reflexos também no preço final dos produtos para o consumidor.
A “safrinha” que possivelmente estará disponível daqui a dois meses, poderá alterar um pouco o panorama de hoje, mas não deverá ser a solução para as dificuldades encontradas. A insegurança com que as indústrias e os produtores se deparam é uma força contrária ao empenho que esses setores desenvolvem para ampliarem as suas atividades, buscando sempre mais novos mercados consumidores.
Imagem da Contag comprometida
A organização do Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais do Brasil, representada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Contag, registra uma mancha e uma cicatriz profunda, a partir de um fato ocorrido na semana passada.
Animado e empolgado por participar de um ato público e de elevado cunho político, em Brasília, um dos integrantes da diretoria da Contag, incitou e estimulou a utilização de formas e meios de violência nas mobilizações dos trabalhadores pela conquista de seus direitos.
Referindo-se principalmente à questão da Reforma Agrária, o dirigente sindical coloca como meta ações com o uso de força, violência, desobediência legal, declarando guerra a produtores e proprietários de terras, sobretudo aos políticos que possuem patrimônio.
A atitude do líder sindicalista recebeu uma imediata e dura reprimenda de parte das três Federações de Trabalhadores na Agricultura – FETAGs, do RS, SC e PR, que divulgaram uma nota oficial, dizendo que “a região sul se manifesta veementemente contra o conteúdo do pronunciamento do Secretário de Finanças e Administração da Contag, no que se refere à forma de atuação do Movimento Sindical. Esse não reflete o entendimento da base, que quer Justiça Social, mas não quer violência, não quer retaliação e quer que a corrupção e a roubalheira sejam investigadas e os culpados sejam punidos…”.
As três entidades dizem ainda que “o papel do Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais, em todas as suas instâncias, é de defender, amparar e organizar os trabalhadores e sempre lutar para manter os seus direitos e tendo a isenção de bandeiras políticas partidárias”, cobrando esclarecimentos da diretoria da Confederação sobre o episódio.