Estava, inicialmente, decidido a não fazer qualquer comentário, neste espaço, sobre o recente processo eleitoral, que culminou no último dia dois de outubro.
Mudei de atitude a partir do princípio de que a omissão e a indiferença em nada contribuem para uma avaliação e tentativa de construção de um processo mais transparente, equilibrado e saudável, nos aspectos de moralidade, legalidade e honestidade.
Os fatos revelados, os episódios narrados e o “teatro” assistido nos dão a convicção de que vivemos em um ambiente em que a “cultura política” é raquítica, frágil e imatura. E um grande número de eleitores é extremamente vulnerável, submisso a interesses de terceiros, movido por estímulos que depõem contra a liberdade de decisão de cada qual. Pois no momento em que entra em jogo uma “negociação”, acabou o caráter de autonomia e da livre escolha e perde-se o direito de reclamar.
A decisão do voto é ou deveria ser livre e democrática. Mas, mais uma vez, quantos tiveram que cumprir compromissos, porque alguém lhes concedeu benefícios (algum material pago pelo município, serviço executado pelo município, transporte, remédios, privilégios em procedimentos na saúde, emprego de familiares, acenos de perdão de dívidas públicas, enfim…)?
É muito comum e ultimamente tornou-se praxe ouvirmos manifestações de eleitores falando mal da classe política, do político, chamando-o de corrupto, ladrão e outros qualificativos mais! No entanto, positivamente, não existe nenhum político corruptor se não há o indivíduo que permite ou force a corrupção, a partir da imposição de exigências em troca do voto. O político toma a atitude que o eleitor quer.
Quem, afinal, é o pior? – O político, o candidato (e registre-se que muitos participam de eleições com as melhores intenções e verdadeira disposição em fazer uma campanha justa, honesta e em alto nível!), ou o eleitor que muitas vezes exige o quase impossível dos candidatos que, para tentarem chegar ao objetivo, ao êxito de uma eleição, sujeitam-se a humilhações, a vexames, penalizando suas famílias, só porque pretendem, ali adiante, fazer um trabalho comunitário?
As lições de uma campanha ou de um processo eleitoral são muitas e surpreendentes. O que deveria ser um exercício de cidadania transforma-se em pesadelo e desesperança, quando se pensa em política decente, saudável e construtiva. Pois ver gente de posições destacadas em uma sociedade, que se julga desenvolvida, utilizar-se de meios, de privilégios, para defender interesses próprios e até mesquinhos não provoca outra coisa senão decepção.
Saber que gente “intelectualmente desenvolvida” circulou madrugadas afora, noites que antecederam a eleição, com dinheiro na mão para “comprar votos”, considerando isso uma proeza, ou uma ação inteligente ou ainda uma esperteza política, é na verdade uma demonstração de desequilíbrio de caráter, uma destruição de valores éticos e morais, contribuindo para uma ‘involução” do nosso processo eleitoral.
Espera-se e clama-se por uma reforma política, não paliativa, de mera maquiagem, mas de profundidade, em que o jogo inicie com o placar em zero a zero, como em qualquer disputa, dando a ela legitimidade e equilíbrio.