Arroio do Meio – Será lançado na noite da quinta-feira (24), durante a celebração do Dia de Ação de Graças, o aguardado livro: Cultura, Sociedade e Igrejas – A Comunidade de Arroio do Meio Escreve a Sua História. A obra de 750 páginas e muitas fotografias marca a comemoração dos 100 anos da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O evento inicia às 20h na Rua de Eventos e integra as comemorações dos 82 anos do município.
O livro foi idealizado em novembro de 2014 durante o planejamento das celebrações do centenário da paróquia católica. Aborda a importância das comunidades de fé no decorrer de mais de 100 anos. Foi elaborado por um grupo editorial com apoio de evangélicos e luteranos.
Confira a entrevista com o professor Roque Danilo Bersch, um dos coordenadores do projeto.
AT – Qual é o tema central do livro?
Roque Danilo Bersch – Logo que chegaram a Arroio do Meio, os europeus “da pequena propriedade rural” fundaram comunidades de fé religiosa. O exemplo clássico da Picada Arroio do Meio é esclarecedor: a ‘primeira dúzia’ de casais começou a organizar sua comunidade de fé bem antes de um padre passar por lá. Celebravam o domingo e as festas, com oração na casa de um e de outro, antes de terem capela. Depois fizeram a capela, que serviu também de escola. Só anos depois, ouvindo que havia padres em Estrela, pediram a visita deles. Isso foi contado por um deles há exatamente um século.
Então, pergunta-se: esta organização da sociedade, com base numa fé religiosa, terá sido um fato positivo para nosso Arroio do Meio tornar-se um espaço bom para a gente morar, trabalhar, se divertir? Ou teria sido melhor que nada disso tivesse havido? Esse questionamento crítico é o tema.
AT – Quais foram os objetivos do projeto?
Roque Danilo Bersch – Não espere do livro um trabalho acadêmico. Para ser isso, ele exigiria muito mais recurso humano e material. O que o marca é a intenção de provocar uma reflexão entre nós mesmos, em especial as gerações mais novas, sobre o seguinte: afinal, onde está o sentido de eu fazer parte de uma igreja? O que importa é que o cidadão busque para si uma coerência interna: ‘Isso é bom para mim e para a comunidade? Então eu quero participar’. A fé cultivada nas religiões cristãs leva em consideração máxima que continuamos existindo em Deus, após a morte biológica; mas seria incoerente só pensar na eternidade, sem preocupação com a vida presente e as organizações que regem a vida do cidadão. Por isso essa fé exige nossa preocupação com a boa qualidade da vida presente e com o espaço do Universo que é a nossa ekos, a nossa casa, o Planeta. Nossa saúde corporal e espiritual exige que sejamos coerentes conosco mesmos: que acreditemos naquilo que praticamos. Voltamos à temática: a comunidade que fomos e somos tem sido assim? Quais os acertos e quais os erros que a história nos aponta?
AT – Que metodologia foi usada na elaboração do texto?
Roque Danilo Bersch – As estratégias para fazer o texto foram escolhidas de acordo com o objetivo. A primeira: esclarecer toda a população sobre o que se pretendia fazer. A segunda: convidar todos a participar do resgate e registro da história de sua comunidade local, desengavetando fotos e documentos, fazendo reuniões para avivar a lembrança do passado, enfim, conhecer a história de acordo com os fatos e não apenas de ouvir dizer. Claro, essa tarefa foi mais difícil em algumas comunidades do que em outras. Enquanto isso, pessoas com disponibilidade, os autores do livro, se deslocaram atrás de fontes de informação menos acessíveis: livros, arquivos, cartórios, pessoas e lugares distantes.
A terceira: promover a reflexão, individual, em família ou outros grupos, ou comunitária, sobre a questão temática. Conhecendo bem a história, que elementos – positivos ou falhos – localizamos nesses anos passados? As comunidades puderam fazer esse exercício, parcial, durante o ano do centenário. O livro traz o panorama geral. No decorrer dos trabalhos, não resistimos à tentação de recuar no tempo até 1873, que é quando – veja, mais de dez anos da chegada dos Gerhard a São Caetano – foi criada a paróquia católica de Estrela e as igrejas começaram a amparar essas comunidades espontâneas. Foi assim que o texto nasceu e cresceu.
AT – Como e quando foi idealizada a realização?
Roque Danilo Bersch – Em novembro de 2014, durante o planejamento das celebrações do centenário da paróquia católica. Mas, lá pelas tantas, a ideia extrapolou o interesse dessa paróquia e ganhou a dimensão de sua temática final. Percebemos então que era necessário convidar as outras duas paróquias cristãs que, em Arroio do Meio, têm o mesmo tempo de atuação que a católica: a IECLB (aqui chamados ‘evangélicos’), e a IELB (os ‘luteranos’). Tendo a parceria delas, seria indelicado que a paróquia centenária continuasse a “autora” do projeto, que deixou de ser um plano paroquial, para se tornar assunto de interesse desses outros públicos e do município como um todo. Quem, então, se dispôs a coordenar e encaminhar o projeto foi o Núcleo de Cultura de Arroio do Meio, que, assim, merece o agradecimento da comunidade municipal.
AT – Quem foi a e quipe que elaborou o livro?
Roque Danilo Bersch – Além das dezenas de coautores das várias comunidades, que coletaram e enviaram as histórias e os documentos locais, apresento a equipe central, os autores que tiveram presença contínua na obra, alguns mais na pesquisa, outros na redação, ainda outros na coleta e produção dos registros fotográficos: Alfonso Antoni (padre), Carla Schroeder, Egídio Grün (pastor), Euclides Scheid, M. Dolores Bersch, Milton Schmidt, Paulo A. Weizenmann, Paulo Steiner, Rosali Mantelli, Roque Bersch e Valmir Simon (pastor).
AT – Quais foram os maiores desafios?
Roque Danilo Bersch – O maior deles foi esclarecer que, além de fazermos o registro da história, queríamos refletir sobre essa história, para retirar lições. Pensando bem, essa é uma tarefa que deve ter continuidade. O fim de um século é, graças ao bom Deus, o começo de outro…
AT – Quanto custou a realização? Quanto conseguiram da LIC?
Roque Danilo Bersch – A primeira dessas perguntas é muito difícil de responder. Eu não saberia como calcular o número de horas, muito menos o custo por hora de cada um dos autores e coautores e tantos outros participantes. Felizmente isso tudo foi trabalho voluntário, com custo zero para o projeto, assim como o foi a participação dos alunos do 9º Ano das escolas e os do Ensino Médio, bem como a das pessoas, famílias e outros grupos que contribuíram com seus retornos para aquele questionário de crítica da história. Além disso, vários outros custos (papel, deslocamentos) foram minimizados ou zerados pelos autores, por profissionais, como a AGEA Comunicações de Lajeado, a MAGO Fotografias, a Daniel Comel Wallerius, da cidade.
As despesas que representaram custos em dinheiro foram orçadas em R$ 71.799,18. A Lei de Incentivo à Cultura – LIC aprovou o financiamento do projeto até R$ 65.649,18, a serem cobertos pelas empresas Cosuel, Girando Sol E Vonpar, em parte com o recurso de impostos devidos e, em 25%, com os do próprio Caixa das mesmas. A diferença para o total será paga com a venda de 410 exemplares, autorizada pela LIC, ao preço de R$ 15. A distribuição gratuita será feita exclusivamente para pessoas jurídicas: as comunidades das paróquias, os seus grupos de serviço, as escolas e bibliotecas, o município, outras entidades de serviço, entidades culturais, paróquias vizinhas, a sede da diocese São João Batista etc. É impossível promover uma tiragem para entrega indistinta a pessoas físicas, ou mesmo, famílias.
AT – O livro foi impresso em preto e branco?
Roque Danilo Bersch – O orçamento acima previa isso; mas o Conselho Administrativo da paróquia católica, depois de avaliar melhor o projeto, decidiu assumir uma despesa extra na produção. Isso se materializou nos custo da diferença para impressão a cores.