Tema de comentário de alguns meses atrás, a Nota Fiscal Eletrônica, que será obrigatória para os produtores rurais a partir de 31 de março de 2017, traz cada vez mais preocupações para milhares de pequenos agricultores não acostumados a lidar com a tecnologia da informática ou que estão em áreas onde a internet ainda não chegou.
Tenho percebido uma ansiedade, principalmente daqueles que estão vinculados a sistemas de integração de suínos e frangos de corte, assim como os produtores de leite, que necessitam, com bastante frequência, emitir documentos fiscais, caso das notas fiscais (papel), com a utilização dos talões de notas, modelo 15.
Há uma movimentação no sentido de adaptar o sistema de emissão das Notas, com a sugestão de que as próprias indústrias pudessem oferecer este suporte técnico para os seus fornecedores, ou seja, os produtores integrados.
O governo do Estado, em breve, deverá manifestar-se sobre essa possibilidade considerando, sobretudo, a precariedade do sinal de internet em grande parte das regiões produtoras.
Investimentos x Desânimo
O setor de produção de leite continua a viver situações de contrariedade. Enquanto indústrias de laticínios anunciam elevados investimentos para um futuro não distante, chegando próximo a dobrar a capacidade de captação do produto, aqueles que produzem seguem angustiados, na expectativa de uma reversão do quadro atual.
Continuamos a ver os preços diminuírem mensalmente para os produtores e muitos deles conseguem, na melhor das hipóteses, “empatar”, ou seja, não obtêm nenhum lucro, quando não pagam para trabalhar. Os custos de produção não recuaram em nada nos últimos meses, havendo sim vários itens ou insumos com real crescimento, fazendo aumentar ainda mais o desequilíbrio e a inviabilidade econômica da atividade.
A tendência de baixa dos preços do leite para o produtor poderá perdurar por mais alguns meses, em consequência da diminuição no consumo, fato normal e que se repete em todos os anos, no verão e a produção continuará no seu melhor período, pelo menos até fevereiro ou março do próximo ano.
O governo federal andou ensaiando uma medida de proteção à nossa produção, proibindo a reidratação de leite em pó importado em alguns estados do Nordeste. Essa ação não produz os efeitos necessários, faltando iniciativas mais amplas e eficazes.
A mais antiga cultura…
A cultura do trigo, segundo a nossa história, é a mais antiga do Rio Grande do Sul, dando origem às lavouras gaúchas e teve importante papel no desenvolvimento econômico do Estado.
Em 1976, portanto há 40 anos, o RS plantava 2,1 milhões de hectares de trigo. Neste ano de 2016, a área plantada com o cereal foi de apenas 768 mil hectares.
O preço mínimo definido pelo Ministério da Agricultura é de R$ 38,65 para o saco de 60 quilos, mas os valores que o mercado oferece ficam abaixo do “garantido” pelo governo, perdendo, inclusive para a cotação do milho. Consequentemente, o trigo de boa qualidade está sendo destinado para a produção de rações para os rebanhos animais, ao invés de servir para a alimentação humana.
Um dado interessante é que até o início dos anos 90 toda a produção de trigo nacional era adquirida pelo governo. No momento em que o Ministério da Agricultura deixou de intervir na compra e industrialização do trigo, a cultura vem enfrentando uma desvalorização a ponto de deixar de ser viável. Importações e a falta de uma política governamental causam também nessa atividade, desconforto e desânimo.