Dezenas de moradores estiveram reunidos na noite de quinta-feira, 09 de fevereiro, com a intenção de se organizar para sensibilizar as autoridades da segurança pública – Brigada Militar, Polícia Civil, Ministério Público e Poder Judiciário.
O encontro realizado no salão da Comunidade Luterana São Paulo, no Centro de Arroio do Meio, foi coordenado pelo pastor Jair Erstling e líderes comunitários, contou com a presença de vítimas de arrombamentos, furtos e assaltos, representantes dos Poderes Legislativo, Executivo e Eclesiástico.
Na visão de Erstling o cenário de crimes não condiz com os níveis de desenvolvimento socioeconômico do município, e está gerando traumas, intranquilidade e a sensação de medo entre a população. “Não queremos que ninguém morra para que sejam tomadas providências […] garanto que se invadissem a casa de autoridades as atitudes seriam outras”, expõe.
Diversas vítimas expuseram seus relatos e medidas de inibir crimes, como instalação de dispositivos de segurança e cães de guarda de grande porte. Entretanto, apesar do déficit no efetivo, estrutura sucateada, policiais com salários parcelados e legislação penal branda, o grupo acredita que há mecanismos para reprimir a impunidade.
O prefeito Klaus Werner Schnack defendeu um diálogo local com as autoridades da segurança pública, Ministério Público e Judiciário, e colocou a Administração à disposição para parcerias de investimentos, como o videomonitoramento. Caso a mobilização local não surtir efeito, um dos caminhos será sensibilizar autoridades da Secretaria Estadual de Segurança, para a disponibilização de mais policiais para o município. Paralelamente será reativado o Conselho Comunitário Pró Segurança Pública (Consepro).
De acordo com o militar aposentado Valdecir Crecêncio, a lei brasileira é interpretativa e as autoridades judiciais podem aplicar penas mais severas se quiserem, especialmente para punir indivíduos que praticam delitos com recorrência. “Não se pode chegar ao ponto de culpar as vítimas […]. Na Barra do Forqueta uma mobilização semelhante surtiu efeito há cerca de dois anos”. Segundo Crecêncio, uma medida interessante seria envolver policiais em trabalhos na Assistência Social e Conselho Tutelar.
Na visão de especialistas em segurança, o efetivo no município atua com a metade dos policiais necessários e o foco muitas vezes acaba sendo o trânsito e não a segurança. O policial ambiental Dari Scherer, atribui as aposentadorias prematuras dos brigadianos à falta de compatibilidade em atender as diretrizes dos superiores e os anseios da comunidade.
O uso de drogas é tido com um dos principais responsáveis pela prática de pequenos furtos. Por isso, há líderes que defendem uma maior participação dos pais e familiares na vida dos filhos. Ao mesmo tempo, também é cobrada maior fiscalização à rede de receptação de objetos furtados.
Novo governo comprometido com o videomonitoramento
O coordenador da secretaria da Indústria, Comércio e Turismo, Carlos Henrique Meneghini, afirma que o município já tem a solicitação para participar do Sistema Integrado de Videomonitoramento do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Taquari (Consisa-VT).
“Estamos aperfeiçoando os detalhes técnicos, definindo a quantidade de câmeras e os pontos estratégicos, visto que só podem ser utilizados prédios públicos ou instalados postes exclusivos”, explica. Para a operação do sistema será feito convênio com a BM.
Atualmente, as únicas câmeras de vigilância pública estão instaladas na praça matriz Flores da Cunha e na Área de Lazer Pérola do Vale. As oito câmeras da praça não estão funcionando desde 10 de janeiro, quando um raio atingiu o sistema. O setor de informática do município está elaborando um projeto para licitar a substituição do equipamento.
Pouca adesão das empresas ao Programa Menor Aprendiz
Cinco profissionais atuam no Centro de Referência em Assistência Social (Cras) do município. O foco de atendimento é com grupos prioritários – Bolsa Família, famílias com registro de ato de violência, famílias com filhos no Abrigo de Menores, pessoas com deficiência (PCDs), casos de evasão escolar e pessoas encaminhadas pelos Poder Judiciário e Ministério Público, idosos, jovens aprendizes – com destaque para a convivência e fortalecimento de vínculos.
De acordo com a assistente social Ana Cardoso, um profissional do Cras é direcionado para atender medidas socioeducativas e encaminhar menores infratores a trabalhos voluntários em escolas, abrigos e instituições de saúde. Essa força tarefa é realizada em parceria com os conselheiros tutelares. “A comunidade quer medidas emergenciais, mas o trabalho da assistência social é preventivo. É preciso investir mais na escola de pais e no trabalho social voluntário, com participação de toda a comunidade”, defende.
Segundo Ana, a principal causa da violência é a desigualdade social, que é potencializada pelas drogas. Entretanto, atualmente poucas empresas do município aderiram ao Programa Menor Aprendiz para dar a primeira oportunidade de emprego a menores entre 14 e 16 anos, especialmente para indivíduos que tem histórico infracional. “Se a comunidade não abraçar, o tráfico e o crime vão”, observa.
Impunidade estimula reincidência
De acordo com o Capitão Eduardo Senter, comandante da 3ª Cia do 22º Batalhão da Brigada Militar, os dados da Operação Avante apontam redução na maioria dos crimes, com exceção aos roubos de veículos e estabelecimentos comerciais, que cresceram consideravelmente.
O roubo de veículos esteve atrelado a uma quadrilha regional que foi desarticulada ainda no primeiro semestre. Já o roubo a estabelecimentos comerciais têm relação com criminosos que estão em liberdade provisória. “Geralmente são os mesmos estabelecimentos. São escolhidos pela falta de mecanismos de segurança e facilidade de rota de fuga. Depois do remanejamento dos policiais para os horários mais críticos a prática diminuiu. Mas a BM não tem como estar amparando o comércio o tempo todo”, explica.
Conforme Senter, somente a união da comunidade em torno de uma pressão política, pode resultar na cedência de mais brigadianos para o município, pois o governo prioriza índices demográficos e de violência. A articulação, segundo ele, deve ocorrer até junho quando mais de 1,2 mil policiais vão se formar na academia.
Para atenuar os índices, sugere a contratação de segurança privada. “Apesar de todas as limitações, a BM vai continuar trabalhando, mas precisamos da ajuda de todos, inclusive dos outros órgãos de segurança e justiça”, defende.
O Capitão acredita que o videomonitoramento será importante para a prevenção de crimes e investigações, porém, ressalva que a impunidade é o principal fator da reincidência. “Há uma inversão de valores. E sem punição, as vítimas acabam sendo esquecidas”, complementa.