Em Arroio do Meio apenas cinco empresas estão vinculadas atualmente a iniciativas sociais para inserção de jovens e cidadãos menos favorecidos no mercado de trabalho. Para o Centro de Referência em Assistência em Social (Cras), a parceria com os empregadores tem sido fundamental para dar oportunidades de renda digna, diminuir a desigualdade social e atender as necessidades individuais e familiares.
Neste ano mais de dez pessoas já foram direcionadas a empresas. Segundo a assistente social Ana Cardoso, as pessoas procuram o Cras para emergências, como receber uma cesta básica, e acabam sendo encaminhadas para um emprego. O direcionamento ocorre de acordo com o perfil dos interessados. Obviamente que nem todos se adaptam.
O município é muito procurado por pessoas de outras regiões em decorrência do bom índice de desenvolvimento humano, porém, o sucesso na busca por trabalho é incerto. Uns acabam desistindo e voltam para os locais de origem.
A questão mais delicada é com os jovens que ainda não têm poder de decisão quanto a seu futuro. Na visão da assistente, a sociedade precisa estar aberta a dar chances aos menores que tem histórico infracional. “Se a comunidade não abraçar, o tráfico e o crime vão. Se todos fizerem uma pequena parte conseguimos transformar o medo em amizade e respeito”, observa.
Além do Cras, o Sistema Nacional de Emprego (Sine) e Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social (FGTAS), também faz encaminhamentos de profissionais.
Na Vonpar S/A, atualmente são 17 pessoas de 14 a 24 anos enquadradas no Jovem Aprendiz Legal Normal e quatro pessoas na modalidade de Pessoas Com Deficiência (PCDs). As primeiras vagas são oferecidas a filhos de funcionários e posteriormente abertas à comunidade em geral, por meio da parceria com o Cras.
De acordo com a analista de RH, Patrícia Dametto, a empresa paga o curso profissionalizante de administração ou manutenção no Senai, vale-transporte e bolsa de meio salário mínimo. É necessário estar estudando. Na modalidade normal o período de curso é de seis meses, com a possibilidade de contratação mediante a análise de currículo. Na modalidade PCD são seis meses de aulas teóricas e seis meses de práticas dentro da empresa para aprendizados de noções gerais, responsabilidades individuais e experiência com efetivação.
A Especialidades Vandrea tem parceria com o Cras desde 2005. Atualmente conta com três funcionários encaminhados pela Assistência Social empregados em tempo integral, e quatro jovens aprendizes, que estudam pela manhã e durante meio turno ajudam na colheita de produtos hidropônicos. Um dos funcionários após a oportunidade cursou o Ensino Médio profissionalizante agrícola, se formou em Biologia, e continua sendo funcionário da empresa.
A Fênix Segurança atende contratos institucionais, empresariais e corporativos, realizando segurança de prefeituras, empresas e eventos. A jornada de trabalho se estende a serviços noturnos e nos fins de semana. Todos os colaboradores têm vínculo empregatício. Geralmente os profissionais encaminhados já possuem experiência.
Metade do quadro de colaboradores da CGA Calçados do bairro Bela Vista, são jovens que estão no seu primeiro emprego ou pessoas que precisam da renda. Atualmente conta com 30 menores com idade entre 16 e 18 anos, que por lei não podem trabalhar com máquinas e produtos químicos, e são direcionados para atividades manuais e práticas. O treinamento de capacitação leva em torno de três meses. “São jovens que têm facilidade no aprendizado e valorizam a primeira oportunidade. É um público que tem menor rotatividade e se encaixa no setor que é de manufaturamento. Só cumprimos com o nosso dever que é a contribuição prática que o empresário deve dar à sociedade”, expõe o sócio-proprietário André Schmitz.
O Grupo Bremil possui convênios com Senai, por onde oferece o programa Teórico Jovens, num curso técnico de dois anos e com o Ciee num curso teórico e prático também de até dois anos. No segundo, o aprendiz trabalha quatro horas na empresa e no outro período faz o curso na área administrativa. Em ambos os participantes podem ser aproveitados após a conclusão do curso. Lembrando que 5% das vagas do quadro funcional são guardadas para esse tipo de ingresso. Atualmente a empresa conta com nove aprendizes.
O Cras tem papel na indicação de funcionários que participam de processos seletivos realizado pela triagem de currículos recebidos. Para a Bremil, os incentivos de formação técnica são fundamentais para apoiar novos talentos para oportunidades futuras e prepará-los para as atribuições dos cargos.
Cursos direcionam participantes para áreas específicas
Felipe Bernstein, 23 anos, morador do bairro Medianeira, tomou conhecimento do programa Jovem Aprendiz por meio de um cunhado que já atuava numa indústria que oferecia o treinamento. Quando tinha 16 anos fez o curso de mecânica e manutenção do Senai. Iniciou estágio na então Wallérius do Brasil poucos meses após concluir o curso, e foi efetivado posteriormente. “Sempre tinha interesse e expectativas em atuar nessa função e nessa empresa”, revela.
No seu cargo é responsável principalmente pela manutenção corretiva, mas também realiza ações preventivas. A lida começa cedo, às 4h. “Não podemos deixar as linhas de produção parar. A correção precisa ser a mais eficiente e rápida possível. E sempre buscamos melhorar o conhecimento a respeito do maquinário que é um dos mais modernos da América Latina, e inclui tecnologia robótica”, revela.
Atualmente Bernstein cursa um técnico de eletromecânica, e futuramente pretende cursar uma graduação de engenharia ou gestão. “A oportunidade proporcionada pelo programa é incomparável com a trajetória normal dentro de uma empresa, que seria começar sendo auxiliar de produção. O curso proporciona qualificação e direciona os participantes para áreas específicas, formando bons funcionários nos quais as empresas podem confiar. Recomendo a alternativa para todos os jovens que estão indecisos quanto à carreira e querem ingressar no mercado de trabalho de forma diferenciada”, orienta.