Sair da casa dos pais, morar em outra cidade e em outro país, enfrentar as diferenças da língua e dos costumes. Estes foram somente alguns desafios superados por Mariangela Matte quando decidiu morar na Inglaterra. Nascida em Nova Bréscia, viveu parte de sua infância em Capitão e, com cerca de seis anos, mudou-se com os pais para Estrela. Entretanto, possui fortes laços com Arroio do Meio, cidade onde morava sua avó paterna e local onde passava fins de semana e férias colegiais.
Em férias pela Pérola do Vale, Mariangela concedeu entrevista na sala da casa de sua tia Maria Helena Matte, na companhia do marido, o inglês Charles e dos filhos Samuel e Natalia. Em um bate-papo descontraído, a família falou sobre a vida na Inglaterra. Mariangela não lembra ao certo, mas vive no país há cerca de 20 anos, parte desses em uma cidade chamada Northwisch, região de Cheshire próximo a Manchester onde se casou e constituiu família. Tudo começou quando viajou para a Inglaterra para aprimorar o idioma. Um ano depois voltou para o Brasil e dois anos mais tarde estava de malas prontas para a Inglaterra de novo. “Gostei do país, da organização. Lá havia muitas oportunidades de emprego e então resolvi voltar”, revela.
Mariangela conta que a adaptação foi difícil. Apesar de estudar o idioma e ter formação em Letras, conta que se comunicar foi o principal desafio encontrado. Revela que falar no dia a dia é diferente de aprender a língua, pois há sotaques e expressões locais difíceis de entender. “Pensei que soubesse falar inglês. Mas estava enganada. Se adaptar à cultura, ao trabalho e o sistema não foi muito fácil”.
Lá trabalha como funcionária pública, uma espécie de assistente social aqui do Brasil, onde atende pessoas em vulnerabilidade social. Principalmente estrangeiros excluídos e com dificuldades financeiras. Sobre economia fala que o país vem se recuperando de uma crise financeira que afetou o país há aproximadamente oito anos. Com essa recessão, os salários dos trabalhadores foram congelados, gerando sérios problemas.
Mais recentemente citou o referendo chamado Brexit, realizado pelos britânicos em 2016 no qual optaram por separar-se do bloco econômico europeu. A decisão trouxe instabilidade para o país que vive um clima de incertezas. Com a medida, a economia se retraiu, uma vez que as pessoas estão evitando gastos desnecessários. A preocupação é maior na parte empresarial e comercial que restringiu investimentos, prejudicando toda a cadeia econômica. Essa decisão histórica pode mudar a geopolítica mundial nas próximas décadas. “As pessoas tinham muito medo de sair do mercado europeu. Não sabemos como a economia reagirá e qual será o impacto nos próximos anos. A situação poderá se agravar, pois não há previsões certas sobre isso”, conta.
Sobre segurança, Mariangela revela que existe sim medo de atentados terroristas. Contudo, o temor é maior nas cidades de grande porte e turísticas como Londres, pois nesses lugares circulam um grande número de pessoas. “Claro que o medo de atentados terroristas existe, mas os ingleses não se abalam, saem de casa, vão para as ruas, tentam levar a vida normalmente. São muito patriotas”, revela.
Ao contrário de Londres e dos grandes centros, na pacata cidade de Northwich, onde mora, quase não existem roubos e furtos. As casas não possuem grades e muros como no Brasil e os veículos ficam em frente às residências sem problema algum. “Até agora fiquei sabendo de dois pequenos furtos no nosso bairro. E foi só isso”, conta.
Sobre a educação, Mariangela revela que a escola pública e a particular se equiparam na qualidade. Ambas são excelentes. No entanto, lembra que a escola particular é muito cara e só as pessoas com melhores condições financeiras conseguem pagar. Observa que o governo realiza inspeções anuais nas instituições a fim de garantir a qualidade das mesmas. “Lá a população faz pressão popular no intuito de melhorar a educação. Nesse sentido as escolas procuram melhorar e oferecer uma educação de qualidade. Uma instituição quer ser melhor que a outra”, observa.
Sobre o clima, a família destaca que o inverno é muito longo e chove muito com dias cinzentos e úmidos. O verão é quente, porém as temperaturas não ultrapassam os 25 °C. Entretanto, no norte do país as temperaturas são mais elevadas. Charles lembra que na maioria dos dias de inverno não consegue ver a luz do dia. Pois sai de casa por volta das 6h e retorna por volta das 19h, período em que já escureceu. “Saio escuro e quando retorno já é noite”, conta.
Quando perguntado sobre qual é a impressão que tem do Brasil, Charles opina dizendo que tem a percepção que o brasileiro é mais despreocupado e menos ambicioso que o inglês. Conta que na Inglaterra as pessoas são muito rigorosas em relação ao horário e extremamente competitivas. Trabalham muito para obter o que querem. Fala ainda que diferentemente do brasileiro, o britânico cumpre a legislação e as leis rigorosamente, enquanto aqui tentam burlar as normas. “Se o vizinho compra um carro novo, o outro vai lá e compra outro melhor. A competitividade é muito grande. Muitas vezes gastam mais do que ganham para ter mais que o outro”, conta Charles.