Morando há apenas dois meses em Arroio do Meio, Manuel Matheus, de 84 anos, já está adaptado à cidade. Com sorriso largo no rosto e fala mansa, ele conta que o município oferece condições favoráveis para uma vida tranquila, digna e feliz. Bem diferente da vivida até pouco tempo, quando morava na pequena, São João do Cariri, cidade de 4,5 mil habitantes, situada no agreste pernambucano.
Deitado em uma rede confeccionada por artesões que ficaram no agreste, conta que decidiu vir para o Rio Grande do Sul a convite de amigos que chegaram antes em Arroio do Meio, há cerca de seis meses. Todos moram em uma casa alugada no bairro Aimoré e somam cinco pessoas. “Falaram que aqui havia água boa em abundância, emprego para os jovens e uma cidade rica. Então decidi vir para cá. Aqui é muito bacana”, revela.
Seu Manuel conta que a vida no agreste pernambucano é sofrida em razão da falta de chuva. Lembra que não chove há pelo menos cinco anos na região. Os poços que resistiam também secaram e a água para beber chega em caminhões pipas do exército a qual é distribuída gratuitamente. A forte seca devastou plantações e quase dizimou criações de gado e animais de pequeno porte. Os animais que ainda restaram são alimentados com uma mistura de capim seco, xique-xique (espécie de cactus) e forrageira, essa última, comprada a um alto custo. Sem a chuva, a terra seca e árida se torna infértil e com a falta dela vai embora também a esperança de dias melhores. “A força da economia vem dos aposentados. O único dinheiro que circula é da terceira idade”, enfatiza.
Manoel lembra que essa não é a primeira vez que abandona sua cidade natal e o agreste pernambucano. Buscou oportunidades no Rio de Janeiro e São Paulo, onde trabalhou na construção civil. Porém, depois de algum tempo, retornava às suas origens. O posicionamento do pai foi seguido por oito dos nove filhos. Eles trabalham na capital paulista e carioca, grande parte na construção civil. Entretanto, um deles não abandonou as origens e ainda hoje vive em São João do Cariri seguindo o ofício do pai, o de pedreiro. “Um deles trabalha com caminhão de entrega em São Paulo. Esse está bem”, revela o pai orgulhoso e complementa: “ainda tenho minha casa de oito cômodos lá no sertão. Não tenho paradeiro fixo, quando aqui não estiver de meu agrado, volto para minha casa. O cabra nunca deve se desfazer de seu rancho.”
Caminhando pelas ruas do bairro Aimoré na companhia de seu melhor amigo, um cão de pequeno porte, o aposentado admira-se com a diversidade de plantas de colorações variadas, porém predominantemente o verde. Lembra que certo dia caminhava por uma rua quando passou em frente a um terreno, no qual o proprietário colhia espigas de milho verde. “Ele me deu várias espigas que cozinhei. Estavam muito saborosas. Lá no sertão nunca iria encontrar uma lavoura de milho. Nem no interior, nem na cidade”, revela.
A abundância de frutas chama atenção de seu Manuel que em outra caminhada encontrou alguns pés de bergamotas e laranjas sobre a calçada em área pública. “Aqui tem muita fruta. Laranjas amarelinhas e muito doces. Dá gosto de ver aqueles pés carregados. Lá não existia isso. As frutas vinham de longe, de Petrolina, e por isso, eram muito caras”, explica.


