A preocupação com o futuro de uma das maiores cooperativas do Vale do Taquari fez com que um grupo de associados criasse, em 28 de junho, o Movimento Reconstrução Certel. O Movimento cobra por mais transparência na gestão das cooperativas Certel Energia, responsável pela distribuição de energia elétrica e da Certel Desenvolvimento, que engloba as demais atividades, como as lojas. Também manifesta preocupação com a qualidade no fornecimento de energia elétrica e com o patrimônio cooperativo.
Alexandre Schneider, um dos líderes do grupo e que atuou na cooperativa por duas décadas, diz que a Certel nunca decresceu tanto como nos últimos anos. Chegou a ter em torno de 70 lojas e 1450 funcionários. Hoje são 26 lojas e 550 funcionários. Além disso, para reduzir as dívidas teve de se desfazer de parte do seu ativo. Para ele, os números nem de longe refletem um bom momento, a começar pelo grande contingente de pessoas desligadas. “O momento atual exige um choque de governança. É preciso a reaproximação do quadro social”, argumenta.
O quadro social ao qual se refere é composto por cerca de 70 mil associados. Apesar de praticamente todos terem direito a voto, nas últimas assembleias as decisões foram tomadas por um grupo muito pequeno, em torno de 200 pessoas. “Uma falta de representatividade muito grande. Se não é possível levar todos para uma assembleia, o que de fato é complicado, é preciso encontrar outras formas de envolver os associados”, defende.
Além da pouca representatividade nas assembleias, os dados seriam apresentados de forma superficial. São duas assembleias, já que são duas cooperativas, realizadas em uma única tarde. Na opinião do Movimento, o curto espaço de tempo faz com que os dados não sejam aprofundados de forma que fique claro para os associados os reais impactos de cada decisão.
Uma das soluções apontadas por Alexandre e por Airton Vollmer, que também integra o Movimento, seria a realização de pré-assembleias nos municípios, além de ter mais representantes dos associados. “Esse trabalho que estamos fazendo não é só mostrar uma chapa para concorrer (a eleição de diretoria ocorre no primeiro trimestre de 2018). O foco principal é criar grupos de trabalho, estudar as cooperativas, ver o que pode ser feito e depois montar um plano de trabalho com a participação do associado”, observam.
A ideia é evitar a sangria de recursos da Certel Energia para a Certel Desenvolvimento. Oficialmente, só nos últimos três anos, cerca de R$ 20 milhões já foram repassados de forma oficial, da cooperativa de energia para sanar prejuízos da outra. Como o quadro social das duas não é o mesmo, o Movimento Reconstrução Certel considera a prática, no mínimo, injusta para com os associados da Certel Energia. “A preocupação principal é com o futuro da Certel Energia já que, se continuar assim, a qualidade do fornecimento de energia, que ainda está boa, pode cair”, afirmam.
Este é um dos motivos pelos quais o grupo tem visitado entidades, prefeitos, vereadores e organizações de diversos municípios pedindo que estes lembrem ao associado da Certel para ouvir todas as partes para depois tirar suas conclusões. Para os líderes do Movimento, os veículos de comunicação oficiais da cooperativa afirmam que está tudo bem. “Precisamos descontruir essa ideia junto ao associado, mostrando que têm coisas boas sim, mas que também há sérias dificuldades que não estão sendo noticiadas”, salientam.
O Movimento busca maior engajamento do quadro social, fazendo com que este tenha conhecimento real do que representa ser associado, estando ciente dos seus direitos e deveres como tal. “O associado tem o direito de supervisionar o que acontece e o dever de acompanhar o andamento da cooperativa mais de perto. O grande objetivo do trabalho no momento é fazer o associado se dar conta e compreender que ele faz parte da cooperativa. Ele é o dono e, no mínimo, precisa saber o que está acontecendo para então tomar posição”, defende Schneider.
A agenda do Movimento, no momento está na fase de estruturar o grupo, com comissão coordenadora e grupos de trabalho específicos para elaborar um plano de trabalho interno. Mais adiante serão levados à comunidade dados e números, que apontam a real situação das cooperativas. “O momento é de desconstruir a ilusão de que está tudo bem, mostrar a realidade e reconstruir, tentando melhorar. Com calma, fazendo o que for preciso fazer, colocando nomes à disposição com um bom plano de trabalho a ser executado”, declara Alexandre.
Em crescimento
Mais de 20 dos 47 municípios nos quais a cooperativa tem atuação já foram visitados pelo Movimento Reconstrução Certel. Com duas reuniões realizadas, o Movimento já conta com mais de 70 integrantes, entre os quais conselheiros e líderes de núcleo da Certel, líderes comunitários e outras lideranças. Dentre os municípios já representados estão Teutônia, Lajeado, Salvador do Sul, Progresso, Canudos do Vale, Boqueirão do Leão, Marques de Souza, Pouso Novo, Boa Vista do Sul, Santa Clara do Sul, Westfália, Tupandi, Barão, Forquetinha, Poço das Antas, Sério e Arroio do Meio.