Esta semana marca o 85º aniversário de um episódio da Revolução Constitucionalista de 1932. O Combate do Fão, ocorrido no amanhecer de 13 de setembro de 1932, e que foi marcado por um violento combate entre apoiadores gaúchos da Revolução Constitucionalista e tropas armadas do governo estadual de Flores da Cunha, na localidade de Barra do Dudulha, hoje nos limites entre Pouso Novo, Progresso e Fontoura Xavier, mas na época, divisa entre Lajeado e Soledade.
No início de setembro, um grupo de constitucionalistas de Soledade, comandados pelo general Cândido Carneiro Júnior (Candoca) partia em direção a São Paulo para prestar auxílio aos paulistas na revolução. O objetivo era depor o presidente Getúlio Vargas. Do outro lado, uma tropa do governo, com cerca de 200 soldados era acionada para combater os oposicionistas. Na localidade de Campo Branco, situada hoje no município de Progresso, forças lajeadenses se concentraram para apoiar os revolucionários. O Combate do Fão ainda hoje é lembrado, até porque deixou dezenas de mortos, sendo que alguns teriam sido enterrados num cemitério da localidade e também porque envolveu diversos moradores de Lajeado e Soledade.
O Combate
Conforme relatado no diário do combatente Jorge de Paula, revelado mais tarde, às 20h do dia 12 de setembro, o acampamento dos revolucionários na Barra do Dudulha foi atacado por forças da Brigada Militar com tiros de fuzil e rajadas de metralhadora, dando início ao combate. No amanhecer do dia seguinte, iniciou-se o confronto decisivo. Os revolucionários tiveram o auxílio da neblina cerrada que levantara do rio Fão, encobrindo as margens do manancial, não permitindo que os soldados do governo os localizassem. Estes lutavam em desvantagem no número de combatentes e na qualidade do armamento e quantidade de munição. Às 10h, a neblina subiu e o campo ficou visível. O ataque dos governistas se intensificou. Os revolucionários entrincheirados em diversos pontos, atrás de uma cerca de pedras que haviam preparado e atrás de árvores, só ouviam as balas ricochetearem nas pedras e descascar as árvores.
Passado do meio-dia, os revolucionários foram despistando e se escondendo na mata, para se reencontrar mais tarde na localidade conhecida como Gramado. O General Candoca, com sua montaria, utilizou uma pequena balsa. Passaram o rio e se dispersaram, tomando diversos rumos. Em 14 de setembro a Brigada Militar abandonou o local. Vindo de Bela Vista do Fão, o frei franciscano Tiago Scheffers, com alguns moradores foi ao local e encontrou os corpos de cinco revolucionários que foram sepultados no local. Também já estavam sepultados no local os tenentes João Cândido Alves Filho e Orestes Pereira Marçal; o cabo Rivadávia Cardoso dos Santos e os soldados Frederico Brito da Silva e Nestor Osvaldo dos Santos. Quanto ao destino dos revolucionários, alguns foram presos, outros receberam perdão do governo. O número de mortos até hoje é uma incógnita. Alguns falam em seis, outros em mais de cem.
Conta-se também que uma caixa de ferro com armas estaria no fundo do arroio Dudulha. Natural da localidade, Janaine Trombini, formada em licenciatura em História pela Univates pesquisou e lançou no ano passado a obra “O Combate do Fão”, onde aborda o assunto.
Para a historiadora, o local e a história merecem atenção especial. “Além de somente lembrar no mês de setembro, um dos maiores ‘sonhos’ é construir um acervo próximo do cemitério, pois muitas pessoas vêm visitar o local e não tem nada além do cemitério com mais informações. Penso ser muito válido que os municípios em que o Combate do Fão esteve envolvido, retificarem anualmente palestras em escolas, associações, CTGs e comunidades. Estes momentos fazem fortificar e divulgar este episódio tão importante na região e pode trazer à tona outras contribuições para o Combate do Fão. Esse ano, mesmo com os 85 anos do Combate do Fão, procurei algumas prefeituras e não obtive resposta”, comenta.