O relato da história de amor e de superação do casal Odilo Lancini e a mulher Nadir Daldon Lancini, que perderam os dois filhos, foi o ponto alto da segunda edição da Noite das Famílias, celebrada no sábado à noite na Igreja Matriz de Arroio do Meio.
Organizada pelos grupos de jovens da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a Noite das Famílias esteve voltada ao quarto mandamento: Honrar pai e mãe. No intuito de aproximar e fortalecer o vínculo existente entre os jovens, suas famílias, a escola e a igreja, a atividade também contou com a participação da Escola Guararapes e do Colégio Bom Jesus São Miguel, que através de relato, vídeo e cantos, demonstraram como se dá a integração da escola com a família em cada educandário.
Para o padre Felipe, que celebrou a missa e também coordena o trabalho com os jovens, a família deve ser muito valorizada, pois é o santuário da vida.
Força e fé para superar as perdas
Odilo, 71 anos e Nadir, 69, são naturais de Linha Alegre, divisa de Arroio do Meio com Encantado. Nasceram, foram criados e sempre se mantiveram muito cristãos e próximos à família. Salientam que a família é o lugar de dar sentido à vida. Tiveram dois filhos, Jackson e Janaína. A menina não se alimentava direito e ficou em tratamento até os 15 meses. Por uma fatalidade, um mês depois, afogou-se num tanque no qual a família tirava água para os animais, num momento em que estava em casa sob os cuidados de Jackson, o irmão mais velho. Com a perda, o casal se viu sem chão, como se o mundo tivesse desmoronado, num misto de sentimentos, que incluía a culpa por ter deixado duas crianças sozinhas em casa, apesar de isso ser comum no meio rural.
Depois de muito lamentar a perda, mas sempre mantendo a fé em Deus, as orações e o envolvimento comunitário, o casal conseguiu deixar a dor passar, restando apenas a saudade. Para que o filho Jackson pudesse estudar sem se ausentar de casa, a família se mudou para Encantado. Nadir continuou lecionando e o marido, que até então era agricultor, tornou-se pedreiro.
Com o passar do tempo, Jackson também começou a trabalhar e ajudou os pais a comprar um carro. E foi justamente com este carro que sofreu um acidente em maio de 1991, num sábado à noite, depois de ir à missa com os pais. Faleceu na madrugada de segunda-feira e mais uma vez os pais choravam a perda de um filho.
O desânimo e a tristeza acompanharam os dois por muito tempo e a oração lhes deu sustento para permanecerem de pé. Apesar de todo o sofrimento Nadir e Odilo aceitaram aos desígnios de Deus, com muito apoio da família e dos amigos. Aos poucos foram juntando os cacos novamente e seguiram a vida, apesar da casa e dos braços vazios.
Em julho de 1998 adotaram uma menina com então cinco anos de idade e que vivia em situação de vulnerabilidade. Conforme relataram, era uma criança que tinha medo e carência de tudo. Por muitas vezes achavam que não iam dar conta da adoção, mas nunca desistiram e seguiram em frente, impondo limites com amor.
Hoje Giseli tem 25 anos e comemora o dia da adoção como se fosse seu aniversário. Participa de grupo de jovens e é bastante próxima à igreja, assim como os pais adotivos.
Ao final do depoimento, o casal afirmou que apesar de tudo é muito feliz e que ambos sentem-se gratos pela força e a coragem que receberam para abrir um novo caminho e reescrever sua história, bem como por todo apoio que receberam da família e dos amigos dos diversos grupos que participam. O depoimento encerrou com Giseli cantando Ilumina, ilumina, do padre Zezinho. A família Lancini foi muito aplaudida e, ao término da missa, recebeu inúmeros abraços dos presentes, comovidos com a história.
Antes de finalizar a programação, o padre Felipe conduziu a consagração das famílias à Nossa Senhora Aparecida.