Com quase duas décadas de existência, a Conservas Linken, de Janaúba (MG), tem na superação e na técnica de produção inspirada num hábito familiar do interior de Arroio do Meio, as principais virtudes da empresa. Hoje a marca possui clientes fidelizados no Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Sul, com destaque para o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Bahia, Goiás, Minas Gerais e Santa Catarina. Além disso, mantém 18 empregos diretos na linha de produção e gera 300 postos de trabalhos indiretos em pequenas propriedades de agricultura familiar num sistema semi-integrado.
Entretanto o ingresso no setor de conservas não foi por acaso e ocorreu em decorrência de uma necessidade de renda. Natural de Linha 32, Vito Warken, no início da carreira profissional foi gerente de postos da Cooperativa dos Suinocultores de Encantado (Cosuel) em Arroio Grande e Conventos. No fim da década de 1980, assumiu a gerência do projeto de colonização em Iraí de Minas, mas foi desligado do cargo quando ocorreu o desmembramento da unidade mineira da Cosuel.
A primeira experiência no campo empresarial foi no plantio de bananas que não prosperou por uma série de fatores ligados às mudanças na política econômica (transição para o Plano Real e desvalorização do dólar) e de mercado, que fizeram o preço da caixa do fruto despencar de R$ 24 para R$ 1. E, como os contratos de aquisição de áreas foram firmados na moeda estrangeira, a capitalização ficou inviável.
O recomeço foi desafiador. Ele e sua esposa Isabel Linck Warken (natural de Dona Rita), até conseguiram empregos de um salário mínimo, mas isso, de certa maneira, sacrificaria os sonhos dos quatro filhos com um futuro melhor. Foi quando perceberam na compatibilidade entre a habilidade de Isabel em fazer conservas, o clima e o arranjo produtivo do norte mineiro, uma oportunidade para se reerguer. “Minha mãe Othilia tinha como hábito fazer conservas com características mais naturais do que as industrializadas e meus irmãos Imeldo e Ivaldo voltaram de intercâmbio na Alemanha com uma técnica de envasamento à vácuo que aumentava a durabilidade dos pepinos conservados”, recorda Isabel.
Por um período, Vito precisou trabalhar em outro emprego do setor de comércio de hortifrutigranjeiros, novamente como gerente, para obter capital de giro para investir no aumento das linhas de produção, até então artesanais, para a fábrica se tornar autossustentável. O início foi lento e difícil. “O fato de sermos gaúchos ajudou a abrir mercados incialmente com churrascarias, e a boa aceitação do nosso produto entre os consumidores multiplicou os clientes”, relembram.
Paralelamente à estruturação da fábrica, foi implantado um trabalho de assessoramento técnico, fornecimento de variedades e insumos e financiamento da mão de obra para as colheitas, com a finalidade de garantir o fornecimento de matéria-prima de qualidade com os agricultores.
Atualmente o faturamento líquido por ciclo de cultivo gira entre R$ 15 mil e R$ 25 mil em meio hectare, e se tornou uma boa alternativa de renda às pequenas propriedades. A rama do pepino se desenvolve em 30 dias e a colheita dura 60 dias. É possível colher 50 toneladas por ano num hectare. O minimilho é colhido em 60 dias, é importante para correção do solo e alternativa para silagem, pois há muitos produtores de queijo na região. Já as pimentas geram frutos o ano inteiro. É possível colher 60 toneladas por ano num hectare. Apenas entre dezembro e fevereiro, que é o período chuvoso na região, a produção na lavoura dá uma pausa.
Como durante o ano não chove, a irrigação ocorre pelo sistema de gotejamento. A água vem do Projeto Jaíba (idealizado pelo governo de Ernesto Geisel) que abastece mais de 300 mil hectares, localizada entre a margem direita do rio São Francisco e a esquerda do rio Verde Grande, por meio de canais e das estações de bombeamento.
Além de Janaúba, a empresa possui integrados em Jaíba, Verdelândia, Matias Cardoso e Porteirinha, numa faixa de 70 km quadrados. Também é feita uma política de preços relevando a padronização da produção.
Os produtos que lideram o ranking em vendas são a pimenta biquinho, o minimilho, pepino e picles. Na sequência está o quiabo e o minigiló. Ainda são envasados batatinha, beterraba, cebola, cornichon, pequi, tomate seco e pimentas dedo de moça, de cheiro, malagueta e cumari do Pará sortidas. “Estamos incrementando a linha de pimentas, com molhos e geleias. O consumo de temperos está aumentando pois substitui o sódio e a pimenta e é importante para saúde”, ressalvam.
Mais da metade da produção industrializada, cerca de 60%, é destinada para outras fábricas de conservas. São alimentos pré-conservados distribuídos em barricas. Semanalmente são quatro toneladas de minimilho, 65 toneladas de pimenta biquinho e 350 toneladas de pepino.
Os outros 40% são comercializados pela marca com padrões de qualidade reconhecidos e apreciados por consumidores exigentes, encontrados em cantinas, lojas especializadas e com distribuidores. “São alimentos mais frescos e nosso método de processamento garante um sabor mais natural”. São envazados mais de sete mil potes de conservas por semana. Além disso, mais de 1,5 toneladas de produtos in natura são direcionados ao Sul do Brasil em carretas refrigeradas a cada semana. “Não temos custos com vendas, 95% dos pedidos são realizados por telefone, whatsapp e online. Apenas um representente no Rio de Janeiro. Muitos dos nossos clientes são distribuidores”, revelam.
A gestão da empresa é familiar. Vito é responsável pela relação com fornecedores e negócios com atacadistas. Isabel gerencia os Recursos Humanos. A filha caçula Camila, é Engenheira de Alimentos. Felipe faz o controle administrativo e contábil. E o filho mais velho, Tiago, é responsável pelos negócios envolvendo produtos in natura. Apenas um dos filhos não trabalha na empresa, e segue carreira na Coteminas (empresa do falecido ex-vice-presidente José Alencar).
Mais sobre Janaúba
Janaúba é um município situado no norte de Minas Gerais, considerada a Capital da Serra Geral. O clima é semiárido. Sua fundação foi em 1948. A população é de 71,8 mil habitantes, segundo o IBGE. O orçamento é de R$ 150 milhões. É proporcionalmente bem inferior ao de Arroio do Meio porque não existem indústrias, e a agricultura, a pecuária, comércio e serviços, não geram tanto valor adicionado. Mesmo assim, a cidade possui três universidades e um hospital de referência. O comércio é forte, porque a região é isolada, mais de 100 km distante de outros polos.
Apesar da distância do Vale do Taquari, os arroio-meenses consideram enriquecedora a convivência com diferentes pessoas de todo o país. Isabel e Vito também integram o Lions Clube, e presidiram a entidade em 2011 na cidade. “É uma entidade que nos oportuniza em ajudar quem precisa mais do que a gente”, reiteram.


