Um grave acidente ocorrido na tarde de terça-feira, no acesso à Vale Log e Neugebauer, na ERS 130, tirou a vida de Raul Frigo Ferreira, de 43 anos, morador de Capitão. O motociclista trafegava no sentido Arroio do Meio/Lajeado quando teve a frente obstruída por uma carreta com placas de Passo Fundo que saía do estacionamento da cooperativa de transportes localizada às margens da rodovia. O Samu foi chamado para atender a ocorrência, mas Frigo não resistiu aos ferimentos e acabou morrendo no local. Ele não tinha habilitação para conduzir a motocicleta.
Frigo era natural da Argentina e trabalhava há três anos como auxiliar na Granja Scheidt, em Capitão, da qual o prefeito Paulinho Scheidt é sócio-proprietário. Ele deixa esposa, que também era da Argentina, e quatro filhos. Familiares estiveram em Capitão para o enterro que ocorreu no cemitério municipal. Conforme informações da granja, na terça-feira, dia do acidente, Frigo havia pedido dispensa do trabalho para resolver assuntos particulares.
Em menos de uma semana foram dois acidentes com morte na ERS 130, situação que vem chamando a atenção não só de motoristas que trafegam por essa rodovia, mas também de autoridades e toda a sociedade civil organizada. O outro acidente ocorreu na quinta-feira da semana passada, por volta das 6h40min, no km 90 da rodovia, nas imediações da fábrica de leite em pó da Dália e envolveu seis veículos levando a óbito a funcionária pública Eliane Ebone Lawall, 34 anos, moradora de Lajeado.
Local merece atenção: O local onde Frigo morreu é um dos mais perigosos da rodovia e merece atenção especial das autoridades em razão do grande número de veículos de carga que acessam empresas localizadas às margens da rodovia, gerando assim grande número de acidentes graves. Alternativas são apontadas pela comunidade para tentar frear o índice de acidentes e mortes no local a exemplo de obstáculos físicos no centro da via, rotatória ou até mesmo um alargamento de pista. Porém só um estudo técnico realizado pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) é que pode apontar as principais alternativas para reduzir os acidentes.
Acidentes preocupam: Um grande número de pessoas acompanhou a remoção do corpo que estava sob o caminhão. Uma mulher que não quis se identificar revelou que os acidentes no local são constantes devido ao grande número de caminhões que acessam as duas empresas situadas às margens da ERS, o que vem ocorrendo há aproximadamente dois anos. “Temos que fazer alguma coisa. Precisamos cobrar soluções das autoridades, antes que mais vidas sejam ceifadas. Quantas vidas são necessárias?”, questiona.
Nas redes sociais não foi diferente. Na página no Facebook do AT, mais de uma centena de pessoas debateram, apontaram soluções e cobram atitude das autoridades com objetivo de reduzir o número de acidentes.
Falta de recursos inviabiliza obras: A presidente do Codevat, Cintia Agostini, salienta que o Conselho com outras entidades representativas, a exemplo da Amvat e CIC VT vêm trabalhando em uma ação contínua em prol da ERS 130. As conversações que iniciaram há alguns anos com a Empresa Gaúcha de Rodovias têm como objetivo apresentar alternativas para a rodovia que viu o fluxo de veículos aumentar consideravelmente nos últimos anos. Lembra que um estudo apontou o fluxo diário de 26 mil veículos, no trecho entre Lajeado e Arroio do Meio, número além do recomendado para a duplicação que é de apenas nove mil veículos por dia.
Contudo, a duplicação não está nos planos da EGR, segundo Cíntia. Existe a possibilidade de alargamento da rodovia em alguns trechos pontuais. O motivo é a falta de recursos do órgão que está em renegociação da dívida oriunda do Estado com o governo federal. Ela declara ainda que os recursos para as melhorias na rodovia devem ser oriundos da respectiva praça de pedágio com jurisdição sobre a via, e por isso, são feitos somente pequenos reparos. “A EGR não tem recursos. Nem mesmo capacidade de endividamento, o que torna difícil a realização de obras”, complementa.
Cintia informa que uma reunião para tratar assuntos referentes à ERS 130 está marcada para o próximo dia 03, em Porto Alegre, entre a EGR, Secretaria Estadual dos Transportes, CIC VT e Amvat. No encontro as entidades representativas do Vale do Taquari entregarão um documento com as principais demandas da rodovia às autoridades estaduais.
Fiscalização será intensificada : O Comandante do Pelotão Rodoviário da Brigada Militar (BM) de Encantado, sargento Paulo Renato Bernardi, cita que um estudo técnico sobre o índice de acidentalidade no perímetro urbano de Arroio do Meio, que tem velocidade máxima de 60 km/h foi finalizado e enviado ao Segundo Batalhão Rodoviário que em breve deve autorizar a fiscalização no trecho urbano. Segundo ele, o número de acidentes no trecho compreendido entre os quilômetros 76 e 80 da rodovia – entre o Meneghini Veículos e a Central Sul – é grande e por isso há necessidade de fiscalização mais intensa por parte da corporação. “O estudo apontou o alto índice de acidentes nesse trecho e isso nos preocupa muito”, observa Bernardi.
OfÍcio é enviado a EGR: Um ofício assinado pelo prefeito Klaus Werner Schnack e representantes das empresas Bremil, Neugebauer, Vale Log e BRF foi enviado à Empresa Gaúcha de Rodovias, solicitando uma reunião com o órgão em Arroio do Meio. O intuito é viabilizar um estudo técnico do trecho da rodovia que compreende os quilômetros 76 e 77, considerados mais perigosos, no sentido de apontar alternativas para a redução do número de acidentes. A reunião realizada na quarta-feira pela manhã estava agendada desde a semana passada e ocorreu no gabinete do prefeito.
Cientes que a duplicação não sairá do papel, integrantes das empresas apontaram alternativas temporárias que a curto prazo podem trazer resultados positivos. Representantes da BRF apontaram a implantação de quebra-molas no trecho o que poderia reduzir a velocidade de veículos e consequentemente risco de acidentes. Da mesma opinião compartilha o presidente da Cooperativa de Transportes Vale Log, que enfatizou que medidas urgentes precisam ser adotadas. Nesse sentido sugeriu o trancamento da rodovia por 15 minutos durante uma semana para chamar a atenção das autoridades responsáveis.
Representantes da Neugbauer, empresa que possui 400 funcionários, apontam o trânsito como principal preocupação da empresa, estatísticas que entram como acidente de trabalho. “É preciso que esse estudo seja viabilizado para então realizar as demandas necessárias. Precisamos saber que medidas podem ser adotadas e o custo para então decidir quem deve arcar com os custos, seja a concessionária, Administração Municipal ou iniciativa privada. Se os custos forem baixos, podem ser arcados com a iniciativa privada”, enfatizou o representante.
Como forma de pressão, Schnack sugeriu que as empresas disponibilizem o e-mail do setor técnico da EGR para que os funcionários possam enviar e-mails pessoais, o que pode dar resultado positivo. “Esses e-mails ficam registrados, e à medida que chegam mais correspondências eletrônicas aumenta as chances de sermos atendidos”, observa.
TRANSFERÊNCIA: Muitas pessoas, incluindo vereadores, também já vinham alertando para o perigo da transferência das carretas e bitrens do Estacionamento Municipal no bairro Aimoré para o estacionamento da Vale Log, conforme resolvido após Termo de Ajuste de Conduta (TAC) do Ministério Público, cobrando mudanças no trânsito na rua Presidente Vargas, após ação popular. Para muitas pessoas só houve a transferência do caos de lugar, só que na ERS-130 o risco de acidentes é muito maior.