A mobilização, paralisação ou greve, da categoria dos transportadores de carga, iniciada nesta semana, apesar de muitas e prováveis consequências e grande desconforto, está tendo um apoio popular expressivo. No início do movimento dos caminhoneiros, a classe conclamava inclusive todos os “consumidores” de combustíveis a se aliarem à manifestação, “porque a exploração acontece de forma generalizada”, diziam.
A Petrobrás, que está sob as ordens do governo central, adotou uma política de reajustes dos combustíveis, vinculada a vários fatores, até mesmo à variação do dólar, que vem alterando praticamente todos os dias. Este fato explica, por exemplo, que nos primeiros 21 dias deste mês de maio, a gasolina teve aumentos acumulados, chegando a 16,07%, enquanto o diesel aumentou um pouco menos, ficando em 12,3%.
Para entendermos os altos preços dos combustíveis precisamos observar alguns detalhes: os valores praticados nas refinarias são, aproximadamente, a gasolina R$ 2,043 o litro e o diesel R$ 2,33. E com que valor esses produtos chegam ao consumidor? E por que isso? A ganância tributária do governo! Pois vejam que a gasolina “encarece” em mais de 100% para o consumidor e o diesel, que tem uma carga de impostos menores, em torno de 70%.
Pelo que a recente história brasileira nos mostrou, essa elevada carga tributária fez com que a Petrobrás tivesse uma arrecadação inestimável, tornando-se a vilã dos escândalos de corrupção e de desvios de dinheiro de parte de gestores da empresa e de políticos de suas relações. Portanto, todos os brasileiros foram (e são), de alguma forma, lesados e prejudicados pela política equivocada no uso indevido de uma riqueza nacional.
Dentro deste contexto, “fica muito difícil, e quase insustentável, produzir e trabalhar” quando se tem uma política de preços desta ordem. Então não são apenas os caminhoneiros que protestam, mas também os produtores rurais, a exemplo da manifestação de terça-feira, em Arroio do Meio, diretamente atingidos pelos impactos dos frequentes reajustes dos preços dos insumos e em contrapartida a queda na valorização de seus produtos e quando aumentam não recuperam as perdas verificadas, principalmente durante o ano de 2017 e nos primeiros meses deste ano em curso.
Bom, a persistir a mobilização dos caminhoneiros por mais alguns dias, deveremos ter uma situação caótica e de colapso em muitos setores, com o não abastecimento, desde gêneros alimentícios, insumos e no setor da agropecuária, a impossibilidade de entrega da produção, no caso do leite, frangos e suínos.
Que repercussão poderia ter uma diminuição de 2,08% na gasolina e 1,54% no diesel, conforme o governo propõe? Essa proposta, sequer deveria ser analisada pelos manifestantes. Se não houver uma mexida na política fiscal e tributária, qualquer outra solução tende a ser meramente paliativa, ou seja, não resolverá o problema, somente adiará uma decisão satisfatória.
Encaixa-se nesta mesma linha de reflexões e de raciocínio, a atual situação da atividade de produção de leite. Há a publicidade afirmando que o leite terá um reajuste, no seu preço, neste mês de maio, cujo pagamento será no início de junho. O “aumento” deve ser de 1,25%, que, somado aos percentuais dos outros meses deste ano, perfaz um total de 15,72%. Se compararmos essa evolução com o crescimento dos preços dos principais insumos, como combustível, energia, medicamentos, rações, farelo, dentre outros, novamente o produtor ficará devendo, acumulando novos e maiores prejuízos.
Outrossim, há informações dando conta de que as importações de leite no mês de abril foram mais uma vez maiores do que no mês de março, mesmo que tenha sido menor em comparação ao igual período de 2017. No entanto, o que chama atenção é a diminuição no preço do produto trazido de fora. Este fato representa, na verdade, um duplo prejuízo para os produtores nacionais, uma por forçar, para baixo, a cotação interna e a concorrência com o produto brasileiro.
De fato, fica cada vez mais difícil produzir e trabalhar.