No interior os principais desafios estão sendo o desabastecimento de ração e insumos, e os atrasos na coleta de leite. A paralisação deve afetar praticamente todos os estabelecimentos. De acordo com o secretário da Agricultura de Arroio do Meio, Eloir Lohmann, as cooperativas de laticínios se revezaram na coleta, cada uma pegando o leite de seu concorrente em suas áreas de atuação, evitando passar pelos bloqueios. A Dália inicialmente destinou a coleta à fábrica de leite em pó, mas em decorrência da falta de lenha, interrompeu parte da industrialização. Já as laticínios integradoras sugeriram o aumento da estocagem nos resfriadores dos produtores e para retardar a coleta de leite, para cada dois dias.
Na avicultura e suinocultura integrada, a ração foi racionada, e em algumas situações o trato diminuído para menos da metade, levando até a morte ou provocando descartes, para reequilíbrio dos ciclos. Os prejuízos são imediatos, de médio e longo prazo, pois o trato só será reestabelecido após a reposição dos estoques nas fábricas e normalização do abastecimento. “Os cidadãos percebem que a situação não é boa. Todos os trabalhadores estão sobrecarregados com impostos que em grande parte são desviados de sua finalidade para corrupção. Isso é agravado quando se tem notícias que fora do país os combustíveis produzidos aqui estão mais baratos”, dimensiona Lohmann.
Também houve o descarte de ovos férteis e pintos recém-nascidos.
Busca de equilíbrio emocional
O bovinocultor de leite, Valmir Gabriel, 54 anos, de Dona Rita, estava desde quarta-feira, dia 23, sem receber o recolhimento de leite em sua propriedade. Perdeu aproximadamente 1,2 mil litros, que foram doados para vizinhos ou direcionados a soro, para trato de suínos para o consumo próprio. “É o meu ganha pão. O leite, que já estava com uma cotação ruim, é importante para pagar meu custo de produção e estrutural. Sorte que eu recebi ração antes da greve e tenho muita grama verde, o que não vai afetar a lactação deste ciclo”, comenta. Gabriel ressalva que o momento exige um equilíbrio emocional, lembrando que o contexto dos prejuízos é coletivo.
Lotes comprometidos
O suinocultor independente e empresário Vilson Horn, 56 anos, tem estabelecimento em Linha 32. Relata que a ração especial para suas matrizes e maternidade de leitões acabou na terça-feira, dia 29. Para suprir as necessidades do lote, adquiriu milho quebrado e farelo, porém, ressalva que este trato não tem os nutrientes e o equilíbrio nutricional adequado para lactação e adaptação dos leitões ao próximo ciclo. Na terça-feira já havia situações de diarreia, possibilidade de descartes de leitões e risco de abortos.
A gestação leva em torno de 3 meses e 15 dias, e a fase de maternidade 21 dias. “É um lote que terá mais refugos e terá o desenvolvimento atrasado, elevando o custo de produção. Um prejuízo amargado após anos de espera por melhoras no setor. Não há como parar. A planta de produção é cara e só vale em funcionamento, não tem liquidez de venda”.
Inflação é inevitável
Enquanto varejista, Horn explica que os hortifrutigranjeiros vão encarecer o rancho. “Qualquer decisão que tomarmos em repor ou esperar, vai ser criticada. No momento há mais procura que oferta na Ceasa. A inflação é natural e os valores vão diminuir lentamente”, argumenta. O empresário também criticou o abismo do que a legislação cobra e a realidade prática, e a disparidade em âmbito nacional em termos de cultura de consumo. “Somos proibidos de revender aipim descascado e torresmo dos nossos produtores. É preciso comprar embalado a vácuo, o que encarece o preço final. No Nordeste a preferência é pela carne de sol e há preconceito pela refrigerada”, compara.