Ainda jovem o arroio-meense Sidnei Eckert se deu conta de que é no campo político que as decisões que impactam na vida das pessoas são tomadas. Quando tinha 27 anos candidatou-se a vereador e foi eleito. Hoje, aos 52 anos de idade, traz na bagagem uma vasta experiência na política e no comércio. O “alemão da farmácia” como também é conhecido, foi vereador por três mandatos e prefeito de Arroio do Meio de 2009 a 2016. Neste ano deve voltar a disputar um cargo político. É pré-candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa pelo MDB. Em entrevista, Sidnei fala sobre a política, o Vale do Taquari e sua caminhada enquanto pré-candidato. Confira:
O ALTO TAQUARI – Sendo a política hoje um campo tão desprestigiado, o que o move a ser pré-candidato? Como o senhor pode fazer a diferença?
SIDNEI ECKERT – A política está desprestigiada hoje, neste momento, mas se olharmos a história a política sempre teve muitos momentos conturbados. Não é só aqui no Brasil, mas isso se percebe no mundo todo. Mas, ao mesmo tempo, tudo se resolve no campo político. É a única esfera onde são tomadas as decisões em todas as áreas. Então o que me move a ser pré-candidato é gostar da vida pública, gostar de pessoas, ter a consciência que é através da política que se modifica a vida das pessoas. No meu caso, sempre procurei fazer a política do bem e algo importante que eu tenho é o hábito de ouvir as pessoas. A nossa região, nosso munícipe, reclama muito que não é ouvido para a tomada de decisões políticas em âmbito de Estado. Acho que posso ser esse caminho, de ouvir as pessoas aqui do município e da região, para levar os nossos anseios, nos sos sonhos para a Assembleia Legislativa, para o Palácio Piratini na busca de soluções de problemas que a gente tem aqui no Vale do Taquari.
AT – Como a sua experiência na vida pública, com três mandatos de vereador e mais dois de prefeito, pode contribuir num possível mandato na Assembleia?
SIDNEI – A contribuição da experiência legislativa, como vereador é importante porque ali é o campo do debate, que a gente vai voltar caso eleito. A Assembleia Legislativa é o campo de debate de ideias da sociedade. A experiência no Executivo acho que é muito importante porque se nós queremos uma sociedade melhor, nós precisamos cuidar dos gastos públicos. Fazer esse debate de diminuir os gastos públicos começando pela esfera política. A partir do momento que você começa a poupar recursos, economizar recursos na máquina pública, você começa a ter mais recursos para investir a favor das pessoas. E temos que discutir alternativas com criatividade, ouvindo a comunidade, as pessoas, sendo essa porta de ouvidos do Vale e dos municípios para levar ao grande debate.
AT – Neste momento boa parte dos eleitores rejeita as campanhas políticas partidárias e os pré-candidatos. Como o senhor pretende superar esta dificuldade?
SIDNEI – É bastante natural isso. Estamos a quatro meses da eleição, num período onde a comunidade está muito mais próxima do que ela ouve e vê na mídia sobre a parte negativa da política, e por isso mesmo ela procura estar afastada disso. Mas quando chegar o momento mais próximo da eleição, as pessoas começam a definir o seu voto, as pessoas começam a pensar em quais os candidatos que podem contribuir para mudar sua vida. Afinal de contas o voto é uma forma de expectativa, uma forma de esperança. Como a gente pretende fazer isso? Dando continuidade a esse trabalho de visita aos municípios, de visita às lideranças, às pessoas, de ouvir, conversar, trocar ideias para estimular as boas parcerias e assim fazer com que estas consigam também reverter em apoio para o período eleitoral.
AT – Sabe-se que uma das dificuldades da campanha eleitoral são os custos. Como o senhor pretende custear a sua? Terá auxílio do Fundo Partidário?
SIDNEI – As minhas campanhas políticas, todas elas, foram baseadas em recursos e gastos muito pequenos, porque eu nunca tive dinheiro para gastar em campanha política. Da mesma forma agora, neste período que a gente vem fazendo, vem com as economias que a gente fez. O gasto hoje, neste período de pré-campanha que a gente está fazendo as andanças pela região e fora da região, está sendo o carro e o combustível. A gente procura sempre economizar, muitas vezes vai de carona, de parceria, procura alguma forma de fazer esta caminhada. Quanto ao Fundo Partidário, até hoje nunca recebi, nunca vi nas campanhas recursos de Fundo Partidário, ou receber dinheiro do partido. Não tenho muitas esperanças de que isso venha acontecer. Até pela conversa que se escuta pela mídia, esse dinheiro vai acabar ficando com os candidatos a deputado federal que já estão no pleito, que já são os eleitos.
AT – Diante de uma ansiedade pelo novo e, ao mesmo tempo, uma legislação que beneficia os que já estão no poder, como a sua pré-candidatura se situa enquanto opção viável política e eleitoralmente?
SIDNEI – Na eleição passada de prefeito já aconteceu um número muito grande de votos brancos e nulos. E a expectativa para esta eleição, por esse descrédito da política, é de que novamente a gente tenha a intenção das pessoas não votarem para ninguém. Então é nesse campo que a gente está procurando se situar. Hoje, se você fizer uma pesquisa, em torno de 50% das pessoas não tem ideia de votar a deputado. E é nesse campo que a gente está procurando se situar, como um nome novo, pela experiência legislativa e administrativa que se tem e pela própria conduta de vida, de credibilidade desses anos todos, onde se procurou manter a simplicidade, a humildade, ser a mesma pessoa, estar em contato com as pessoas. É nesse campo que a gente vai procurar se situar.
AT – Fala-se há muitos anos em candidato do Vale e a região não se une. O que a sua pré-candidatura traz de proposta regional, que poderá fazer o Vale do Taquari se unir?
SIDNEI – O que tem acontecido nos últimos anos é dos pré-candidatos ou os candidatos surgirem num período muito próximo das eleições. Eu venho fazendo esse trabalho de diálogo com a região do Vale do Taquari desde o dia 2 de janeiro de 2017. Hoje já foi possível visitar todos os municípios do Vale do Taquari muitos por três, quatro, cinco vezes. A unidade de uma região, e mesmo uma família, só para citar um exemplo pequeno, só acontece através do diálogo. E é esse mesmo diálogo que a gente está fazendo em todo o Vale do Taquari e fora do Vale do Taquari também, afim de conseguir a unidade da região no período eleitoral.
AT – Qual sua análise política, econômica e social do Vale do Taquari? Quais são as dificuldades e as potencialidades?
SIDNEI – A região vem num desenvolvimento muito positivo, os números demonstram, mesmo comparando com outras regiões. Mas, como já foi dito, as grandes decisões são tomadas na esfera política. O que falta para nós do Vale do Taquari hoje é ter uma voz mais forte, uma voz mais ativa no campo político, que seja na Assembleia Legislativa, seja próximo ao Palácio Piratini, para levar nossas reivindicações e estarmos próximos a onde acontecem as grandes decisões para também alavancar projetos e recursos para a região. Quando se buscam recursos, leva as ansiedades, também se começa a resolver as questões sociais. Gosto sempre de falar de potencialidades. Acho que nós, o homem público, o homem político, temos de trazer e buscar soluções, não ficar se lamentando, chorando que não deu certo, por isso ou por aquilo. Vejo que as soluções se buscam através do diálogo, de ouvir a comunidade, de criatividade, de visitar outros lugares e buscar desta forma novas alternativas para uma região que é tão rica em pessoas e em potencialidades da própria natureza, da sua indústria, do seu comércio, da sua agricultura. O Vale do Taquari é uma região muito forte. O que precisamos é buscar com criatividade novas alternativas para fortalecer ainda mais.
AT – Como o Sidnei, se eleito deputado, pode fazer a diferença para o Vale do Taquari na questão da produção de alimentos, nossa maior fonte de empregos e renda?
SIDNEI – De novo, na questão da representatividade. Nosso Estado é formado por regiões amplamente diferentes uma da outra. E na nossa região, enquanto produtora de leite, suínos e frangos, precisamos junto com as entidades do Vale do Taquari, nossa universidade, o Codevat, buscar novas alternativas para que aquilo que é produzido aqui possa ter um valor agregado maior. E, ao mesmo tempo, precisamos buscar com criatividade alternativas na área ambiental. Precisamos buscar novas soluções porque quando se conversa com os nossos produtores rurais, uma das grandes preocupações é a questão ambiental, principalmente com os suínos, no que diz respeito ao destino dos dejetos. Precisamos buscar novas alternativas para que a nossa região possa continuar com sua produção de suínos. Na questão do leite, se percebe que existem movimentos na região em momentos de crise, mas não existe um trabalho permanente de atenção com essas questões como importação/exportação de leite. Não existe uma força política regional que cuide desses interesses permanentemente. Tem que ser uma pauta permanente. Desta forma sim se consegue fazer com que o Vale do Taquari continue sendo um forte produtor de alimentos, buscando novas alternativas, buscando novas soluções para continuar essa produção. E, ao mesmo tempo, como temos uma paisagem, uma região toda muito bonita, essa própria questão do desenvolvimento do turismo rural também tem que ser cada vez mais uma fonte de renda para esse nosso Vale dos Alimentos. Que as pessoas de outras regiões, outros estados venham aqui para a nossa região adquirir os nossos produtos pela sua qualidade e pela beleza do Vale.
AT – Em que os partidos políticos podem atrapalhar ou facilitar nas candidaturas?
SIDNEI – Acho que é um assunto que não vai se resolver na Assembleia Legislativa, mas é uma necessidade que o país tem de uma ampla reforma política. Não vejo outra alternativa a não ser o próximo presidente da República, que tenha legitimidade de mandato, convocar uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva para reformar alguns pontos da Constituição de 1988. E um desses pontos principais é a reforma política. Este grande número de partidos. Na verdade, tudo isso que se vê de corrupção em âmbito de país, as coisas que acontecem, é para atender aos anseios dos mais diversos partidos. No meu entender, no campo político existe uma ideia de direita, de esquerda e de centro e isso acontece nos principais países do mundo. E aqui temos 50 tipos de ideias diferentes. Então isso não tem como dar certo. Isto alavanca a questão da desorganização política do país que faz nos faltar, muitas vezes, o planejamento e a organização administrativa.
AT – O governo liderado pelo PMDB-PT foi eleito para quatro mandatos presidenciais. Depois do impeachment de Dilma, o presidente Michel Temer anunciou um projeto que prometia uma ponte para o futuro. Contudo, hoje o presidente Temer possui uma rejeição muito grande. Como o senhor avalia esse cenário?
SIDNEI – Tivemos dois presidentes nesse processo da volta da democracia, dos anos 1980 para cá. Eles tinham a legitimidade, pelo voto do povo brasileiro, de fazer as grandes reformas estruturais do país – política, tributária, da previdência e trabalhista – e nenhum dos dois, apesar de fazerem bons governos, fizeram as mudanças estruturais necessárias no país. E a partir disso se elege o governo Dilma e Temer que já não tem essa mesma confiança do povo brasileiro que os outros dois tinham e não fizeram no primeiro mandato, as reformas econômicas necessárias para o país. Não enxergaram que se continuavam a administrar da forma como estavam administrando teríamos problemas. Não perceberam que estava chegando uma grande crise. Os números, desde 2011, principalmente na indústria, já indicavam a crise se aproximando. No meu entender a queda da presidente Dilma se deu em função do país estar em crise por fatores econômicos e a solução mágica era trocar o presidente e tudo estaria resolvido. Aí assume o vice-presidente com menos legitimidade ainda do que o governo que tinha assumido em 2015 e que não teve força para fazer qualquer tipo de reforma ou ajustes necessários porque também já vem muito enfraquecido por denúncias e fatos que vem acontecendo no campo da corrupção nos últimos anos no país.