Com a permissão dos habituais leitores, mudo um pouco o foco da abordagem desta edição. E isto vem a propósito de um evento que começamos a viver mais intensamente e que, na verdade, envolve a todos nós de alguma forma.
Agora que a Copa do Mundo de futebol já é fato do passado, todas as atenções da imprensa e até dos debates em rodas de conversas, se voltam para o período das eleições que culminará no dia sete de outubro.
Logo mais a campanha oficial será liberada, mesmo que a movimentação dos partidos e pré-candidatos já tenha iniciado há bastante tempo.
As manifestações dos eleitores são praticamente unânimes no sentido de demonstrar o desejo de mudar a imagem do Brasil, tornando o nosso país uma terra sem corrupção.
Poderia esse desejo tornar-se realidade? – Possivelmente no modelo e no sistema atual, as chances de mudanças são muito reduzidas, por culpa de um conjunto de situações, promovidas tanto pelos partidos políticos, pelos políticos e também os eleitores.
Por que os partidos? – Ora, os partidos políticos recebem, neste ano, os recursos do Fundo Partidário destinado às campanhas. E não é pouco dinheiro! E infelizmente esse recurso fica sob a responsabilidade da direção nacional das agremiações. E o poder, ou os critérios de distribuição dos recursos do Fundo são definidos a partir de vontades e disposições de poucos líderes.
Segundo informações, os maiores beneficiados com o dinheiro do Fundo Partidário deverão ser os deputados federais, mas considerando um detalhe: quem votou a favor do governo, em algumas situações, deve receber parcelas bem mais significativas. Os que têm sido contrários aos interesses governistas, terão que se contentar com valores mais módicos.
Portanto, os partidos, de uma forma geral, são causadores ou coniventes com ações condenáveis, indecentes, ao utilizarem um recurso público de forma preconceituosa, privilegiando uns e prejudicando outros.
Há outro fator a ser comentado. As emendas parlamentares. Observem que tem deputado distribuindo neste ano expressivos valores em suas regiões eleitorais. Os mais próximos do poder festejam e comemoram liberações de emendas. Outros, mesmo tendo o direito de valores pré-estabelecidos, idênticos aos demais parlamentares, muitas vezes têm que se contentar com argumentos de contingenciamentos ou outras explicações para não atender os projetos encaminhados.
Repito, esse modelo de fazer as campanhas eleitorais não mudará tão cedo. Enquanto existir a prática de destinar as ditas emendas parlamentares, enquanto houver o Fundo Partidário, distribuindo recursos públicos, haverá o eleitor sendo “atraído” em troca de favores. Portanto, o sistema eleitoral é protagonista de um processo de corrupção, junto com outros agentes causadores.
Amplio ainda mais esta breve reflexão, falando rapidamente da manifestada intenção de eleitores anularem o seu voto, embora tenham motivos de sobra para essa atitude. Quem seria beneficiado com a omissão do eleitor, ao anular o seu voto? – Tão somente os piores candidatos. Com menos eleitores votando, menor será o número de votos necessários para os “indesejáveis” se elegerem.