Dirce Weizenmann, 46 anos, toca a propriedade de 24 hectares em Arroio Grande, com eficiência e organização. Casada com o caminhoneiro Alexandre Müller, o Pigas, é ela que tem a responsabilidade sobre a gestão e serviços, com apoio do filho Eduardo Alan, 17 anos. O outro filho, Daniel, 14 anos, prefere o computador.
Ex-funcionária da Draumer Calçados, projetou sua saída da empresa quando o médico a orientou buscar outro ofício em decorrência de um problema de saúde na perna, para não ficar em pé mais de oito horas por dia. Na época, ela e o marido compraram a propriedade de Benno Arno Schmidt, no morro Tico-Tico. Ali, durante sete anos, Dirce, – apesar de ter ajudado os pais na infância em Linha Pitsch, Forqueta – teve que se virar na marra de forma solitária na propriedade, sem muita tecnologia e acesso a telecomunicações.
O retorno para a parte baixa do Vale do Arroio Grande também foi programado e acordado com os sogros Irineu e Gladis, falecida recentemente. Como já possuíam estrutura na bovinocultura, ela comprou o plantel remanescente dos sogros e acrescentou as vacas que possuía.
Atualmente possui 23 vacas, sendo 15 em lactação. A média de produção mensal é de 250 litros. “Não dá pra se queixar. Pelo menos metade é lucro. Apenas alguns períodos são mais conturbados, quando o leite fica desvalorizado e a ração aumenta. Mas a renda é bem melhor que numa fábrica e tenho mais liberdade, apesar do compromisso de fim de semana. Durante a semana ainda sobra tempo para cozinhar pratos diferentes a cada dia, cuidar da casa, jardim e horta, e estar presente dos meus filhos. Não precisei levá-los à creche. Os resultados vêm de uma série de esforços e metas que mesmo se estabelece. Meu marido acha que entende de agricultura, mas não faz nem ideia”.
Dirce comemora a chegada das últimas prestações do pagamento do trator e se orgulha dos implementos já adquiridos. “Possuímos todos os equipamentos que precisamos. Conseguimos levar o trabalho numa boa. A exceção fica por conta da preparação da lavoura para o cultivo de silagem e a colheita, que são períodos mais trabalhosos”, observa.
Apesar de dirigir trator, Dirce não vê necessidade em possuir CNH pois o marido e o sogro sempre estão disponíveis para deslocamentos, quando necessários. Outro fator interessante é a convivência de quase 21 anos com os sogros na mesma casa. “Invés de construírmos uma casinha pequena, optamos por construir uma mais ampla para todos nós. Afinal, somos da mesma família. Sempre tivemos um bom convívio, com respeito, diálogo e discussão de opiniões. Pequenas divergências são normais”, revela.
Dirce tem orgulho em ser mulher rural, e não se arrepende em ter deixado de trabalhar na fábrica. Ela tem ciência dos altos e baixos do agronegócio e da diminuição da margem com o passar dos anos, mas pretende continuar na agricultura enquanto a saúde permitir. Já os filhos poderão fazer as suas escolhas.