“Tenho o melhor melado do RS”, define o extrovertido empresário aposentado, Hilário Halmenschlager, de 69 anos, que há 15 anos reside com sua esposa Claci na Barra do Forqueta. Ele consolidou carreira e negócios no segmento de mármores e granitos em Bela Vista, desde 1964. “Agora atuo apenas como estepe na marmoraria dirigida por minhas filhas Juliane e Cíntia e meu genro Carlos”, brinca.
Em sua chácara de 2,5 hectares, extremamente bem ocupada, é possível encontrar de tudo. Há uma diversidade de espécies frutíferas nativas e algumas exóticas, pois gosta de ter os passarinhos bem perto e livres. Há goiabas, jabuticabas, noz pecã, noz macatã, olivas, gabirova, guabiju, cereja, sete capotes, araçá, loro, pitanga, butiá, marmelo, araticum, bananas, carambolas, limões, bergamotas, laranjas, muitas hortaliças, temperos e chás, as variedades tradicionais e iguarias que não estão presentes na feiras e supermercados, e em Arroio do Meio, possivelmente só existam em sua propriedade.
O carro-chefe da nova ocupação é o cultivo de cana-de-açúcar para produção de melado. A estrutura que conta com máquina de moenda, tambor de decantação, tacho de cozimento, guincho e tacho de batimento, foi projetada por seu genro Carlos Kunrath, para minimizar o esforço e ganhar eficiência no processo de produção. Porém, o diferencial não está só no equipamento, e sim num curso de boas práticas de fabricação, que observam: o ponto da cana – preferencialmente com mais de três metros – a forma como deve ser cortada, higienizada e moída, o grau de açúcar natural, a decantação, a temperatura, o período de cozimento e o tempo de processamento. “A maioria dos agricultores não tem tempo para seguir criteriosamente todas as etapas, porém, nós levamos isso como um ritual”, observa.
O melado é produzido de duas a três vezes por mês. Em média em cada oportunidade 220 litros de garapa resultam entre 45 e 55 kg de melado. Outro destaque vai para as diferentes variedades de cana-de-açúcar. São mais de 30. Cada canteiro do canavial faz referência a um Estado ou região do país que Hilário visitou durante viagens, sempre trazendo um exemplar para o replantio em Arroio do Meio. Há cana de Caldas Novas (GO), de Natal (RN), de Fortaleza, Recife, Maceió, Bahia, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grasso, também de Linha Orlando em Marques de Souza, Forquetinha e Nova Bréscia, as desenvolvidas pela Afubra e a secular cana de mula. Hilário evidencia a resistência e sabor adocicado de algumas variedades.
Para se deslocar ao canavial, usa uma carreta agrícola construída a partir do chassi de um fusca 1974, boas foices, facões e serrotes. Os resíduos da cana são direcionados à compostagem no galinheiro e no chiqueiro, que também recebe frutas e verduras. “Evita a erosão e facilita o manejo. As batatas, por exemplo, não ficam tão firmes no solo”, explica.
Uma solução que tem o agradado é preparar os canteiros em forma de lasanha. Começando pelas cinzas que sobraram da lenha, que fazem as vezes do calcário; adicionando esterco; um adubo orgânico simples, que possua um pouco de nitrogênio e ureia na fórmula e, por fim, compostagem e bagaço. “É uma tendência. Em Brasília estão fazendo lasanhas dentro das malas com roupas e maços de dinheiro”, ironiza.
Um detalhe importante para o desenvolvimento dos frutos é a polinização feita com abelhas nativas sem ferrão. São aproximadamente 30 caixas de mirins das espécies tupuna, mandaçaia e jataí.
A principal finalidade de Hilário é a ocupação, já que não possui pretensões mercadológicas. “Penso muito antes de agir. Talvez isso falte na agricultura como um todo, para não haver tanto desgaste e prejuízos”, avalia. O melado geralmente só comercializa para clientes mais antigos. No entanto, a propriedade está aberta para a visitação dos conhecidos, que podem conhecer o que produz e levar alguns exemplares. A unidade de cotação das vendas é estipulada por missas a serem terceirizadas. “Assim não preciso frequentar tanto a igreja”.
Hilário e Claci também adoram receber a visita de seus netos Caio e Theo, que na chácara têm a oportunidade de extravasar, gastar as energias e brincar com liberdade.