Aposentados há cerca de 25 anos, o casal Celomar e Isabel Sauthier Schneiders, ambos com 75 anos, do Centro de Arroio do Meio, ainda lembram com nostalgia a carreira de professor. Celomar, assim como outros irmãos, seguiram a profissão do pai Alvino, pela vocação e por necessidade de trabalhar. Nos anos de 1940 a 1964, Alvino foi convidado pelo então vigário Monsenhor Seger, a assumir a Escola Maurício Cardoso, local onde hoje está situada a Escola São Caetano. Na época o professor era bancado pelas famílias da comunidade e residia no prédio do educandário. Como Alvino veio a falecer, em decorrência de problemas pulmonares, os filhos seguiram a vocação do pai, que também foi seu primeiro professor.
Celomar já exercia a função de educador, formado em Magistério pelo Instituto Estrela da Manhã em 1962. Antes disso, assim como outros jovens que queriam continuar estudando, cursou o Ensino Médio no Seminário Sagrado Coração de Jesus. Profissionalmente vinha atuando enquanto professor cedido do Estado, no seminário da Estância de Mariante, em Venâncio Aires, e já havia atuado em Pinhal Queimado, em Arvorezinha. Assumiu a Escola Maurício Cardoso de São Caetano, com muito gosto. Assim como o pai, foi professor de cinco turmas numa mesma sala, desde a alfabetização até o 5º ano. “Era um professor para cerca de 90 crianças e adolescentes, numa só sala. Era preciso ensinar Matemática, Português, Estudos Sociais, Ciências, Religião, Música e Educação Física. Quando o tempo estava ensolarado aproveitávamos para recuperar as aulas de Educação Física, aumentando o tempo do intervalo. Mas durante as aulas, mesmo com a sala cheia, o silêncio predominava. Para manter a disciplina, medidas mais enérgicas eram necessárias e os pais faziam questão deste rigor. Todos os sábados eram dedicados à hora cívica. Lembro do protagonismo do trio Pipizé”, detalha.
Já Isabel, natural de Carlos Barbosa, era interna do Colégio São Miguel (CSM), atual Colégio Bom Jesus. Também foi muito estimulada pelo pai de origem franco-suíça, que não dispensava leituras de jornais e livros, e por meio da aproximação com religiosos garantiu professores para educar as crianças da comunidade de Santa Luísa, que fica na divisa com São Vendelino do Sul.
De interna, Isabel passou a ser professora do CSM, após se formar no Magistério. Entre 1961 e 1969 foi professora de Português e Literatura, dando aula para muitos filhos de famílias tradicionais do município e microrregião. Mas acabou comunicando ao pai que desistira da vocação religiosa, e queria dedicar-se à faculdade de Letras (Português/Francês), que iniciou na Universidade de Caxias do Sul. Lecionou na La Salle, também na Serra Gaúcha. “Na época a formação não era voltada para o vestibular. Os pais queriam filhos com disciplina, respeito, raciocínio lógico e conhecimento. Não havia espaço para o bullying”, comenta.
Celomar já conhecia Isabel dos eventos culturais, religiosos e comunitários, a achava atraente e interessante, mas nunca havia ousado algo mais pelo respeito às instituições e vocações. “Aqui não fiz nada, mas fui buscá-la em Caxias do Sul”, revela.
Os dois iniciaram o relacionamento em 1970 e se casaram em 1971. Ela chegou a dar aula na Escola Maurício Cardoso, mas logo foi contratada pelo Estado para lecionar no Ensino Médio no Colégio Castelo Branco, e Colégio Fernandes Vieira, em Lajeado. Celomar começou a dividir as funções com seus irmãos e irmãs na instituição de São Caetano, e também foi lecionar em Lajeado, em busca de mais estabilidade na carreira. Na época a mobilidade urbana era restrita a ônibus e outras estradas eram mais utilizadas.
Os filhos Fernando e Augusto nasceram em 1972 e 1975, respectivamente. Na ocasião o casal já planejava a construção de sua residência na rua Coronel Adolfo Ziemmermann, no Centro, que vieram a ocupar em junho de 1977, quando Celomar saiu da direção da Escola Maurício Cardoso. Na década seguinte a escola foi incorporada pelo município e foi liderada por outro grupo de professores: Dulce Zimmer e Lúcia Horn, com a presença de Sônia Schneiders Korb, irmã de Celomar.
Celomar também lecionou no Seminário Sagrado Coração de Jesus e, durante períodos de férias, buscou especialização em Química, vindo a atuar posteriormente no Colégio Alberto Torres e Guararapes.
Isabel, mesmo com filhos pequenos, não desistiu da graduação e cursou o último ano numa modalidade à distância com uma instituição de Bagé. “Corrigia redações, estudava para faculdade e cuidava dos filhos. Pegava carona até a Fronteira para me formar”, revela. Depois voltou a atuar no CSM e, a convite de Jussara Fröner Cé, integrou a direção do Guararapes.
Apesar dos desafios de cada período na carreira, Celomar e Isabel se sentem realizados pelas grandes amizades que construíram com seus alunos e colegas de trabalho em 30 anos de profissão. “A remuneração não é das melhores, mas está longe das piores. Se o dinheiro fosse o foco, haveria muitos profissionais frustrados. Poderíamos ter ido adiante em especializações, lecionar em universidades. Optamos pela família, apreciar a natureza e viver em harmonia com a comunidade. Nem por isso deixamos de ter uma vida digna, dar uma educação aos nossos filhos. Ser professor é muito gratificante. Repetiríamos tudo. É tão bom ser reconhecido pelos alunos. Profe é uma expressão de muito carinho”, compartilham.
Com problemas de visão desde 2014, em decorrência de uma doença degenerativa na retina, Celomar não dirige mais, o que dificulta visitar amigos, e precisa do auxílio de sua esposa para realizar telefonemas e leituras. “Na leitura matinal dos jornais aprofundamos os assuntos mediante o interesse nas manchetes. Nas festas reconheço as pessoas pela voz”, revela. Na rotina, enquanto Isabel prefere se exercitar na academia, Celomar faz suas caminhadas na Área de Lazer. Sua única queixa é quanto a qualidade de conservação das calçadas da cidade. Os dois participam dos Corais Santa Cecília e Coman.